Better to go back than go wrong (melhor voltar do que ir para frente na direção errada)
Sabedoria popular inglesa

Só há bons ventos para quem sabe onde quer chegar
Sabedoria popular portuguesa

Diz-me com quem andas que eu te direi se vou contigo.
Sabedoria popular brasileira

No final do ano passado, às vésperas do congresso do PSUV (Partido Socialista Único da Venezuela), ao participar de um Encontro com as delegações internacionais, Chávez fez a convocatória de uma reunião para Abril de 2010 para fundar uma V Internacional, com o objetivo de procurar: “a unidade dos partidos de esquerda e revolucionários dispostos a lutar pelo socialismo”.(1)

É provável que esta conclamação venha a despertar esperanças. É compreensível que seja assim, tanto mais que Chávez invocou a tradição das quatro Internacionais. A maioria dos militantes sinceros da causa socialista, dispersos no Brasil e no mundo em vários partidos e movimentos, compreende a necessidade urgente do internacionalismo. Uma Internacional para lutar contra o capitalismo seria a forma orgânica de transformar o internacionalismo de compromisso programático, ou iniciativas parciais, como foi a campanha contra a invasão do Iraque, que se apoiou na realização do Fórum Social Mundial de 2003, em uma força política real.

Mas nunca é positivo alimentar esperanças com ilusões. Esperanças, claro, são sempre necessárias. Oxalá fosse possível a fundação de uma Internacional antiimperialista com partidos com influência de massas em vários países. Isso significaria a maior vitória da revolução mundial depois que a contra-revolução estalinista destruiu a Terceira. Infelizmente, não é essa a realidade. Se ilusões são perigosas, em geral, em política, são fatais. O entusiasmo que as ilusões despertam tem pernas curtas. Elas são, irremediavelmente, uma ante-sala de frustrações, portanto, de desmoralizações irremediáveis.

A independência política de classe se impõe como uma pré-condição de uma Internacional anticapitalista. Essa pré-condição, anterior mesmo a uma definição pelo marxismo, é incontornável. Nas condições atuais, porém, em que reina ainda um processo de adaptação da imensa maioria da esquerda organizada às pressões da ideologia da colaboração de classes, é difícil de alcançar. Em política, existem uniões que fortalecem, e outras que enfraquecem a luta pelo socialismo. Dois só são mais fortes do que um, quando se unem para puxar a corda para o mesmo lado. Se cada um puxar a corda em direções diferentes, em vez de se fortalecer, se anulam. Unir quem defende a luta de classes com quem defende a colaboração de classes não faz os socialistas mais fortes, mas os destrói.

Não obstante, a iniciativa recebeu a adesão de François Sabado em nome da corrente conhecida como Secretariado Unificado (SU) da Quarta Internacional que se expressa na França como componente do Novo Partido Anticapitalista (NPA).(2) No Brasil, o chamado à V Internacional já recebeu uma adesão. Pedro Fuentes, veterano militante trotskista, da direção do MES, e secretário de Relações internacionais do PSOL publicou que:

A proposta de Chávez é progressiva diante do vazio internacional existente, um avanço que pode transformar-se em um salto para criar uma nova alternativa à situação atual que vivemos de profunda crise capitalista, para dar uma resposta à política imperialista (…) Queremos participar na construção deste processo que está apenas começando e que tem como próxima data marcada a reunião de final de abril em Caracas.(3)

O texto de Pedro Fuentes apresenta a V Internacional como um projeto em aberto, um espaço em disputa. Mas, evidentemente, não é assim. Assim como o PT não era um Partido em disputa, porque tinha no seu interior um aparelho burocrático cristalizado muito antes de chegar ao poder, a Internacional chamada por Chávez já nascerá como um instrumento consolidado. Quem está dirigindo a convocação da V Internacional não é François Sábado, nem James Petras, (4) Allan Woods (5) , ou Pedro Fuentes. Estes dirigentes, e as forças políticas que influenciam, serão imensamente minoritários nesta iniciativa. Quem está chamando a reunião de Caracas é Chávez e o seu PSUV, e seu projeto é a construção de um Forum para defender o governo venezuelano no sistema internacional de Estados. Estamos, portanto, diante da iniciativa de um governo – um governo que vem perdendo apoio nas classes populares, em função da inflação, do desabastecimento, etc. – que procura uma articulação com partidos (preferencialmente, partidos que estão no poder) para a construção de uma política internacional comum, ao serviço das manobras diplomáticas dos seus Estados. A presença dos revolucionários no seu interior será decorativa.

