A maioria das organizações que se reivindicam de esquerda defendiam o Sim e foram derrotadas. Por isso, vários intelectuais e organizações de esquerda fazem uma avaliação de que a vitória do Não foi uma vitória da direita e dizem que agora virão mais retrocessos.

Nada mais falso. É verdade que na defesa do Não se encontravam alguns setores minoritários da burguesia, ligados à indústria de armamentos e inclusive ligados à repressão. Mas, vejamos quem estava defendendo o Sim: o governo Bush; a maioria absoluta da burguesia; o governo Lula; o PSDB com Alckmin, Azeredo, Tasso Jereissati, Artur Virgilio, José Serra e FHC; grande parte do PFL, tendo à frente Antônio Carlos Magalhães; o PMDB com Sarney, Garotinho e Renan Calheiros; a Globo; a Folha e o Estado de S. Paulo.

Quem é a direita e quem é a esquerda neste país?
Não foi o povo brasileiro que votou com a direita, foi a esquerda reformista que se alinhou com a maioria da direita.

Mas o pior foram os argumentos dos representantes da esquerda reformista. Alguns tentaram argumentar, como Emir Sader, que a “esquerda é republicana” e defende a “resolução pacífica” e a “extensão do Estado de Direito”. Chico Alencar (P-SOL-RJ) afirmou que o Não sairia vitorioso por que “há uma crise de valores republicanos” no país. Leonardo Boff defendeu o Sim, em “busca urgente de uma cultura da paz”, bem similar à posição da direção do MST, que falou de uma “necessidade civilizatória de nossa sociedade”.

Defesa do Estado de Direito
É interessante observar que a esquerda reformista se caracteriza por defender uma ampliação da democracia burguesa, deixando de lado, muitas vezes, a referência socialista para assumir uma estratégia democratizante. Agora, nem isso. Estiveram do lado do imperialismo, da maioria da burguesia e do governo para defender a supressão de uma liberdade democrática. Estão mais atrás do que os republicanos norte-americanos, como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, que lideraram a revolução pela independência dos EUA e escreveram a Declaração de Virginia, em 1776, onde garantiram o direito à resistência e à defesa armada da vida e da liberdade contra a opressão e a tirania.

Há aqueles como Valter Pomar, da direção nacional do PT, que, polemizando com um artigo de Valério Arcary, publicado no Portal do PSTU, defenderam um Sim “de esquerda”. Para Pomar, “quanto à autodefesa, há que responder o seguinte: os movimentos sociais e dirigentes devem ou não exigir do Estado que faça respeitar as liberdades democráticas? A melhor autodefesa é feita com armas de fogo? Fazer esse tipo de autodefesa, como regra, não constitui, no mais das vezes, um ato de provocação que mais ajuda do que atrapalha?”.

Quem defende a necessidade de uma revolução social não pode nem pensar que o Estado possa garantir as liberdades democráticas. Além disso, desde quando ações como às do MST, dos operários da General Motors em 1985, da Mannesman, Philips e Bundy em 1989 e os petroleiros de Cubatão em 1995, que se autodefenderam, foram provocação?
Já o P-SOL não poderia ter ficado mais em cima do muro: “O P-SOL repudia os demagogos, cínicos ou corruptos, estejam eles defendendo o sim ou defendendo o não.

Do mesmo jeito que o P-SOL respeita a decisão das mulheres e homens de bem e de paz que, por razões distintas, votam não ou votam sim no referendo sobre as armas”. Todavia, a maioria dos parlamentares do P-SOL (como Chico Alencar, Maninha, Orlando Fantazzini, João Alfredo) esteve engajada na defesa do Sim. A corrente de Heloísa Helena no P-SOL (Liberdade e Revolução) também assumiu o Sim, embora ela própria não se pronunciasse.

A verdade é que todos aqueles que não apostam mais em nenhuma possibilidade de mudança social através de uma revolução, decididamente passaram a defender o Estado Democrático de Direito e seu direito de coerção, tirando dos movimentos sociais o seu direito de defesa.

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