Depois de dois trimestres de queda livre (último de 2008 e primeiro de 2009), a economia mundial apresentou uma recuperação parcial no segundo trimestre deste ano. O que provocou uma propaganda dos capitalistas de que a crise teria terminado. Trata-se, porém, de mais um engano

Os propagandistas da burguesia, muito bem pagos, defendem interesses financeiros (retomar seus negócios especulativos) e políticos (fortalecer os governos de plantão).

Nós defendemos interesses opostos, dos trabalhadores. Nossa obrigação é interpretar a evolução da crise sob a ótica marxista, apontar sua dinâmica e possíveis relações com a luta de classes.

Essa é a maior crise econômica dos últimos 80 anos, e a recuperação atual é apenas conjuntural. Não existe perspectiva imediata de um novo auge como nos anos 90. Essa recuperação momentânea vai levar a uma nova queda violenta, ou a um crescimento anêmico seguido por nova crise. Podemos dizer que a crise está apenas começando.
Vivemos uma crise cíclica de superprodução, das que ocorrem a cada período de seis a nove anos no capitalismo. A crise atual é agravada por ser a primeira em muitos anos em que todas as economias imperialistas entraram em recessão ao mesmo tempo, e por ter seu centro no coração do imperialismo, os EUA.

A superprodução levou a quedas violentíssimas na produção industrial, entre 15% a 25% nos países imperialistas. A indústria automobilística, carro chefe da produção industrial, deve deixar de produzir quase 10 milhões de veículos em 2009.
Mas não se trata de mais uma crise cíclica. Houve uma combinação com uma descomunal crise financeira (a quebra que sacudiu os bancos dos países imperialistas), abrindo um período de maior recessão na economia. Está vindo abaixo uma montanha de capital fictício, a gigantesca bolha financeira acumulada em trinta anos de globalização.

Semelhanças com 1929
A queda abrupta no quarto trimestre de 2008 e primeiro de 2009 se assemelhou ao início da depressão de 1929. Um estudo de dois professores norte-americanos de economia, Barry Eichengreen e Kevin O’Rourke, comparou os dados e chegou às seguintes conclusões: “Na realidade, quando olhamos globalmente, como na figura 1, o declínio na produção industrial nos últimos nove meses tem sido tão severo quanto nos nove meses seguintes ao pico de 1929.”

“O comércio mundial está caindo atualmente com muito mais rapidez que em 1929-30 (figura 2). Isto é altamente alarmante, dada a iminência, pela literatura histórica, da destruição do comércio ser um fator que compõe a Grande Depressão.”
Os dados dos professores provam que as quedas da produção industrial na Alemanha e nos EUA foram semelhantes às de 1929. As da Itália, França e Japão são ainda piores que em 1929. O volume do comércio mundial caiu 15 % na fase atual, frente a 4% no mesmo estágio em 1930.

Os processos recessivos não são lineares. Mesmo na depressão de 1929 houve recuperações parciais. Depois da queda forte, veio uma recuperação em meados de 1930, seguida por uma nova e violenta queda, que foi até 1933. Houve uma recuperação importante entre 1933 e 1937, e outra queda. A depressão de 1929 só terminou mesmo com a Segunda Guerra Mundial.

Esse exemplo histórico é interessante para demonstrar que a recuperação conjuntural atual poderia ser compatível mesmo com uma depressão como aquela. Não achamos que essa seja a hipótese mais provável, embora não possa ser descartada.
O mais provável é que não tenhamos uma depressão no momento, mas um período longo de quinze ou vinte anos de ciclos marcados por crescimentos fracos e crises fortes.

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