Alguém pode garantir, com um mínimo de segurança, que a Internacional que se procurará fundar em Caracas terá algum compromisso com o socialismo? Por que seria assim, se os principais partidos presentes em Caracas, e que seriam a espinha dorsal dessa futura Internacional, até hoje, não se incomodaram em apoiar governos, como o de Lula, Evo Morales, Correa, Ortega, Lugo ou Tabaré Vasquez, que se dedicaram, cada um à sua maneira, a tranqüilizar as suas burguesias de que nenhuma medida de ruptura com o capitalismo seria ensaiada?

É bom lembrar que dirigentes políticos declararem-se socialistas, ou até mesmo revolucionários, não foi algo muito excepcional nos últimos cem anos. Ao contrário, a força das aspirações socialistas entre os trabalhadores levou incontáveis líderes a fazê-lo em todos os continentes para conquistarem a confiança popular. Dizer-se socialista foi, contudo, muito diferente de tomar medidas anticapitalistas quando no poder. Chávez desenvolve, há mais de dez anos, o projeto de um capitalismo periférico com forte regulação estatal combinado com programas sociais. Isso tem sido o suficiente para que os governos norte-americanos – Clinton, Bush e Obama – o hostilizem. Mas, o governo norte-americano hostiliza mais ainda o Irã. Como socialistas, devemos defender o Irã e a Venezuela quando são atacados pelo imperialismo, mas não podemos nos enganar a nós mesmos. Ter choques parciais com o imperialismo não é o suficiente para um governo seja considerado anticapitalista. Ou alguém duvida que o Estado venezuelano é capitalista? O próprio Chávez o admite.

É preciso muita inocência ou desinformação para imaginar que o que está acontecendo na Venezuela há doze anos é o mesmo que aconteceu em Cuba entre 1959 e 1961, só que em câmara lenta. Doze anos, não dois anos, nos separam de 1998. Se Chávez estivesse realmente disposto a ruptura com a burguesia venezuelana, essa ruptura teria acontecido depois de 2002, depois da tentativa frustrada de golpe. O lugar político de Chávez é mais semelhante ao dos oficiais do Exército peruano que chegaram ao poder nos anos setenta do que o de Fidel. Seu movimento bolivariano dentro das Forças Armadas não é o Movimento 26 de julho. Na verdade, os partidos convocados para formar a V Internacional não podem ser sequer qualificados, seriamente, como antiimperialistas consequentes. O governo da China, por exemplo, é uma peça chave de equilíbrio do mercado mundial, como principal credor da dívida do Tesouro dos EUA, e na estabilidade do sistema internacional de Estados, exercendo pressão sobre os poucos Estados independentes como Cuba e o Irã.

Se vier a ser constituída, este movimento não originará uma V Internacional, e não será um salto em frente, mas um salto no abismo. Porque é preciso, pelo menos, uma forte dose de credulidade para acreditar que uma Internacional, disposta a lutar por nada menos do que o fim do capitalismo, possa vir a ser fundada em Caracas. Não será unindo numa mesma organização partidos burgueses como o Partido Revolucionário Institucional (PRI) do México, outros com composição social policlassista – como o próprio PSUV, a Frente de Resistência de Honduras, ou o Pólo Democrático da Colômbia – , outros neoestalinistas, como a maioria dos PC’s presentes, e correntes socialistas minorotarias que se construirá uma Internacional. Nada animador poderá nascer da união de partidos diretamente burgueses, outros que defendem a colaboração de classes com partidos que defendem a revolução social anticapitalista. Unidos a estes partidos, os revolucionários não aumentariam sua influência, mas ao contrário, seriam silenciados e, finalmente, corrompidos ou desmoralizados.(6)

