Governo aumenta e concentra gastos de publicidade em seis estatais. Rede Globo é a maior beneficiadaSabe-se que, para escoar o dinheiro da corrupção, os governos escolhem as áreas em que a pilhagem torna-se menos perceptível, entre outros fatores pelo volume de recursos mobilizados. Sem ter como implementar obras faraônicas como o ex-prefeito e atual presidiário Paulo Maluf, o governo Lula apelou às verbas de publicidade. Foi dessa forma que o escândalo do mensalão trouxe à tona o papel cumprido pela Secom, a Secretaria de Comunicação, então chefiada por Luiz Gushiken.

O esquema dirigido pelo governo Lula aumentou e concentrou as verbas federais de publicidade. Reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo dá conta que 86% de todos os recursos do governo são destinados a apenas seis estatais. O gasto com publicidade do Banco do Brasil e Petrobras cresceu 63%, contabilizando R$ 401,7 milhões.

Quem desfruta da conta de publicidade da Petrobras é o publicitário Duda Mendonça, que recentemente confessou ter recebido R$ 10,5 milhões do PT referentes à campanha eleitoral do partido em 2002, de uma conta ilegal no exterior. Depois da confissão, o publicitário perdeu a conta da Presidência, mas manteve os contratos com a estatal do petróleo e o Ministério da Saúde. Marcos Valério, de quem Duda afirma ter recebido o pagamento das campanhas do PT, disse que trocaria todas as contas que perdeu pelas que Duda ainda possui.

Calcula-se que só o governo federal gaste algo em torno de R$ 871 milhões em publicidade. Os Correios, que nem mesmo disputam mercado com concorrentes, gastam R$ 61 milhões em propaganda. A reportagem afirma que os governos municipais, estaduais e federal gastam, juntos, cerca de R$ 3 bilhões com publicidade.

Além de servir como estrutura para manter o megaesquema de corrupção, a publicidade oficial também funciona para, literalmente, comprar a mídia em favor dos interesses do Planalto.

Esquema montado
Como revelou o depoimento de Duda, o esquema de corrupção envolvendo publicidade e recursos ilegais remontam ao período eleitoral, antes mesmo da posse. Além do pagamento da campanha eleitoral de 2002 feita em uma conta em paraíso fiscal, a Secom, então com status de ministério, foi montada em 2003 pelo governo com o claro objetivo de concentrar e organizar um enorme montante de recursos para alimentar o esquema de corrupção.

Reportagem da revista “Carta Capital”, de dezembro de 2002, dá uma idéia da lógica do PT antes mesmo de assumir o governo. O texto trata da escolha dos ministros e seus objetivos, particularmente sobre Luiz Gushiken e a Secom: “O futuro secretário também acompanhará de perto as licitações de contratos de publicidade em ministérios e autarquias. O PT, desde já, quer influir nas decisões da área, tanto que pediu ao governo que adiasse a escolha da nova agência do Banco Central, cuja decisão estava prevista para este ano”.

A capa da revista em que a reportagem foi publicada trazia os rostos de José Dirceu, Luiz Gushiken e Palocci com o seguinte título: “Os Homens Certos”.

Globo e PT: Tudo a ver!
Os recursos contabilizados mostram um enorme favorecimento de determinadas empresas. Enquanto FHC destinou, em 2002, R$ 260 milhões para publicidade oficial em veículos das Organizações Globo, o governo Lula gastou em 2004 nada menos que R$ 335 milhões para as empresas da família Marinho. Além de ter aumentado os recursos, a Globo também recebeu maior participação no repasse do governo, se comparado aos outros grupos de mídia. Enquanto o ex-presidente tucano deixou 37% das verbas publicitárias em seu último ano de mandato à empresa, Lula destinou 42,5% das receitas à Globo no ano seguinte e 38,4% em 2004.

Publicações “alternativas” não escapam
A já citada revista semanal “Carta Capital”, que vinha construindo nos últimos anos uma imagem de independência e de qualidade jornalística, é um lamentável exemplo de que a linha editorial de uma publicação pode ser ditada por anunciantes. Não é difícil perceber a influência governista, mesmo com críticas pontuais à política econômica. A razão? A revista do jornalista Mino Carta recebeu, em 2003, nada menos que R$ 2,4 milhões em publicidade estatal. Em 2004, esse valor subiu para R$ 2,9 milhões.

A cerimônia de aniversário da revista, em setembro de 2004, teve a calorosa presença de Lula e de 11 ministros. Essa aproximação se manifestou com mais força na cobertura que a revista reservou à crise política. Para a “Carta Capital”, o centro da corrupção passa longe do Planalto. Para manter essa tese, eleva figuras secundárias ao papel de protagonistas, como as diversas capas sobre o envolvimento do banqueiro Daniel Dantas. A revista relativiza a responsabilidade do governo. Na matéria “Crise de Confiança”, publicada na última semana, chega a fazer coro com Severino Cavalcanti ao afirmar que o mensalão não existe: “O mensalão caiu (…) Descartada a especulação, é possível acreditar que o governo tenha garantido votações em plenário comprando esses votos?”.

Outras publicações, que se esforçam em manter uma aura “alternativa”, são muito bem pagas para não atacar ou para defender o governo, como a Caros Amigos. Compõem, infelizmente, com a chamada grande imprensa, um sustentáculo ao governo e ao regime. Aliás, a própria reportagem da Folha, que revela os gastos do governo, foi feita também para denunciar que seu concorrente, O Globo, recebe mais verbas, apesar de ter uma tiragem menor.
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