Foto: Romerito Pontes

Artigo de Toninho Ferreira, suplente a deputado federal, publicado no Jornal O Vale

Há quase um mês, a rotina em cerca de 200 escolas no Estado de São Paulo tem passado por uma verdadeira revolução. Em protesto contra a proposta de reorganização da rede de ensino proposta pelo governo Alckmin (PSDB), alunos passaram a ocupar as escolas e essa mobilização trouxe à tona um debate sobre a crise existente na educação pública, resultado da política dos governos.
 
Quando este artigo for publicado, possivelmente o número de escolas ocupadas será maior, pois os números têm mudado diariamente.
 
Isso vem ocorrendo, mesmo diante da brutal repressão e violência que o governo e a Policial Militar têm patrocinado nas escolas na tentativa de forçar desocupações. Ainda assim, os alunos resistem.
 
Apesar dos argumentos supostamente pedagógicos, a proposta nada tem a ver com a melhora da qualidade do ensino. Não se trata de uma “reorganização”, mas sim de uma “desorganização” escolar, com o fechamento de escolas, o fim de cursos noturnos, transferências compulsórias de alunos para unidades muito mais longe, superlotação de salas, demissões de professores e funcionários e o aumento da evasão escolar dos jovens da periferia.
 
O fato é que por trás desta medida do governo do PSDB há apenas um objetivo: cortar gastos da educação em nome do ajuste fiscal, a exemplo da mesma política do governo Dilma (PT).
 
Este ano, Alckmin já havia cortado R$ 1,2 bilhão dos investimentos em educação. Para o próximo ano, a proposta é um novo corte de R$ 2 bilhões. Dilma, que fala em “Pátria Educadora”, também cortou R$ 7 bilhões da educação este ano, prejudicando muitos alunos que dependiam do ProUni e do Fies.
 
Como sempre, o discurso é que “não há dinheiro”, que é “preciso fazer o ajuste”. Mas só falta dinheiro para a educação, para a saúde, para atender as necessidades do povo. Mas para os ralos da corrupção nunca falta. Os escândalos da Lava Jato ou do cartel no Metrô de São Paulo comprovam isso.
 
O fato é que os governos sejam do PT, PSDB ou PMDB, não se importam com os filhos da classe trabalhadora. Isso explica o descaso com que tratam esse direito essencial da população.
 
Ao invés de diálogo, Alckmin está tratando os estudantes na base do gás de pimenta, cassetetes e bombas de efeito moral dentro das escolas. Não podemos aceitar a política deste governo de fechar escolas, enquanto constrói presídios. É preciso educar a criança hoje, para não punir um adulto no futuro.
 
A luta desta juventude com as ocupações das escolas já é vitoriosa. Enquanto o governo quer “desorganizar”, os alunos estão “organizando”. As escolas nunca foram tão bem cuidadas, pois agora os alunos estão lutando por algo que é seu, por seus direitos.
 
Os jovens cuidam, limpam, consertam, promovem e organizam atividades educativas, políticas, culturais e de lazer.
 
Mesmo que de forma embrionária, as ocupações mostram que é possível romper com o modelo escolar neoliberal aplicado pelos governos, que impõe o sucateamento da escola pública, rebaixa o nível do ensino e tratam a educação como uma mercadoria.A escola pode ser pública, democrática e de qualidade.
 
Em 2013, a juventude pautou a luta pelo transporte público. Hoje a luta é em defesa da educação. Que venham novas lutas em defesa da saúde, da moradia e outras.Os jovens estão dando uma aula de que é possível.