Evidentemente, foi legítima a organização de unidades de ação anti-imperialistas em torno de campanhas, como foi no ano passado a solidariedade com a resistência hondurenha contra o golpe, ou a campanha emergencial de solidariedade com o Haiti, reivindicando, também, a retirada das tropas estrangeiras do Haiti. , uma unidade de ação de partidos que se unem em uma campanha com um objetivo comum circunstancial, ou contra um inimigo comum, não é o mesmo que uma Internacional herdeira da tradição da I, II, II, e da IV Internacional. Pedro Fuentes argumenta, contudo, que:

Em nossa opinião, tem muita vigência a frase que disse Marx criticando o extenso, porém ambíguo programa de Gotha, ao redor do qual iriam unir-se duas correntes socialistas alemãs: “mais vale uma ação comum do que meia dúzia de programas”.(7)

Nesta passagem, Fuentes recorreu ao expediente escapista de polemizar com adversários doutrinários imaginários, e invoca o apoio de Marx. O exemplo é, completamente, inadequado. Fuentes teria sido mais feliz se tivesse citado a fundação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) nos anos sessenta, uma iniciativa internacionalista defensiva, mas progressiva, do Estado cubano.(8) Acontece que a Internacional de Caracas é muito mais parecida com a fundação do Movimento dos não alinhados na Conferência de Bandung dos anos cinqüenta.(9) Não por acaso, o bolivarianismo de Chávez é mais parecido com o pan-arabismo de Nasser.

Por outro lado, Fuentes esqueceu-se de dizer que em Gotha uniram-se duas tendências do movimento operário alemão, os lassaleanos e os marxistas. Duas tendências proletárias, não uma corrente militar burguesa nacionalista associada a tendências reformistas pequeno-burguesas da esquerda venezuelana, e outra socialista. E, ainda assim, Marx ficou furioso com os líderes alemães da sua corrente, August Bebel e William Liebknecht, por terem feito concessões injustificadas ao lassaleanos, porque prezava a clareza do programa. De resto, se Marx soube ser flexível nas táticas era, todavia, irredutível nas questões de princípio. Nunca defendeu que os socialistas deveriam se unir a correntes burguesas que defendem a regulação estatal do capitalismo.

Estamos de acordo com Fuentes que a Internacional que precisa ser construída terá que ser, necessariamente, um reagrupamento de correntes de diferentes tradições, logo com acordos programáticos delimitados e que a convivência com diferenças, por um período imprevisível, será provável. Enquanto trotskistas, estamos dispostos a ser minoritários, em uma Internacional revolucionária. Mas Pedro Fuentes aposta que:

O que se trata no chamado de Caracas é construir um reagrupamento onde se encontrem o novo nacionalismo radical bolivariano, as novas correntes antiimperialistas, indigenistas e anticapitalistas com a esquerda socialista.Um dos requisitos para que este processo avance é que tenha o critério de uma organização ampla de frente única, que possua traços mais parecidos com a Primeira Internacional de Marx do que com outras organizações. (10)

Fuentes esgrime seu principal argumento: a V Internacional será progressiva porque será parecida com a Primeira. Acontece que, honestamente, esta não foi a proposta que saiu de Caracas. Não é essa a delimitação política do chamado de Chávez. Na Primeira Internacional existiam, várias correntes, umas mais reformistas, como os seguidores de Proudon, e outras mais insurrecionais, como os anarquistas de Bakunin, mas todas eram independentes da burguesia e dos Estados. Uma frente de partidos interessados em articular uma rede de apoio político a governos burgueses não será uma Internacional Socialista, mas uma agência de sustentação da diplomacia de Estados. A Internacional de Caracas será um instrumento de pressão pela coexistência pacífica com o imperialismo. Por outro lado, na época de Marx ainda não havia surgido o imperialismo contemporâneo. A Internacional de Caracas não será sequer antiimperialista, porque não é possível uma política antiimperialista, na época da decadência do imperialismo, sem a disposição de ir além do capitalismo. Essa foi a principal lição histórica da revolução cubana que Fidel, a partir do final dos anos sessenta, renegou.

