A atual crise que assola o capitalismo tem sido comparada ao “crash” (quebra) de 1929, que iniciou uma longa depressão na economia mundial e teve efeitos catastróficos para a classe trabalhadora. O que aconteceu naqueles dias de outubro não foi apenas uma turbulência semelhante a várias outras crises capitalistas.

A crise de 1929 foi o maior desastre da história capitalismo no século 20 e representou uma devastação da economia mundial. Os resultados foram a pobreza generalizada das massas, uma drástica desvalorização e a aniquilação de capitais e mercadorias. O tombo, evidentemente, foi mais alto nos EUA, epicentro da crise e a maior economia global.

Os historiadores E. Hobsbawn e Paul Kennedy estimam que entre 1929-31, a produção norte-americana de automóveis caiu pela metade; a produção industrial dos EUA caiu em um terço entre os anos de 1929 e 1931. Entre 1929-32, as exportações e importações (trigo, seda, borracha, chá, cobre, algodão e café, etc.) despencaram em taxas de 70%. Em 1929, apenas nos EUA, 4,6 milhões de trabalhadores tinham perdido seus empregos. Em outubro de 1931, eram 7,8 milhões; em 1932, somavam 11,6 milhões; e em 1933 havia nos EUA 16 milhões de desempregados, 27% de toda força de trabalho do país.

A crise se expandiu para todo o sistema capitalista. O comércio mundial caiu em 60%. Houve uma queda crise na produção básica de alimentos e matérias primas devido à queda vertiginosas dos preços destes produtos. O Brasil tornou-se símbolo do desespero e da dramaticidade da crise, quando o governo queimou os estoques de café (principal produto de exportação do país) em locomotivas a vapor numa inútil tentativa de frear a queda dos preços do produto.

No pior período da depressão, entre 1932 e 1933, o desemprego chegou a níveis nunca vistos na história do capitalismo. Na Inglaterra o índice chegava a 23%. Na Alemanha a taxa de desemprego atingiu os espantosos 44%. O desprego em massa produziu cenas macabras como das enormes filas de sopas – conhecidas como Marchas da Fome – em bairros operários onde as fábricas estavam totalmente paradas.

EUA: um gigante do pós-guerra
Os EUA saíram da primeira guerra mundial como a primeira potência do planeta. No entanto, já em 1921, na contra-mão dos prognósticos otimistas, Trotsky avaliava que o breve crescimento da economia era algo efêmero e cíclico, ou seja, que não deteria a crise estrutural do capitalismo.

“Quais são as perspectivas econômicas imediatas? É evidente que América se verá obrigada a diminuir sua produção, não tendo a possibilidade de reconquistar o mercado europeu de antes da guerra. Por outro lado, Europa não poderá reconstruir suas regiões mais devastadas nem os ramos mais importantes de sua indústria. Por essa razão assistiremos no futuro a uma volta penosa ao estado econômico de antes da guerra, e a uma dilatada crise: ao marcado estancamento em alguns países e em ramos das indústrias particulares; em outros, a um desenvolvimento muito lento. As flutuações cíclicas seguirão tendo lugar, mas em geral, a curva do desenvolvimento capitalista não se inclinará para cima senão para abaixo” (relatório aos membros do Partido Comunista Russo, utilizado por Trotsky para o III Congresso da Internacional Comunista – 23 de junho de 1921).

Com o início da recuperação do setor produtivo dos países europeus, a produção norte-americana começou a entrar em declínio. Essa situação expressou-se principalmente no setor agrícola do país, com o aprofundamento da queda dos preços dos produtos primários.

A crise dos agricultores norte-americanos será o prenúncio de 1929. Na medida em que as exportações diminuíam, os grandes proprietários não conseguiam saldar as dívidas contraídas com os bancos. Além disso, as ações das empresas tinham se sobrevalorizado imensamente numa ciranda de especulação financeira.
Foi questão de tempo para que a crise no campo causa-se desabastecimento nas cidades que já enfrentavam problemas com o desemprego.

Quando veio o colapso das bolsas, no dia 29 de outubro, conhecida como “quinta-feira negra”, os bancos do país estavam sobrecarregados de dívidas não saldadas, ações supervalorizadas de empresas que estavam em queda e, assim, recusaram refinanciamentos ou novos empréstimos para a habitação, automóveis etc. Calcula-se que cerca de mil hipotecas de casas foram executas por dia após 1929.
A quebradeira levou centenas de bancos à falência. Na época o sistema financeiro norte-americano era extremamente débil. Não havia bancos gigantes, como na Europa. O sistema bancário do país consistia em pequenos bancos locais e regionais. Mas o tombo da economia norte-americana só estava começando.

Disputa pela hegemonia
A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, não só iniciou uma profunda depressão econômica internacional que perdurou por toda a década de 30. Também inaugurou uma época de conflitos inter-imperialistas, abrindo os portões para uma nova guerra mundial.

Com a Grande Depressão, os Estados imperialistas procuravam defender suas burguesias como podiam. E não hesitaram em levantar barreiras tarifaria para proteger seus mercados dos efeitos da crise, contrariando as doutrinas de livre comércio onde julgavam repousar a prosperidade do mundo.

