Deyvis Barros, do Ceará (CE)

Essa categoria nunca conseguiu nada fácil, tudo que temos foi à custa de greve, de piquete e de enfrentamento. Agora vamos mostrar mais uma vez para os patrões que, com crise ou sem crise, o peão não baixa a cabeça e vai sair vitorioso“. Com essas palavras, José Batista convidava os operários e as operárias de um grande canteiro de obra para se juntarem aos outros milhares que se encontravam na Praça Portugal para votar o início da greve dos operários da construção civil de Fortaleza (CE).

Os empresários começaram a campanha salarial tentando pressionar os operários a abrirem mãos de direitos. Queriam cortar até a estabilidade dos cipeiros e das mulheres grávidas. Antecipando-se à reforma trabalhista de Temer, já começaram dizendo que, em tempos de crise, é melhor “entregar os anéis para não perder os dedos”. Mas os trabalhadores não entraram nessa conversa e foram para a luta não só contra a retirada de direitos, mas também por novas conquistas. Além de ganho real nos salários e aumento na cesta básica, os trabalhadores exigem vale combustível para aqueles que possuem transporte próprio.

A greve já começou muito forte, com paralisação total nos principais canteiros da cidade. Os operários já vinham em clima de mobilização constante, participando todos os dias de greve geral e de protestos contra Temer, o Congresso de corruptos e suas reformas. Quando a greve começou, o sentimento era de derrotar os patrões e conquistar suas reivindicações, mas também de derrubar Temer e as reformas que retiram direitos. No dia em que foi votada a reforma trabalhista, 11 de julho, os operários estavam protestando em frente à Federação das Indústrias do Ceará.

Durante a greve, todos os dias, os trabalhadores vão para as obras, onde são encontrados de manhã pelos diretores do sindicato e saem em piquetes, caminhado pelas ruas da cidade e se somando aos outros canteiros de obras que encontram pelo caminho. O destino é sempre a Praça Portugal, no coração da burguesia cearense. Lá, alimentam-se com pão e rapadura e realizam a sua assembleia para definir os próximos passos da greve.

Mulheres em luta
Uma característica importante da greve é a participação das mulheres à frente da luta. A construção civil é uma categoria formada por maioria de homens. As mulheres que trabalham em obra, além do assédio fortíssimo, ocupam os piores postos de trabalho e dificilmente conseguem ser classificadas como profissionais. Não é à toa que elas são parte da vanguarda que paralisa os canteiros e toma a frente da luta. “O patrão quer que a gente fique calada, trabalhando mais e nos priores serviços sem reclamar de nada. Mas as mulheres estão firmes e fortes na greve junto com os nossos companheiros pra conseguir a vitória“, diz Maria Ivanir, servente e diretora do sindicato.

Exemplo
A greve dos operários é um exemplo para o conjunto da classe trabalhadora. Mostra que, em tempos de crise, a solução é continuar lutando para impedir que os patrões nos façam pagar por ela. Esses operários sabem o valor de cada conquista, porque tiveram de enfrentar a polícia, o governo, a imprensa, a Justiça e toda a força dos empresários para alcançar os direitos mais básicos. Nada veio de graça e sem luta. Mais uma vez, mostram a sua força contra a intransigência dos patrões.

Movimento junto e misturado
Organização de base a serviço da luta operária

A vida dentro dos canteiros não é fácil. Os empresários abusam dos trabalhadores com sobrecarga de trabalho, assédio, água quente e comida fria e com todo tipo de arbitrariedade. Para organizar os trabalhadores dentro das obras, surgiu o Movimento Junto e Misturado. Participam do movimento trabalhadores e trabalhadoras de vários canteiros que, dentro do local de trabalho, cumprem o papel de organizar os trabalhadores, junto com o sindicato, para enfrentar os ataques dos patrões.

O patrão está organizado lá em cima, o peão também tem que se organizar aqui embaixo“, explica Raimundo, cipeiro e ativista do movimento. “O Junto e Misturado está sempre dentro das obras com os nossos companheiros de trabalho, lutando pelos nossos direitos. O nosso lugar é na greve lutando junto com o peão”, disse.

Na greve, o movimento se reúne todos os dias para avaliar como foram os piquetes e pensar os próximos passos. “O sindicato sozinho é muito pouco. A organização do peão na base é o que garante a força e o sucesso da nossa luta. Por isso, nós fazemos questão de reunir com o movimento para ouvi-los antes de tomar cada decisão importante”, concluiu Geraldo Magela, carpinteiro e diretor do sindicato.