A crise ambiental em escala planetária teve expressão aguda no Brasil. A nomeação de Marina Silva ao Ministério do Meio Ambiente aparentava sinalizar uma tendência contrária. Afinal, o currículo de Marina, inclusive sua luta com Chico Mendes, indicava uma linha de resistência à devastação. Porém, a partir da lógica férrea das alianças de classe que sustentou, o governo Lula só fez defender os interesses de grandes inimigos da causa ecológica: a burguesia agro-exportadora, latifundiários e representantes de multinacionais.

O quadro geral da destruição ambiental no país – mais do que desolador – é alarmante. Queimadas para o monocultivo de soja no Mato Grosso e a criação extensiva de gado na Amazônia brasileira – além da quase aniquilação da Mata Atlântica na faixa costeira – respondem por grande parte deste extermínio. Só em 2004, foram devastados 24,5 milhões de metros cúbicos de árvores na floresta amazônica. Em 2005, a pior seca na região em 50 anos provocou o isolamento de povoados inteiros, a morte de toneladas de peixes e incontroláveis incêndios. As imagens das crateras rasgando o que ainda é um dos maiores reservatórios de água doce do planeta alerta para a dimensão da tragédia. Cientistas associam a seca na região à intensa destruição da floresta e ao aquecimento do oceano Atlântico.

O anteprojeto apresentado pela ministra Marina Silva, por sua vez, intitulado “Gestão de Florestas Públicas para a Produção Sustentável”, agrava a situação calamitante das florestas substituindo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como órgão regulador por uma autarquia controlada (e financiada) pelas próprias empresas, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Trata-se de uma verdadeira privatização florestal, abrindo caminho para a Alca e relegando ao Brasil o papel de exportador de matérias-primas, como a madeira.

Tá liberado
Foi no governo Lula que os transgênicos foram liberados no país. Além de permitir a entrada de Organismos Geneticamente Modificados (OGM), o governo se posicionou contra a identificação ou rotulagem dos transgênicos. Neste contexto, empresas pressionam para liberar sementes “Terminator” – ou “sementes suicidas” –, que só germinam uma única vez, graças a uma tecnologia transgênica. Dirigente da Campanha por um Brasil Livre de Transgênicos e da AS-PTA (Assessoria de Serviços e Projetos em Agricultura Alternativa), Gabriel Fernandes afirma temer uma mudança de posição do governo em relação às sementes Terminator: “Nenhum cenário pode ser descartado. Não podemos nos esquecer que, na última campanha presidencial, Lula defendeu a moratória dos transgênicos e disse que plantar transgênicos no Brasil era burrice. E deu no que deu”, disse.

O rompimento de muitos ativistas com o governo não pôde ser evitado nem mesmo pelo prestígio de Marina Silva. As principais deliberações da I Conferência Nacional de Meio Ambiente, realizada em 2003 sob o auspício da ministra, foram sistematicamente descumpridas. Uma conclusão necessária deve ser tirada pelos ativistas ambientais: ao contrário do que dizia Marina, o governo nunca esteve em disputa, nem mesmo na questão ambiental. Ao contrário, se postou ao lado do capital e assumiu a sua lógica destrutiva.

Post author Roberto Barros, da redação
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