Não é só na Inglaterra que os imigrantes,como o mineiro Jean Charles de Menezes, seExiste uma anedota de que é fácil ganhar a vida na terra do Tio Sam. Diante disso e do desemprego em seus países, cada vez mais pessoas se arriscam por aquelas bandas.
Os mais iludidos levam um choque. As maravilhas simplesmente não existem e a vida é dura. Outros nem sequer conseguem vislumbrar a desilusão. Cada vez mais, imigrantes têm sido presos ou morrido na fronteira do México com os EUA, em tentativas de entrar ilegalmente.

A quantidade de brasileiros presos ao tentar fazer a travessia não pára de crescer. Em 1999, foram 488 prisões, em 2003, esse número já era 5.008 e, apenas em abril de 2005, 4.802 brasileiros foram detidos em território americano, na fronteira com o México. É uma incrível marca de 160 casos por dia. Segundo o jornal Los Angeles Times, se continuar assim, o Brasil logo deve passar Honduras no ranking de países que mais mandam imigrantes ilegais para os Estados Unidos, atrás apenas do México.

Cruzes no caminho
As mortes de brasileiros também aumentaram, mostrando que os riscos são ainda maiores do que se imagina. Até maio deste ano, cinco brasileiros já haviam morrido, contra seis nos dois anos anteriores. Esse número deve ser bem maior, pois a região da fronteira, dos dois lados, está repleta de cemitérios onde são enterrados os John Does (joão ninguém), como as autoridades chamam os que morrem sem identificação. Essas mortes são provocadas pela difícil travessia, com altas temperaturas, quando muitos imigrantes adoecem, ou pela correntezas de rios na fronteira.

O perigo também fala inglês. O governo norte-americano vem combatendo a entrada de imigrantes ilegais com rigor. Muros foram construídos na fronteira, intercalado com áreas de arame farpado, além de equipamentos sofisticados e patrulhamento por guardas e cães. E contam com a “ajuda” de setores da ultradireita, que montam patrulhas em algumas cidades fronteiriças para caçar os imigrantes. Para eles, latino-americanos representam uma ameaça social, política e racial.

Além da violência policial e paramilitar, também há a dos contrabandistas de imigrantes ilegais, os chamados coiotes. Uma verdadeira máfia constituída desde os países de origem dos imigrantes que não hesita em assassinar os imigrantes que adoecem pelo caminho.

Aloísio Roberto da Cruz (nome fictício), 24, da região de Governador Valadares (MG), fez um contato em São Paulo para viajar para os Estados Unidos via México. Teria de pagar US$ 10 mil. Como seus irmãos já haviam ido antes e pago corretamente a dívida, ele não precisou pagar uma parcela adiantada. Apesar de ter conseguido entrar nos EUA, Cruz diz que a experiência é traumatizante. “Saí de Governador Valadares para São Paulo, de São Paulo para Tijuana, no México”. Em Tijuana, alguém o esperava no aeroporto, onde foram de carro até uma cidade da qual ele nem sabe o nome. “De lá fomos para o Norte do México, andamos a pé de madrugada com 45 pessoas, de vários lugares. Atravessamos um rio, alguns de bóia e outros nadando”. Segundo ele, um rio com cerca de 100 metros de largura. Um carro os levou até San Diego. “Quando cheguei, me perdi. E não conhecia ninguém”. Ele encontrou o coiote seguinte e pagou mais US$ 2 mil para chegar à Florida. Ao todo, foram 11 dias.
“Para fazer toda a travessia passamos nas mãos de uns 15 coiotes”. Ele não aconselha mulheres e crianças atravessarem a fronteira. “Ouvi histórias de que são comuns casos de estupros pelos coiotes. A gente caminha por horas, dias, pelo deserto, sem ninguém à vista”.

Entrada proibida
Após o 11 de setembro de 2001, os EUA passaram a dificultar cada vez mais a concessão de vistos. Os pedidos já não podem ser encaminhados por despachantes e o interessado na viagem precisa ir pessoalmente e deixar suas impressões digitais. O governo Bush alega que as restrições impedem a entrada de “terroristas” ou narcotraficantes, em uma política que gera o repúdio até de presidentes de outros países.

Pedidos de determinados estados brasileiros dificilmente são aceitos, como os de Minas Gerais, de onde saiu a maior parte dos imigrantes nos EUA. Dos brasileiros presos ao tentar atravessar a fronteira com o México, 70% são de lá, seguidos por Goiás e pelo Paraná, com 10% cada. Ananda Costa, 22 anos, mora em Belo Horizonte e teve o pedido de visto de turista negado em 2003. “Achei muito humilhante. Eles nos olham com ar de superioridade e desconfiança”, afirma.

Na corda bamba
Calcula-se que há mais de um milhão de brasileiros nos EUA, a maior parte em situação ilegal, na região metropolitana de Nova York, em Boston, na Flórida e Califórnia. A vida da maioria sem documentos não é nada fácil. Muitas empresas não exigem documentos na hora da contratação. Na hora de pagar os salários, “lembram-se” de verificar e suspendem o pagamento. Os trabalhadores, com medo de ser denunciados, ficam sem receber. Lúcia Carvalho, 39, vive há dois anos em uma pequena cidade na Flórida. Trabalhou por 15 dias numa empresa hospitalar. No dia do pagamento, cobraram os documentos. Como não os tinha, foi demitida sem receber.

Post author Claudia Costa, especial para o Opinião Socialista
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