Podemos concordar que uma Internacional inspirada no exemplo da Primeira – que seria, hoje, uma mediação histórica – que unificasse o que existe de movimento operário, sindical e socialista independente e comprometido, resolutamente, com a luta de classes, poderia ser progressiva. Não seríamos nós os ultimatistas a colocar obstáculos doutrinários. O internacionalismo proletário pode ser um estágio de maturação na direção do internacionalismo revolucionário.

O ensaio de um processo deste tipo foi, muito modestamente, o que a Conlutas vem tentando animar na América Latina e, nesse sentido, realizou o ELAC em 2008.(11) Na mesma direção, acompanhamos com muito interesse experiências do sindicalismo combativo que se desenvolvem na França (através dos SUD, por exemplo), na Itália, e na Alemanha, e que permitiram uma aproximação, recentemente, em Basiléia, com a realização do L’Autre Davos. No entanto, independente da opinião que cada um possa ter sobre a natureza do governo Chávez, toda comparação do que aconteceu em Caracas com a Internacional de Marx é pior do que um exagero, é uma comparação disparatada.

Toda a experiência histórica sugere que uma Internacional socialista é um desafio imensamente maior do que um organismo de frente única sindical à escala internacional, só poderá ser construída como um instrumento de luta se for alicerçada em um programa comum e se for independente de Estados e governos. Um programa comum pressupõe uma mínima apreciação sobre os impasses das experiências de transição ao socialismo. As indefinições do compromisso de Caracas sobre o que se possa considerar como socialismo exigem um mínimo de prudência, depois de décadas de socialdemocracia fazendo a gestão do capitalismo, e da catástrofe da restauração capitalista na ex-URSS e no Leste europeu, conduzida pelos dirigentes dos PC’s como Gorbatchev e Yeltsin. (12)

O que Fuentes propõe aos militantes da esquerda socialista brasileira não é ousadia, mas uma aventura. Não foi outro critério que animou o MES a defender o apoio a Marina Silva, com resultados conhecidos. Recuaram, depois de alguns meses, felizmente, quando se descobriram, vertiginosamente, diante do abismo. Cautela, seriedade e vigilância são reflexos políticos responsáveis, não sectários. Uma bandeira política manchada não pode ser lavada.

Esta defesa da fusão do nacionalismo chavista e do indigenismo de Evo com o marxismo revolucionário confessa uma ingenuidade política incorrigível, depois do que a esquerda brasileira viveu com a experiência de trinta anos com o PT e Lula. Não acontecerá porque tanto o governo boliviano como venezuelano não se situam em ruptura com o capitalismo. Quem o diz são eles mesmos. O que podemos verificar neste processo não é evolução do chavismo na direção do internacionalismo revolucionário, mas o inverso: a orientação política do MES vem evoluindo, vertiginosamente, do internacionalismo para o reformismo.

Os campistas apoiavam seus argumentos com uma demonstração simples de sua estratégia. O mundo estava dividido em dois campos, o capitalista e o socialista. Seria uma questão de tempo para que a superioridade do socialismo fosse arrasadora. Hoje os chavistas defendem também que o mundo está dividido em dois campos. De um lado o imperialismo norte-americano, e do outro a Venezuela e seus aliados (Bolívia, Equador, Nicarágua), mas, também, por exemplo, o Irã.

