Na nova conjuntura que se abre no país, está colocada em questão uma disputa fundamental pela direção do movimento de massasExiste uma nova conjuntura política nacional, que combina uma crise política (com mais um gigantesco escândalo de corrupção) e uma série de lutas em todo o país. Nestas lutas, existe uma novidade muito importante: o governo já não conta com o mesmo grau de controle do movimento de massas, que tinha no primeiro mandato. Começam a surgir novas direções, com a Conlutas e outros setores independentes do governo à frente. Por outro lado, setores que antes apoiavam o governo como o MST, agora mesmo sem romper com Lula, aumentaram o tom das críticas e avançaram nas mobilizações.

No primeiro mandato, Lula conseguiu impor um plano neoliberal ainda mais duro que o de FHC (superávit primário maior, lucros históricos para banqueiros) e, apesar disso, ainda manteve um relativo controle político do país. Safou-se da grande crise política de 2005 e reelegeu-se com o apoio majoritário dos trabalhadores. Graças à ajuda da CUT e da UNE, o governo conseguiu frear as mobilizações e dividir os trabalhadores.

No início deste ano, tudo parecia ir bem para o governo, com a integração do PMDB e a trégua dos tucanos Aécio Neves e José Serra. Entretanto, essa conjuntura já mudou com uma nova crise política e a retomada das lutas do movimento de massas.

A nova crise política:mais uma vez Lula não sabia de nada?
O novo escândalo de corrupção envolve desde figurões da República, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (que teve dívidas pessoais pagas pela empreiteira Mendes Júnior), até os partidos da oposição de direita, como PSDB e DEM. Rapidamente todos os partidos realizaram uma “operação blindagem” em torno de Calheiros. Temem que a continuidade das investigações possa trazer à tona toda a corrupção envolvendo as empreiteiras e o Congresso Nacional.

Na última semana, uma nova operação da Polícia Federal levou ao indiciamento do irmão de Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá. Uma escuta telefônica prova que Vavá utilizava o nome de Lula para intermediar negócios entre empresários ligados à exploração de jogos e o governo.

O mar de lama mais uma vez expõe o envolvimento de políticos da base governista e da oposição, assim como membros do Executivo, do Legislativo e da Justiça de forma indiscriminada. O escândalo se aproxima perigosamente de Lula, envolvendo diretamente seu irmão. E, mais uma vez, Lula diz que “não sabia de nada”. Não sabia também nada sobre a atuação de seu filho na Telemar, seu braço direito Zé Dirceu, seu segurança particular Fred Godoy, seu churrasqueiro Jorge Lorenzetti…

O início da retomada das lutas
Mas os problemas de Lula não param por aí. Os primeiros sinais de que os trabalhadores estão dispostos a retomar as lutas foram dados no Encontro Nacional Contra as Reformas, realizado no dia 25 de março, que reuniu 6 mil pessoas em São Paulo, convocado pela Conlutas e outros setores tais como Intersindical, setores da Igreja. O MST participou como observador do Encontro.

O plano de lutas votado neste encontro se transformou numa referência para os movimentos, estudantil, popular e sindical.

O ponto alto desse plano, até o momento, foi o dia nacional de lutas de 23 de maio. Segundo o cálculo da Conlutas, a mobilização reuniu algo em torno de 1,5 milhão de pessoas que participaram de alguma forma de protesto. Segundo o MST, que construiu e participou ativamente essas mobilizações, cerca de 40 rodovias foram bloqueadas. Foi a maior mobilização dos últimos anos, unificando lutas por reivindicações específicas com a campanha mais geral contra a reforma da Previdência.

A mobilização do dia 23 também significou uma derrota para a CUT. Esta central chapa branca tentou imprimir um caráter pró-governista ao dia 23, se restringindo à defesa do veto à emenda 3, mas saiu completamente derrotada.

As jornadas do dia 23 também ajudaram a fortalecer várias lutas que estão em curso no país, como é o caso da greve das universidades paulistas e a ocupação da reitoria da USP, e a campanha salarial do funcionalismo federal.

Aqui se pode ver a importância do enfraquecimento das direções governistas da CUT e UNE, pois começa a existir a construção de uma alternativa de direção para as lutas. E também deve ser destacado que o MST se descolou do bloco com a CUT e da UNE passando a integrar o pólo que impulsionou as mobilizações do dia 23.
Sem o encontro do dia 25, não teria havido o dia 23 de maio. O mais importante é que isso foi só o início de um processo, que segue com as mobilizações em curso.

Post author Da Redação
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