As coisas não vão nada bem com a economia mundial. A bancarrota da Grécia ameaça a Europa. A quebra do pequeno país pode intensificar a crise econômica mundial ou mesmo detonar um segundo mergulho.

Mas não é só. O “motor” do mundo, os EUA, já acendeu as luzes de alerta vermelho. Enquanto a desaceleração dá o tom da frágil “recuperação” norte-americana, os dados mais relevantes apontam para um aprofundamento da crise aberta em 2007.

O cenário econômico global está tomado por nuvens, carregadas agora pelos ventos instáveis das revoluções árabes e das tensões sociais na Europa. A pergunta que fica é inadiável: para onde vai a economia mundial?

Horizontes sombrios
A economia mundial pode estar à beira de uma nova queda. Pode ocorrer uma nova recessão global, ou a continuidade de um crescimento anêmico. Existe uma forte ligação entre os resultados da luta de classes e a evolução da economia.

Em 2008, o mergulho do sistema financeiro expressava os limites da acumulação fictícia de capital. A taxa média de lucros em queda, a superprodução de mercadorias nos setores fundamentais (montadoras, máquinas, etc) e as famílias endividadas eram o pano de fundo da Grande Recessão.

Naquele momento, os países saíram em socorro aos banqueiros. Trilhões de dólares foram despejados para salvar o sistema financeiro. Ao mesmo tempo, os governos de turno lançavam uma série de pacotes de cortes nos gastos públicos. As empresas, por seu lado, rebaixaram os salários e eliminaram direitos trabalhistas.

Funcionou por um tempo, mas a receita foi curta. E pior, seus efeitos colaterais parecem recolocar a economia mundial nos trilhos de uma recessão ainda mais pesada.
O mundo assistiu também a retomada da inflação, sobretudo dos alimentos. A combinação de queda na renda, retirada dos gastos sociais e inflação provocou um tsunami social. As revoluções árabes e as revoltadas do proletariado e da juventude européia são expressões político-sociais do maior terremoto econômico desde 1929. Mas e os EUA, a maior economia mundial, para onde vai?

EUA em declínio
A economia americana apresenta claros sinais de desaceleração. O PIB do 1° trimestre de 2011 avançou 1,8%, registrando uma diminuição em relação ao índice do último trimestre do ano (3,1%). As estimativas entre os analistas de mercado sugerem uma nova baixa no patamar de crescimento para o 2° trimestre.

Porém, os dados mais assustadores referem-se ao mercado de trabalho. Há quase 14 milhões de desempregados, 8 milhões deles oriundos da crise deflagrada em 2007. A Grande Recessão já eliminou 120% dos postos de trabalhador criados entre 1994 e 2003.

O desemprego em massa vem casado com a queda da renda familiar. Os trabalhadores em tempo parcial são 8,4 milhões, entre os desempregados 6,1 milhões estão sem emprego há seis meses ou mais. Com o objetivo de manter os postos de trabalho, milhões de estadunidenses estão aceitando reduções salariais.

Uma conclusão sobre a economia estadunidense parece óbvia: os “ajustes” (demissões, redução da massa salarial, programa de salvamento dos bancos, etc) aplicados pelo governo americano não foram suficientes para a retomada de um novo ciclo ascendente da economia. Os EUA “patinam” e vê no horizonte próximo a possibilidade da desaceleração se transformar em uma nova crise.

O supercrescimento chinês: até quando?
A “fábrica do mundo” continua exibindo resultados impressionantes. A economia chinesa cresceu 10,3% no ano passado. Em 2011, mesmo com uma dinâmica de desaceleração, o 1° trimestre anotou crescimento de 9,5%.

O “trem” chinês puxa o vagão dos BRIC’s. A Índia, Rússia e Brasil seguem em rota de crescimento, apesar da diminuição do ritmo de expansão. A previsão de crescimento de 4,5% da economia brasileira em 2011 é testemunha dessa avaliação.
Até quando é possível um crescimento exuberante dessas economias à revelia da dinâmica mundial?

A impossibilidade de um crescimento a longo prazo da China é inquestionável. As exportações representam 48% do PIB, seu parque industrial e financeiro é dominado pelas grandes multinacionais sediadas nos Estados Unidos e Europa. Não é diferente com o petróleo e gás russos, as commodities brasileiras e os produtos manufaturados indianos, todos dependem do mercado mundial.

Uma nova recessão em escala global inevitavelmente afetará essas economias. No entanto, aparece outra questão: em que ritmo e profundidade? Até o momento, as astronômicas taxas de lucros dos negócios chineses, o estímulo em seu mercado interno e as obras de infra-estrutura patrocinadas pelo governo seguraram o crescimento.

Contudo, esses fatores dão sinais de esgotamento. Os investimentos privados enfrentam certo arrefecimento da demanda mundial por suas mercadorias, não à toa houve uma desaceleração do PIB no início desse ano.

Por outro lado, o estímulo do mercado interno tem seus limites. A principal razão dos altos lucros das empresas são os baixos salários e a quase inexistência de direitos trabalhistas. A elevação da renda interna tem um limite para a burguesia: aumentar além de certo limite a média salarial significa sacrificar o principal atrativo chinês: a mão-de-obra barata.

Portanto, não há saída interna sustentada em longo prazo com o crescimento do mercado interno. Mas não é só. O crescimento chinês é puxado em grande medida por gigantescas obras de infra-estrutura.

Esses investimentos públicos também têm também seus limites e contradições. A bolha especulativa imobiliária e o excesso de capacidade produtiva em médio prazo são obstáculos a um ritmo de crescimento contínuo na casa dos 10%.

A China não está descolada da dinâmica mundial. Na hipótese de um duplo mergulho na crise global, o país poderá sofrer conseqüências superiores daquelas enfrentadas quando do primeiro momento da Grande Recessão mundial.

Não é descartada inclusive a contaminação político-social. As primeiras grandes greves operárias chinesas em 2010 podem ser um prenúncio do que pode vir pela frente. As revoluções árabes e as revoltas européias são alimentos para um proletariado jovem, gigantesco e miserável.

O papel da luta de classes
Diante de todo esse cenário, resta uma pergunta: o mundo entrará em uma nova Grande Recessão? Não há uma resposta segura. O mundo pode continuar em recuperação anêmica ou afundar novamente. Os processos econômicos são determinados em última análise pelas relações sociais.

O proletariado não está disposto a aceitar um rebaixamento brutal em seu nível de vida. A revolução árabe e a revolta européia são as provas dessa afirmação. Na luta de classes está o futuro da economia. Quem vencerá?.

Post author Gabriel Casoni, de Belo Horizonte (MG)
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