Segundo o estalinismo campista, revoluções sociais teriam sido enterradas pela história, porque o arsenal nuclear do imperialismo ameaçava a própria existência da civilização. Logo, toda a estratégia consistia em ganhar tempo para que a transição ao socialismo por via pacífica, respeitando as formas democráticas das Repúblicas burguesas, fosse conquistada, mesmo que consumisse décadas. Não é outro o argumento chavista: não foi possível enfrentar a burguesia venezuelana, em função da relação de forças no sistema internacional de Estados. Os estalinistas iam até o fim: a coexistência pacífica favorecia, presumia-se, a passagem ao socialismo. A luta de classes deveria estar subordinada aos interesses diplomáticos da URSS nas relações com os EUA: a situação mundial se resumia a uma luta entre Estados. Como se pode conferir, o discurso dos dois campos do chavismo, hoje, é exatamente o mesmo do estalinismo, ontem.

Algumas poucas vozes marxistas alertaram para as perigosas conseqüências dos critérios campistas. A tradição associada à elaboração de Leon Trotsky se destacou na reivindicação do internacionalismo socialista: o antagonismo entre capital e trabalho permanecia a contradição ordenadora para um projeto socialista. Os internacionalistas reconheciam a existência de inúmeras outras contradições. Admitiram que seria justo se posicionar em defesa dos Estados pós-capitalistas contra os capitalistas, em defesa das nações oprimidas contra as opressoras, em defesa de regimes democráticos quando ameaçados pelo perigo de quarteladas ditatoriais.

Mas, sustentaram que os antagonismos de classe continuavam sendo a contradição fundamental do capitalismo. Um projeto anticapitalista dependeria, estrategicamente, da reconstrução de um movimento operário independente. Esta tradição político-programática não hesitou em defender a URSS e, de resto, qualquer Estado periférico diante do imperialismo. Não compartilhava, contudo, o critério da defesa incondicional de Moscou, Pequim, Tirana ou Havana, porque associava o futuro do socialismo à defesa, também, dos interesses da classe trabalhadora na URSS, na China, na Albânia ou em Cuba, contra os privilégios das castas burocráticas no poder nesses países. Nem todos os defensismos da URSS e dos Estados que surgiram das revoluções sociais do século XX eram, portanto, campistas. Existiu uma alternativa à estalinofilia, e à estalinofobia. Se nossa tradição não sucumbiu à pressão de Moscou, por quê capitular diante da pressão de Caracas?

O vazio internacional de organização independente dos trabalhadores é verdadeiro. As explicações para a inexistência de uma Internacional com influência de massas são complexas, e nos remetem à história. O processo no qual as posições internacionalistas foram, politicamente, derrotadas e, por isso, permaneceram minoritárias, preservando uma herança, mas acumulando, também, os vícios políticos da marginalidade ainda não foi superado. A IV Internacional não existe mais como partido. A reconstrução da IV Internacional permanece necessária, e a LIT-QI está a serviço dessa tarefa. Mas, sempre que, por impaciência política, se procuraram atalhos, aconteceram desastres.

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(1)Uma reportagem sobre o Congresso do PSUV e o discurso de Chávez defendendo o Compromisso de Caracas, e a resolução do Encontro Internacional, pode ser encontrada em: www.kaosenlared.net/noticia/congresso-extraordinario-do-psuv-hugo-chavez-nossa-tarefa-no-salvar-ca

(2) A nota assinada em nome do Bureau Executivo da IV Internacional pode ser consultada no site português Combate que identifica os militantes da Associação Política Socialista Revolucionária (ex-PSR) que atuam no Bloco de Esquerda:

(3)O artigo completo está disponível na Internet no blog da Luciana Genro: http://www.lucianagenro.com.br/2010/01/o-chamado-de-chavez-a-formar-uma-v-internacional/ consultado em 24/02/2010.

(4)Petras declarou em entrevista publicada no site Rebelion, apoiando a proposta de Chávez, que: “a V Internacional Socialista é a resposta do Sul à ofensiva imperialista.” Conferir em: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=95994

(5)Allan Woods é um dirigente trotskista da Tendência Marxista Internacional, uma corrente conhecida como Militant, pelo nome do jornal que anima há várias décadas no interior do Labour Party da Grã-Bretanha. Foi recebido por Chávez, e escreveu defendendo argumentos semelhantes aos de Fuentes sobre a V Internacional.

