A realidade – com 1,5 milhão de demissões – derrubou o discurso do governo e o
otimismo pregado no final de 2008. Os trabalhadores começam a tomar consciência da gravidade da crise

A crise econômica internacional chegou com tudo ao Brasil. O forte baque sofrido pela economia nacional joga definitivamente por terra a tese do descolamento e a sua atualização, a “marolinha” de Lula. Ninguém mais acredita na possibilidade de a crise apenas esbarrar no país e passar sem causar grandes danos. Os estragos já são sentidos.

A produção industrial sofreu uma forte queda nos últimos meses do ano. Em novembro, já havia caído 5,2% em relação a outubro. Os dados de dezembro ainda não foram divulgados, mas o setor de ponta, as montadoras de automóveis, teve uma queda histórica de 47,1%, segundo a Anfavea. A Folha de S. Paulo informa a expectativa de queda do conjunto da indústria de 7,1% em dezembro.

O conjunto da produção já está caindo. As previsões de queda do PIB no último trimestre de 2008 variam de 1,3% (Sul América Investimentos) a 4,6% (JP Morgan). E todos avaliam que a tendência é piorar neste primeiro trimestre de 2009. Isso levaria, com dois trimestres sucessivos de queda no PIB, a chegar à definição de uma recessão no país. Assim, é provável que já estejamos vivendo uma recessão desde o final do ano passado. Algo muito distante do delírio do governo, que previu um crescimento de 4% em 2009.

Demissões recordes
As demissões em massa já são realidade no país. No fim de 2008, a Vale tomava a dianteira e anunciava 1.300 demissões. Já no novo ano, a GM demitia 802 metalúrgicos em São José dos Campos (SP) e fazia acender a luz vermelha das demissões.

O Ministério do Trabalho divulgou no dia 19 de janeiro o quadro do emprego em dezembro passado. Os números surpreendem, revelando um triste recorde na extinção de empregos no período. Só em dezembro, mais de 1,5 milhão de trabalhadores com carteira assinada foram mandados embora. São exatos 1.542.245 que terminaram 2008 desempregados, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Outros 887.299 foram contratados em dezembro. Assim, o saldo mostra que desapareceram 655 mil postos de trabalho nos últimos 30 dias do ano. Um recorde, superando até mesmo o número de empregos extintos nos EUA, centro da crise mundial e que vive os efeitos de uma recessão há mais de um ano.

As demissões ocorrem principalmente na indústria. Só no setor foram 390 mil demitidos em dezembro. Como as admissões somaram apenas 117 mil, foram extintas 273 mil vagas de emprego. A construção civil, outro setor que garantiu o aquecimento econômico dos últimos anos, extinguiu nada menos que 82 mil empregos.

consciência dos trabalhadores começa a mudar
Até o fim do ano, os trabalhadores vinham acreditando no discurso do governo de que a crise passaria longe do país. As pesquisas ainda indicavam que o povo brasileiro acreditava que em 2009 sua vida iria melhorar. As demissões começam a transformar essa realidade.

Como as demissões atingem a maioria dos setores e regiões, a percepção da crise se generaliza. No entanto, ainda estamos no início dela, e por isso ainda existem muitas desigualdades de categoria para categoria e de região para região. Mas já se pode sentir, em particular nas regiões operárias, uma mudança. Os trabalhadores estão apreensivos, desconfiados, preocupados. Muitos já têm familiares ou vizinhos demitidos, quando não são eles mesmos. Já não existe mais o clima de confiança do passado.

No entanto, a ilusão em relação ao governo segue. A desconfiança se concentra nas empresas, mas Lula ainda tem a popularidade, por sua origem e pelo crescimento econômico passado.

É inevitável que isso mude com a continuidade e o agravamento da crise, mas ainda é parte da realidade hoje. Os trabalhadores já estão vivendo uma crise econômica brutal, mas iludidos em relação ao governo, acreditando que Lula é um aliado.

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