O fim da Primeira Guerra já marcava claramente a crise final da hegemonia inglesa no sistema capitalista, o declínio econômico da Europa e a expansão econômica dos EUA. No entanto, o imperialismo norte-americano ainda não tinha conquistado a posição de potência hegemônica na esfera capitalista. Isto é, sua ascensão ainda não representava uma nova divisão mundial de forças, esferas de influência e mercados.

O poderio dos EUA e o debilitamento do imperialismo europeu conduziam a inevitáveis conflitos com as potências da Europa. Uma tendência prevista em análises da Internacional Comunistas, particularmente por Trotsky nos anos 20.
Mediante uma política expansionista e agressiva, potências imperialistas, como o Japão e a Alemanha dos anos 1930, procuraram uma maior participação no mercado mundial.

Nos EUA, a partir do “New Deal” empregado pelo presidente eleito Franklin Roosevelt pôs uma breve interrupção a depressão. Diante de um enorme desemprego e um possível “descontrole social”, o governo fez com que o Estado interviesse na economia, criando grandes obras de infra-estrutura, salário-desemprego, assistência aos trabalhadores e concessão de empréstimos. No entanto, os Estados Unidos só conseguiram retomar seu crescimento econômico com o início com a produção armamentista para a Segunda Guerra Mundial, no final de 1940.


O “crash” teve enormes desdobramentos e aumentou a polarização social e política em todo mundo nos 1930. A crise levou a uma fragilidade das democracias burguesas, colocando abaixo todas as formas ideológicas que ocultavam as relações de exploração e permitiam a realização dos lucros. Assim, a depressão econômica gerou uma radicalização do cenário político e o confronto direto entre as opções pelo socialismo e o fascismo.

Ao mesmo tempo, o prestígio da URSS crescia entre as massas e opção pelo socialismo ganhou enorme audiência entre os trabalhadores. O movimento operário, na América e na Europa, foi à luta. E foi o destino destas lutas que, em grande medida, selaria o cenário político dos anos subseqüentes.

Nos EUA, o movimento operário levantou sua cabeça e protagonizou importantes greves, como a dos mineiros e a greve dos caminhoneiros em Mineápolis em 1934. A onda de greve no país fez irromper um sindicalismo combativo e um processo de reorganização do movimento sindical, culminando na criação de uma nova central independente, a CIO.

Na Espanha, os operários e camponeses lutaram bravamente contra o golpe fascista de Franco contra o governo republicano. Mas foram derrotados pela política traidora do stalinismo e do PCE de colaboração com a burguesia republicana.

Na França, após a eleição de um governo de Frente Popular encabeçado pelo Partido Socialista, os operários realizaram uma poderosa onda de greves em 1936. Na Inglaterra, os operários também realizaram greves que colocaram dificuldades o governo trabalhista.

Nos países coloniais e semi-coloniais aumentou também a atividade antiimperialista. Na América Latina surgiram regimes nacionalistas burgueses, como de Cárdenas, no México, ou do Para, no Peru. No Brasil, a velha oligarquia cafeeira é substituída do poder pelo populista Getulio Vargas. Na Índia se intensificaram as lutas pela independência nacional.

Mas será a derrota das lutas do movimento operário europeu que vai criar as condições necessárias para o surgimento do fascismo. E foi na Alemanha que se deu o confronto mais decisivo daqueles anos.

A Grande Depressão foi muito sentida no país. No auge da crise, em 1932, contam-se mais de 6 milhões de desempregados, ou 44% da força de trabalho germânica. Cerca de 80% dos filiados do poderoso Partido Comunista Alemão eram de trabalhadores desempregados.

O país já vivia uma fase de crises e instabilidade desde o fim da Primeira Guerra que fez ruir o antigo regime imperial e o substituiu por um novo regime republicano. Quando se precipitou a crise catastrófica de 1929, já era claro que a alternativa colocada diante do país era, tão somente, entre um governo dos sovietes ou uma ditadura fascista. Mas a força e coragem dos trabalhadores da Alemanha não detiveram o perigo nazista. Suas organizações, especialmente o PC, foram incapazes de promover a mais elementar união às vésperas de Hitler tomar o poder. O resultado foi o trágico esmagamento do movimento operário e de suas organizações.

A vitória do fascismo se deu sob as derrotas do movimento operário causada, sobretudo, pela desastrosa política de suas direções, sociais democratas e stalinistas. Para a burguesia germânica, o nazismo foi a solução diante da ameaça da revolução e da impossibilidade de recuperar seus lucros. Com o nazismo se implementaria uma política estatal de rearmamento e o país caminharia para a carnificina da Segunda Guerra Mundial.

Sobre a utilidade do fascismo para a burguesia, Ernest Mandel comentou: “O ascenso do fascismo é a expressão da grave crise social do capitalismo na sua idade madura, duma crise estrutural que, como nos anos 1929-1933, pode coincidir com uma crise econômica clássica de sobreprodução, mas que ultrapassa amplamente uma simples flutuação de conjuntura.(…).A função histórica da tomada do poder pelo fascismo é a alteração pela força e a violência das condições de reprodução do capital, a favor dos grupos decisivos do capital monopolista”.

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