(6) É curioso que a proposta parece ter sido apresentada de surpresa, o que não pode ser considerado senão insólito, se considerarmos a ambição do projeto. No entanto, a tradição do radicalismo retórico latino- americano tem raízes antigas no que ficou conhecido como o populismo: a experiência dos governos bonapartistas sui generis, uns mais autoritários como de Perón – entre 1945/55 – outros de tipo semi-democrático com o de Cárdenas – nos anos trinta. Getúlio Vargas fez variantes dos dois: na década de trinta, até 1943, do primeiro, e no início dos anos cinqüenta, do segundo. Já no início dos anos oitenta, ao voltar do exílio, Brizola reivindicava um pomposo “socialismo moreno”. Menos desconcertante e mais revelador das intenções do projeto é que foi dirigido, indistintamente, a todas as delegações que estavam presentes. Ali estavam tanto as direções do PRI do México (que nunca se considerou a si próprio, nem foi considerado por ninguém minimamente informado e com juízo, como de esquerda), do MAS da Bolívia (que define o projeto de governo de Evo Morales como um sensacional capitalismo andino), do PC da China (que deixou, democraticamente, de fazer restrições à presença de milionários na sua direção, mas não hesitou em mandar o exército fazer na praça central de Pequim o mesmo que Carlos Andrés Peres fez no Caracazo) do PT do Brasil (que nunca se qualificou a si mesmo como um partido revolucionário) quanto do PC de Cuba (que defende a preservação do Fórum de São Paulo, e renunciou às iniciativas de construir até mesmo um embrião de Internacional desde o fim da OLAS, há mais quarenta anos).

(7)Ibidem.
(8)Em 1966, o Congresso Tricontinental reuniu, em Havana, movimentos da Ásia, África e América Latina. A Conferência da OLAS aconteceu em julho/agosto de 1967. As organizações presentes se definiram como movimentos antiimperialistas que abraçavam a tática da luta armada como via de luta pela emancipação dos povos. Depois do assassinato do Che Guevara na Bolívia em outubro do mesmo ano, o projeto se frustrou.

(9) A Conferência de Bandung, na Indonésia em 1955, foi uma iniciativa de Estados que animou a ideologia do terceiro-mundismo. Os países imperialistas seriam o Primeiro Mundo, a URSS e os países do Leste seriam o Segundo Mundo, e as ex-colônias seriam o Terceiro Mundo. O protagonismo público da convocação foi assumido pela Índia, mas contou com o apoio de Pequim. Assumiu oposição ao que era o neocolonialismo dos EUA, mas, também, distâncias da URSS, criando no auge da guerra fria, o Movimento dos Não-Alinhados. Todos os 29 Estados presentes se autodeclaravam como socialistas.
(10) Ibidem.
(11) O Encontro Latino-americano e caribenho (ELAC) aconteceu em 2008, na cidade de Betim, na seqüência do Congresso da Conlutas do Brasil, e foi convocado por um Manifesto animado pela COB da Bolívia, a Tendência Sindical Classista do Uruguay, o Batay Ouvrière do Haiti e a própria Conlutas. O MES não participou.

(12) Afinal, parece difícil conciliar uma defesa séria do socialismo, e a improvável, porém, desejada presença em uma Internacional do PC da China e do PT do Brasil (que não assinaram o compromisso) considerando-se a terrível experiência de “socialismo de mercado” da ditadura chinesa, e de capitalismo regulado por políticas sociais compensatórias do governo Lula. Seria impensável que uma reunião com internacionalistas sérios possa ser iniciada, por exemplo, sem o questionamento da presença dos dirigentes do Partido Comunista da China, que têm nas suas mãos o sangue dos estudantes assassinados em Tian An Men em 1989. Seria inimaginável a presença na mesma Internacional de revolucionários honestos e a direção lulista, que defende a presença das tropas brasileiras no Haiti. Podemos imaginar quem seria convidado a se retirar: François Sábado ou os dirigentes do PC da China? Pedro Fuentes ou os dirigentes do PT brasileiro? James Petras ou os dirigentes do PC de Cuba?