Quando Arturo Martinez, presidente da CUT chilena, convocou a primeira greve nacional depois de dezessete anos, ninguém pensou que a classe operária iria responder e mostrar ao mundo que a estabilidade da economia chilena não passa de cifras que engordam os bolsos das multinacionais, enquanto o povo se vê cada vez mais sem direitos.

Certamente o presidente Ricardo Lagos ainda está incrédulo. Antes da greve do dia 13 de agosto, ele afirmava que os 51% dos eleitores que o elegeram lhe concederiam mais tempo para conseguir sair da crise.

Uma semana antes da mobilização, apressou-se em enviar um projeto de lei para que as reclamações trabalhistas sejam julgadas de forma mais rápida, ao mesmo tempo em que enviava o projeto de “adaptabilidade trabalhista”, que não é outra coisa que a conhecida flexibilização e perda de direitos.

A preparação da greve

Apesar das ameaças do governo de aplicar a lei “antiterrorista” aos dirigentes sindicais, e a repetida ameaça de deixar cair “todo o peso da lei” sobre os manifestantes, alegando que a greve “prejudicaria a imagem de estabilidade que tinha o país”, o governo não conseguiu diminuir a adesão à greve.

Na noite anterior e como última cartada, o presidente apareceu em cadeia nacional de TV e anunciou a esperada proposta sobre Direitos Humanos, o que apenas serviu para radicalizar ainda mais o movimento, pois a proposta do governo abre caminho para deixar impunes os responsáveis dos crimes da ditadura.

Na medida em que se aproximava o dia da greve, era possível sentir o clima de mobilização que se instalava. Eram formados comitês para organizar a paralisação, panfletos eram distribuídos nas principais praças e avenidas e as paredes das cidades começavam a encher-se de cartazes.

Os sindicatos, um a um, iam comunicando a adesão à paralisação junto com declarações de apoio de organizações sindicais e políticas. Não havia dúvida de que em todo o país os trabalhadores expressavam a necessidade da paralisação nacional, rompendo assim quase duas décadas de atomização das lutas dos trabalhadores, dos estudantes e do povo.

A classe operária entra em cena

A grande dúvida que tinha o governo sobre o grau de adesão à paralisação foi dissipada logo nas primeiras horas da manhã, quando a TV mostrava uma interminável fila de táxis cortando uma das principais vias de acesso ao centro da capital.
A repressão não se fez esperar. O movimento foi duramente reprimido e heroicamente defendido pelos principais atores deste dia: os trabalhadores. Organizados em seis colunas espalhadas por distintos pontos da cidade, integradas por trabalhadores da saúde, professores, funcionários públicos e de empresas privadas, os trabalhadores resistiram às ameaças de demissões e represálias e aderiram à paralisação.

Estimulados pelas notícias que vinham da região do cobre, onde as estradas de acesso às minas foram fechadas, crescia a paralisação em todo país. A TV mostrava escolas vazias, uma adesão de 80% dos professores e 100% dos alunos; nos hospitais a adesão foi de 80% e nos postos de saúde, 100%, apenas casos de urgência eram atendidos. Na vanguarda da greve esteve o transporte público, com uma adesão de 100% no decorrer do dia. Também os funcionários públicos aderiram massivamente, apoiados pela população.

Ao cair da tarde um panorama desolador se abatia sobre o centro da capital, quando os manifestantes, apesar da brutal repressão, tentavam romper o cerco policial que impedia que as marchas chegassem até a sede da CUT.

A polícia utilizou carros “lança água”, bombas de gás lacrimogêneo, tornando irrespirável o centro de Santiago. Tudo isso para impedir que as marchas convergissem até a sede da CUT. No entanto, mais de dez mil trabalhadores romperam o cerco e, depois de três horas de luta com a polícia, chegaram à sede da Central para protestar contra o governo, como há décadas não se via no Chile.

Apesar da coalizão eleitoral que sustenta o governo, Pacto dos partidos pela democracia, ter afirmado que esta não era uma luta contra o governo, ela foi uma grande paralisação contra o governo e os empresários que estão entregando o país ao imperialismo e aplicando os planos do FMI. Foi uma paralisação histórica, sendo os trabalhadores seu principal motor e refletindo o desgaste do governo Lagos.

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É necessário um plano de lutas

A paralisação de 13 de agosto foi um grande triunfo dos trabalhadores, mas é necessário garantir sua continuidade para derrotar os planos de ataque do governo Lagos contra a classe trabalhadora. É preciso um plano de mobilização que dê continuidade à luta por trabalho, em defesa da educação pública e do direito à saúde em vias de privatização.

Os trabalhadores demonstraram sua disposição de luta criando organizações pela base. Porém, apesar da resposta positiva da base, tanto no terreno da luta como no da organização, a direção da CUT não faz nenhuma proposta de continuidade.

O governo do Chile é um dos mais fiéis capachos do imperialismo na América Latina. Recentemente assinou um acordo de “livre comércio” com os EUA, preparando a entrada na Alca. A unificação das lutas não está garantida e há o risco de que a unificação conquistada no dia de paralisação não se traduza na continuidade deste processo.
O Movimento pelo Socialismo (MPS) lutará por um plano de lutas, apoiado nas organizações de base surgidas no calor da mobilização e exigirá da direção da CUT que apoie-se na base e chame a unificação das lutas para derrotar o governo e os planos do imperialismo.

Post author Do Movimento pelo Socialismo do Chile (MPS),
especial para o Opinião Socialista
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