Ao se conhecer publicamente a tortura, iniciou-se uma verdadeira comédia de enredos, mentiras e hipocrisias dos governos de coalizão imperialista ocupante. O primeiro-ministro inglês, Tony Blair, tratou de se distanciar alegando que as fotos publicadas pelo jornal inglês Daily Mirror, eram falsas. No entanto, Blair ainda não respondeu às denúncias feitas e comunicadas muito antes, inclusive pela Cruz Vermelha e Anistia Internacional, sobre torturas realizadas contra iraquianos por tropas britânicas. O premiê italiano Silvio Berlusconi, disse que “desconhecia” o que estava ocorrendo. Bush também declarou “desconhecimento” sobre as torturas, pediu “perdão” aos torturados e suas famílias e libertou alguns poucos prisioneiros. O cúmulo da hipocrisia foi o da Organização das Nações Unidas (ONU), que pediu “explicações” a Washington e Londres. Somente o secretário de Defesa ianque, Donald Rumsfeld, assumiu a responsabilidade pelas torturas e as defendeu publicamente. O candidato presidencial democrata, John Kerry, exigiu publicamente sua renúncia e impulsionou uma carta de reivindicação que – com claras intenções eleitoralistas – em poucos dias recolheu 275 mil assinaturas. Como resultado da pressão da resistência iraquiana e da indignação generalizada, aberta com a revelação das torturas, os comandos militares dos Estados Unidos foram obrigados a libertar mais de 300 prisioneiros de Abu Ghraib (muitos saíram fazendo o V de vitória) e prometeram libertar mais de três a cinco mil em breve. Neste momento, Bush sustenta Rumsfeld, mas é claro que ele será a “bola da vez” diante de um possível agravamento da crise.

Nenhum desses bandidos imperialistas é capaz de assumir honestamente seus métodos de guerra, porque todos vêem no exemplo da Espanha, a derrota eleitoral de Aznar, o resultado da oposição dos povos à guerra imperialista. Essa derrota já trouxe pelo menos duas conseqüências. Por um lado, esses assassinos sentem que a opinião pública de seus países se volta, cada vez mais, contra eles e a sua guerra. Especialmente Bush, no meio de um ano eleitoral, vê que a metade da população norte-americana já não o apóia e que sua popularidade cai cada vez mais. Desesperado para evitar essa queda, Bush promete que as tropas norte-americanas sairão logo do Iraque, mas Paul Bremer, a máxima autoridade ianque nesse país, designado pelo próprio Bush, o desmente publicamente declarando que necessitarão de mais soldados e mais dinheiro para sustentar a ocupação. Como se vê, um governo de “grande coerência”.

Por outro lado, a retirada das tropas espanholas do Iraque abriu uma fase de fratura na coalizão militar: também estão se retirando outros pequenos contingentes de países latino-americanos. Já Polônia e Ucrânia estão sob tremenda pressão interna e a dinâmica é que somente fique o “núcleo duro” anglo-americano. Do ponto de vista estritamente militar, isso não significa muita coisa, mas é muito importante do ponto de vista político, já que Bush-Blair-Berlusconi ficam cada vez mais isolados nessa guerra. Mas não seria nada surpreendente se a ONU de repente surgisse com resoluções e mandatos para cobrir as costas desses assassinos.

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