Empresa calçadista no sertão da Bahia, a DASS, só levou salário de fome, dores e doenças para trabalhadores da regiãoExposição a produtos químicos e freqüência radioativa, Lesão por Esforço Repetitivo (LER), acidentes de trabalho, mutilações, longas jornadas trabalhando em pé e salários de fome. Este cenário, para os menos entendidos da realidade dos trabalhadores, pode, num primeiro momento, parecer ser de um país colonial como o Haiti ou Guatemala com suas “maquiladoras”. Entretanto, isto ocorre no Brasil.

Num cenário real de semi-escravidão de “carteira assinada”, fica localizado, a aproximadamente 36 quilômetros de Feira de Santana, um município de Santo Estevão, no sertão baiano. Essa cidade, habitada majoritariamente por afrodescendentes, tem ao seu redor comunidades quilombolas.

A empresa calçadista DASS fabrica, ou melhor, monta os tênis de marcas famosas como Nike, Fila, entre outras. Vinda do Sul do país, a direção da fábrica e os políticos da região prometeram progresso e desenvolvimento para as milhares de famílias da miserável região. Passados sete anos, o que se vê em Santo Estevão são salários de fome e destruição física de mulheres e jovens negros. O emprego que deveria melhorar suas vidas levou a lesões incuráveis, a dores jamais sentidas e a um futuro incerto.

O capitalismo mata
A vinda de empresas para o interior da Bahia e para o Nordeste, como a Ford, faz parte do projeto da burguesia imperialista em procurar melhores formas de superexplorar os trabalhadores. No interior do Brasil, estas fábricas encontram mão-de-obra barata, jovem e sem tradição de luta. Além disso, governos que concedem altas isenções de impostos e direções sindicais vendidas formam as parcelas do cálculo lucrativo dos patrões.

As jornadas de trabalho têm ritmos alucinantes. Na DASS, é comum mais de nove horas de trabalho por dia. A velocidade da produção faz com que os acidentes e doenças causadas no trabalho aumentem. Com todo desenvolvimento tecnológico do século XXI, é comum vermos operários perdendo dedo, com graves lesões nos punhos, braços, joelhos e ombros.

As maiores prejudicadas são as mulheres, sobretudo as negras, que, além da exploração da fábrica e do trabalho doméstico não-remunerado, são vítimas de assédio sexual dos chefes. É comum supervisores cobrarem sexo – chamam de “umazinha” – para as operárias permanecerem no trabalho. Os banheiros femininos são sempre muito sujos, para provocar a não-utilização e não diminuir a produção. Gravidez é sinônimo de justa causa.

Os jovens negros, assim como as mulheres, têm nessa fábrica a primeira oportunidade de emprego, de levar feijão e arroz para casa. Entretanto, os trabalhadores com, em média, 25 anos têm ficado inutilizados graças às lesões causadas na produção.

O manuseio de materiais que fazem mal à saúde – como cola, solvente e outros materiais químicos e até radioativos – são feitos de maneira inadequada, sem máscara, ou impróprias, como luvas que deixam queimar as mãos e máscaras descartáveis que os operários são obrigados a usar além de sua validade – de apenas um dia – se quiserem proteção. Segundo um operário que não pode ser identificado para não ser demitido, após fazer o manejo numa máquina que emite freqüência radioativa é possível acender uma lâmpada florescente que esteja desligada.

O salário da DASS é um salário mínimo, R$415. Com os descontos, diminui. Por dia, a fábrica produz em média 12 mil pares de tênis. Cada par é vendido em lojas da burguesia por R$300 em média. Apenas um par de tênis produzido num dia do mês já paga o salário do operário, já que são 3 mil trabalhadores. Assim, o patrão fica com os outros 357 mil pares do resto do mês.

O que vemos em Santo Estevão é o retrato do capitalismo superexplorador que quer sugar até a última gota de sangue do trabalhador. O capitalismo traz doença, desespero e morte para as famílias da classe operária.

De que lado estão o Estado e o governo?
Quando os operários começam a tomar consciência dessa situação, se perguntam: por que o Estado e os governos não fazem nada para mudar? Não é verdade que Estado e governo não fazem nada. Ambos estão do lado dos patrões, ou melhor, da burguesia. Por isso, depois da palavra Estado temos que colocar o adjetivo burguês.

Marx e Engels há 160 anos, quando escreveram o Manifesto Comunista, nos ensinaram que o “Estado é o gerenciador dos negócios da burguesia”. Por isso, é comum numa greve a Justiça decretar a luta ilegal e a polícia acabar com força e truculência com a mobilização. Aqui se demonstra que as instituições nessa luta têm lado.

Lênin chamou esse regime de democracia dos ricos. O Judiciário e a Policia (Militar ou Civil) são instituições do Estado burguês. Sendo assim, não são neutras ou imparciais. Na mesma situação, está a Mídia Burguesa.

Os governos, como os do PMDB, DEM ou PSDB, são os maiores representantes dos patrões. Entretanto, PT e PCdoB fazem o mesmo. Todos esses partidos recebem dinheiro dos empresários e, quando chegam ao poder, os defendem com unhas e dentes. Uma prova disso são as isenções fiscais que esses governos concedem para as empresas. Outro exemplo é o apoio a planos de demissões e concessões de crédito público para “salvar” empresas da quebradeira.

A saída está nas mãos dos trabalhadores
Além de não poder contar com o Estado e os governos, a maioria dos trabalhadores também não pode contar com seus sindicatos. Na DASS, o Sindicato dos Trabalhadores Calçadistas (Sintracal), filiado à CUT e dirigido pelo PT, é um braço dos patrões no meio dos trabalhadores. O sindicato não mexe uma palha para mobilizar os operários e construir a luta.

No dia 1º de maio, o Sintracal apenas distribuiu pirulitos para homenagear os operários pelo seu dia. Esta ação só foi para dar resposta a uma atividade, realizada no dia 28 de abril, construída pelo Movimento Oposição Calçadista (MOC), ligado à Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), que denuncia cotidianamente a superexploração na DASS.

Só a organização e a luta autônomas e independentes dos trabalhadores podem nos levar à vitória. Nesse sentido, a Conlutas pode ser um apoio importante para que trabalhadores de todo país, como os de Santo Estevão, construam suas lutas.