Site oferece informações sobre tráfico de escravos para as AméricasO tráfico de escravos foi um dos atos mais bárbaros de toda a história da humanidade. Milhares de africanos foram apresados em suas terras, enfiados nos porões de navios negreiros e, aqueles que conseguiam sobreviver à travessia, vendidos como reles mercadoria para trabalhar até a morte nos engenhos de açúcar, na mineração do ouro ou nas plantações de café.

Mas pouco se sabe da exata dimensão dessa tragédia. Afinal, de onde, quantos exatamente vieram para as Américas? Qual foi o país que registrou mais ingressos de africanos? Qual era a origem desses escravos? Essas são algumas questões que apenas alguns especialistas poderiam responder.

No entanto, o Portal Slave Voyages (www.slavevoyages.org), produto de um esforço internacional da pesquisa de vários historiadores, está respondendo a muitas dessas questões. Com base em acervos documentais de Luanda, Rio de Janeiro, Bahia, Lisboa, Havana, Madri, Sevilha, Amsterdã, Middelburg, Copenhagen e Londres, entre outros, os organizadores do projeto oferecem para a consulta mapas, gráficos e tabelas de ingressos de escravos, portos onde desembarcaram ou foram embarcados, e até o nome de navios negreiros e de seus capitães.

Escravidão no Brasil
Numa rápida pesquisa, por exemplo, é possível descobrir que a América Portuguesa foi a região que mais recebeu escravos africanos. A mão-de-obra escrava foi empregada em todos os chamados “ciclos” da economia do país.

Apenas entre 1551 a 1775 é que o Brasil vai começar a registrar o ingresso de mão-de- obra escrava. Nesse momento, havia sido celebrado o consórcio entre os portugueses com os mercadores genoveses para assumir o trato negreiro, como era então chamado o deplorável comércio de almas, estabelecendo assim o monopólio sobre tráfico. Nestes 25 anos iniciais, o ingresso total de escravos no Brasil é de pouco mais de 2,9 mil, um índice ainda pequeno se comparado aos 58 mil escravos que foram enviados às colônias da América espanhola para serem sugados na exploração da prata.

Vinte cinco anos mais tarde, porém, os números registram um salto, como se pode observar na tabela. Mas é entre 1600-25 que o tráfico de escravos no Brasil supera o da América espanhola, registrando o ingresso de 184 mil africanos contra 167 mil. O aumento ocorreu devido ao crescente emprego de mão-de-obra escrava nas lavouras de cana de açúcar na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. A partir daí o Brasil praticamente não perderá mais sua posição de líder na importação de escravos.

No entanto, graças ao historiador Luiz Felipe de Alencastro, autor de “O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul”, sabemos hoje que o repugnante comércio de almas já não era mais um negócio controlado pela metrópole portuguesa, mas sim por comerciantes brasílicos, especialmente da praça do Rio de Janeiro. Eis a origem histórica que a classe dominante brasileira sempre tentou ocultar.

Para sustentar essa hipótese, o historiador cita a expedição comandada por Salvador de Sá, em 1647, para retomar Luanda – o principal fornecedor de escravos para o Brasil – do controle holandês. Todas as 10 embarcações, assim como toda a logística, homens, armas e o dinheiro necessário para a empreitada não vieram de Lisboa, mas dos bolsos dos traficantes de escravos cariocas. Assim, os comerciantes brasileiros retomaram o controle do tráfico.

Finalmente, no primeiro quartel do século XVIII, com o início da exploração do ouro em Minas Gerais, o ingresso de escravos dá outro salto fenomenal. Entre 1701 e 1775, mais de um milhão e meio de africanos são enviados para trabalharem até a morte na mineração. Mas será na primeira metade do século XIX, em plena ascensão do mundo industrial, é que serão registrados os maiores ingressos de africanos em toda a história. Mais de dois milhões e trezentos mil entram no Brasil na condição de cativos entre 1801 a 1850. Para se ter uma ideia, todo o continente americano (incluindo Caribe e América do Norte) registrou, nesse mesmo período, a metade dos ingressos no Brasil (pouco mais de 1,1 milhão).

Foi durante esse período que foi promulgada a lei de 7 de Novembro de 1831, que decretava o fim do tráfico negreiro para o Império, além de declarar livres os africanos introduzidos a partir daquela data. Mas a lei nunca foi posta em prática pelo Império, e o tráfico de escravos simplesmente aumentou. Nesse momento, o país vivia a expansão da cafeicultura. O café brasileiro, que integrou o país na modernidade capitalista, se deu através da mão-de-obra escrava negra. Uma mostra de que o avanço das novas zonas de mercadoria e a degradação do trabalho caminham juntas no capitalismo.

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