Esta é a semana de comemoração da independência do país. Para muitos, a nacionalidade é a soma da língua, das fronteiras e da cultura. Quando falamos de soberania, no entanto, pode-se ver a distância que nos separa de uma verdadeira independência.

As classes dominantes no Brasil sempre escolheram uma covardia histórica, nunca a opção do enfrentamento com os impérios dominantes no mundo. Nunca defenderam uma verdadeira soberania do país. Sempre escolheram meias medidas para preservar seus interesses, nunca qualquer sombra de ruptura.

É até simbólico que a “independência” do país em relação a Portugal seja representada por D. Pedro I, simplesmente o filho do rei português.

Na verdade, antes mesmo da “independência” o país já estava entre a dominação portuguesa decadente e a obediência aos interesses do imperialismo inglês que crescia. No capítulo seguinte, desde a crise econômica de 1929 até a Segunda Guerra Mundial, ocorreu a passagem da dominação inglesa para a norte-americana.

Globalização aumenta dependência
As classes dominantes no Brasil foram se adequando até sumirem ou se transformarem em sócias menores do capital estrangeiro.

A globalização como salto na internacionalização e centralização do capital aprofundou esse processo. A burguesia mais ligada ao mercado interno, que tinha ainda alguns conflitos com as multinacionais (como no governo João Goulart, deposto pelo golpe de 1964), deixou de existir.

Hoje os grandes oligopólios multinacionais controlam o país. Estão presentes na grande indústria (automobilística, química, alimentícia) e nos serviços (telefonia, distribuição energia etc.) e estão invadindo setores antes controlados por empresas brasileiras (como a produção agrária, comércio etc.). Mesmo as “estatais” já estão em um grau avançado de privatização e desnacionalização. O mega-investidor George Soros comprou 22% das ações da Petrobras.

Governo Lula serve aos interesses das multinacionais
A relação do governo Lula com a dominação estrangeira não mudou a submissão. As expectativas de uma “independência do país pelo voto” naufragaram rapidamente. Como Lula não tem nenhuma pretensão de romper com as grandes empresas do país, repete a relação delas com a dominação estrangeira: integração total com o imperialismo.

Fazendo um balanço frio, pode-se dizer que Lula fez bem mais para o imperialismo norte-americano que FHC. Em primeiro lugar, manteve o mesmo plano econômico.

Mas, no terreno internacional, Lula pôde fazer mais pela dominação imperialista que um governo da direita tradicional. Pôde atuar em crises políticas no continente americano como um “governo da esquerda”, em geral alinhado com o governo dos EUA. Foi assim nas crises políticas da Bolívia e da Venezuela. É assim com a ocupação militar do Haiti, a mando de George W. Bush.

Qual é a relação entre dominação estrangeira e miséria?
Muitos brasileiros não ligam o domínio do país por potências estrangeiras com a miséria em que vivem. Entendem que as grandes multinacionais aqui presentes cumprem um papel positivo por “trazerem investimentos”.

Mas as multinacionais não cumprem nenhuma “missão humanitária”. Investem o mínimo necessário para depois poderem enviar para seus países lucros altíssimos, muito superiores ao capital investido. Por exemplo, este ano a remessa de lucros está batendo recordes históricos – as multinacionais estão enviando capitais a suas matrizes para cobrir os enormes prejuízos com a crise internacional que está começando.

Muitos trabalhadores admiram o nível de vida dos países imperialistas como se seus habitantes fossem superiores. Mas existe uma relação direta entre a dominação que sofremos e a miséria dos trabalhadores. São os baixos salários pagos aqui que sustentam o nível de vida elevado nos países imperialistas.

A crise na saúde e na educação no Brasil é parte de um plano econômico que dá altíssimos lucros para os bancos nacionais e estrangeiros. Por isso, quando você entrar em um hospital público em crise, lembre-se de que as verbas que deveriam estar sendo aplicadas aqui estão pagando os hospitais de primeira classe mostrados nos filmes americanos.

Quando os estudantes protestam contra a situação das escolas e universidades, devem saber que estamos financiando as universidades riquíssimas dos EUA e da Inglaterra.

A riqueza deles não é expressão de nenhuma superioridade. O que existe é a dominação da burguesia imperialista sobre os trabalhadores de seus países e dos nossos. Não existiria o “nível elevado de vida” dos países imperialistas sem a miséria de outros países como o Brasil.

O que impede nosso desenvolvimento é a dominação pelas multinacionais e a covarde, submissa e dependente burguesia nacional.

Grito dos Excluídos: por uma segunda independência
A celebração da independência do país para nós é um grito de luta. Por isso, não nos somamos aos atos hipócritas da burguesia e do governo que comemoram a independência e praticam a submissão. Nosso grito é um grito dos trabalhadores que querem lutar por uma segunda e real independência. Por isso nos somamos às manifestações do Grito dos Excluídos que ocorrerão em todo o país.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 352
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