Mariucha Fontana

O desafio que está posto para a esquerda brasileira na nova etapa é o de forjar um partido revolucionário de massas alternativo ao PT, que se coloque como oposição de esquerda ao governo Lula. É urgente debater sobre a estratégia e a política dos socialistas diante do novo governo.

LULA COM A FIESP E O FMI PODE SER UM GOVERNO “PROGRESSISTA”?

Antes de chegar ao governo central, o PT já era um obstáculo para a ruptura com o imperialismo e o capitalismo. Hoje, no governo, sofreu uma mudança qualitativa: passou a ser o agente direto da aplicação do projeto burguês e imperialista no país.
Na esquerda, entretanto, há a grosso modo dois tipos de ilusão nesse governo. Há os que crêem que, pressionado, mesmo sem romper com o império e o capital, Lula poderá avançar em alguns graus de soberania.
Há outros companheiros que sabem ser necessário uma ruptura, mas acreditam ser possível – com mobilização – empurrar o governo para a esquerda e para a ruptura. Para estes companheiros, o governo Lula seria híbrido, sem natureza de classe, um governo que estaria em disputa. De um lado estaria o FMI e o grosso da burguesia, de outro o movimento e Lula estaria no meio, podendo ser puxado para a esquerda.
Na nossa opinião, não é possível alcançar soberania por dentro do processo de recolonização, através de uma “parceria conflitiva” com o FMI ou negociando a ALCA.
E também não é possível empurrar o governo Lula para a ruptura, porque Lula fez uma opção de classe, de governar com a burguesia nos marcos do FMI e da ALCA. Este governo é uma totalidade: é um governo burguês.

CONSELHOS OU EXIGÊNCIAS?

Lênin orientava que diante de governos assim, a política revolucionária deveria ter dois aspectos: um pela negativa, que consistia em explicar pacientemente às massas que esse governo era seu inimigo e ser oposição irreconciliável a ele desde o primeiro dia.
O segundo, pela positiva, deveria apontar o governo que os revolucionários defendiam, adaptando às diversas circunstâncias e à consciência das massas uma fórmula de governo, que na Rússia passou por diferentes palavras de ordem: Nenhuma confiança no governo provisório! Fora os ministros burgueses! Todo poder aos Soviets!

As primeiras manifestações das correntes da esquerda do PT, entretanto, são de “conselhos” a Lula.

Este é o caso de uma entrevista dada pela deputada Luciana Genro, que disse: “ (…) Acho que continuar seguindo as políticas do FMI não é o caminho para que possamos atender as demandas históricas dos trabalhadores(…) Acho que o Lula tinha de denunciar esse acordo. O que significa isso? Amanhã romper e dizer que não quer mais conversa? Não. Significa construir esse ambiente no país, mostrar a inviabilidade de melhorar a vida das pessoas e de se submeter ao FMI. O Lula tem que sentar à mesa de negociação respaldado por uma população que tem consciência de que o FMI é nosso inimigo(…)” (FSP – 4/11/2002).

Para Luciana, não há problemas em Lula negociar com o FMI, só que ela sugere que Lula opte pelo caminho de denunciar o FMI, para “negociar respaldado pela população consciente de que o FMI é inimigo”. Como se o problema fosse que as massas têm ilusões no FMI! O problema é justamente o oposto, as massas têm ilusões em Lula, que por sua vez já optou por um caminho: governar com a burguesia e em acordo com o FMI.
Luciana, ao não combater as ilusões das massas em Lula, acaba por não defender sequer a ruptura do acordo com o FMI.

OPOSIÇÃO OU APOIO CRÍTICO?

De outro lado, temos os companheiros com quem estamos juntos na Campanha Contra a ALCA: companheiros do MST, das Pastorais Sociais, do Consulta Popular… Companheiros que priorizam as lutas e defendem a ruptura com o imperialismo, com os quais todos os setores combativos formam hoje um polo importantíssimo para a mobilização e o combate contra o imperialismo.

Pensamos, que aqui também há polêmicas sobre a natureza do governo Lula e sobre que estratégia e táticas deve ter a esquerda perante ele. Discussões essas que devemos fazer fraternalmente, pacientemente, sem sectarismos, mas de forma clara entre todos – com o objetivo de esclarecer os acordos e diferenças e também na perspectiva, se possível, de buscar avançar nos acordos e ir superando as diferenças.
Primeiro, temos um grande acordo: é preciso derrotar e romper com a ALCA e o FMI. Segundo grande acordo: o cumprimento dessas tarefas passa pela mobilização de massas.

ONDE PENSAMOS QUE EXISTEM DIFERENÇAS?

Primeiro, há companheiros que acreditam que – com mobilização – é possível empurrar o governo Lula para o confronto com o imperialismo.
Segundo, dessa avaliação aponta-se para uma política de apoio crítico ao governo.
Essa avaliação e política, na nossa opinião, são equivocadas porque – mesmo que se mantenha independência para realizar ações e conflitos – ao manter o apoio crítico terminará por fazer parte do mesmo bloco do governo perante as massas, aparecerá como sua ala à esquerda, crítica, porém jamais se constituindo como uma alternativa de esquerda, independente.
Quem ficar numa posição assim, de apoio crítico, ou de ala esquerda do campo do governo, diante das inevitáveis críticas à esquerda e confrontos que vão surgir, acabará obrigado a fazer o papel de defensor do governo, reproduzindo assim a pressão do governo contra posições à esquerda.
Precisamos discutir profundamente que política é justa diante desse governo, resgatando também a experiência histórica.
Historicamente, essas posições ficaram conhecidas como as da Frente Popular de Combate. Os blocos de Frente Popular de Combate terminaram no meio de um enfrentamento entre as massas e os governos burgueses de colaboração de classes, desgastando-se dos dois lados e pior não construindo uma alternativa de esquerda e revolucionária perante estes, que acabaram na maioria das vezes –sempre quando não existiu uma alternativa revolucionária – em derrrota do movimento.

CONSTRUIR UM NOVO PARTIDO REVOLUCIONÁRIO

Nós continuamos nos dirigindo a todos os companheiros da esquerda socialista e também – e especialmente – aos companheiros que estão na campanha contra a ALCA com esse chamado: vamos debater entre todos um programa e construir um partido revolucionário em alternativa ao PT.
Post author Mariucha Fontana, da redação
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