A globalização e a tecnologia deram saltos gigantes, mas só beneficiou de fato a vida dos ricos. Muitos trabalhadores se sentem felizes simplesmente pela possibilidade ter acesso a tecnologias como a Internet, celulares, uma tv de plasma, câmera digital. Mas esses produtos e outros tantos que nos cercam no dia-dia nascem das próprias mãos dos trabalhadores. Toda a riqueza gerada com a sua venda, porém, sempre acaba ficando na mão de poucos, os patrões.

Todos esses avanços tecnológicos não permitiram uma melhora nas condições de vida dos trabalhadores. Quem produz a riqueza de nosso mundo está cada vez mais trabalhando em condições degradantes.

Os patrões só têm um objetivo: o lucro. E os trabalhadores é que sofrem as conseqüências. Essa insana busca por lucro submete os trabalhadores a cada vez mais exploração. A atual crise econômica deixa provas disto. Com as demissões, aumenta-se a exploração através da retirada de direitos e a imposição do aumento da jornada de trabalho.

Nos últimos anos, podemos afirmar sem sombra de dúvidas que o ritmo de trabalho tem se acelerado. E esse aumento do ritmo de trabalho tem várias resultantes, mas uma que tem se evidenciado notoriamente são as doenças ocupacionais.

Doenças como tendinite, bursite, problemas de coluna como hérnia, bico de papagaio, doenças respiratórias entre tantas têm se tornado comum no ambiente de trabalho. Ns fábricas, nos canteiros de obras, banco, escolas, usinas, nas “baias” de telemarketing e até mesmo entre os profissionais de saúde, estas e outras tantas doenças estão ser tornando comuns.

Outra doença “invisível” que tem afetado um número cada vez maior de trabalhadores é a depressão. Na Embraer, por exemplo, o assédio moral, a pressão da chefia e a exposição a produtos químicos produzem um número cada vez maior de trabalhadores portadores de transtornos mentais. Outra categoria que vive um surto de doenças psíquicas é a dos professores. Esses trabalhadores, infelizmente, ainda têm que conviver com todo o preconceito da sociedade sobre doenças como depressão e stress.

Vivemos uma verdadeira epidemia no mundo do trabalho. As doenças profissionais estão crescendo a cada dia, e elas crescem no mesmo ritmo da ganância dos patrões.

No chão de fábrica e na história do Brasil
Hoje, mais do que nunca, existe uma grande necessidade de a classe enfrentar esta situação. E para isso deve utilizar todos os seus instrumentos históricos, como os sindicatos, partidos e outros organismos. Os trabalhadores devem se organizar a partir de todas as suas ferramentas. A CIPA é uma destas ferramentas e pode e deve cumprir esse papel.

A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes é um órgão bi-partite, pois é composta por metade de representação eleita pelos trabalhadores e metade indicada pela empresa. Tem como definição a prevenção de acidentes e doenças nos locais de trabalho.

A CIPA no passado cumpriu um importante papel na reorganização do movimento sindical no nosso país, principalmente na década de 80. Era através da CIPA que as oposições se organizavam para formar chapas de luta e concorrer às eleições contra os pelegos que já estavam à frente dos sindicatos por muitos anos, sustentados pelos governos militares.

Desde então, a CIPA cumpre um papel de extrema relevância na luta da classe trabalhadora. Vivemos um momento na história de nosso país de poucas lutas operárias. E nestes momentos, o trabalho de base se torna primordial para combater a burocratização dos sindicatos de luta. É uma das alternativas para combater a atual burocracia sindical e governista, como foi determinante no processo de reorganização do movimento operário na década de 80.

O desafio do movimento operário combativo que de fato está interessado em melhorar as condições de trabalho, e porque não dizer, da vida do trabalhador, deve encarar como tarefa primordial fortalecer a organização dos trabalhadores no local de trabalho.

Este trabalho pode se dar através das Comissões de Fábrica, delegados sindicais e tantos outros meios, que a própria classe e suas direções acabam criando. Mas, principalmente através das CIPA´s, que legalmente permitem a estabilidade no emprego a seus membros podendo também organizar os trabalhadores.

A história que as CIPA´s de luta protagonizaram na reorganização do movimento operário de nosso país ainda está viva na memória dos trabalhadores no chão de fábrica. A CIPA da General Motors em São José dos Campos é um exemplo disto.

Ferramenta de luta e organização
Frente às nefastas mudanças no mundo do trabalho, organizar as CIPA´s de luta também requer estudar o reflexo desta reorganização na vida dos trabalhadores. Pois lutar por ambientes dignos, prevenir acidentes e poder evitar doenças ocupacionais significa lutar por um futuro digno, a vida da nossa classe em busca de uma sociedade socialista.

Sendo coerente com toda essa situação e opiniões expostas acima, e também cumprindo as resoluções de seu 10º congresso, o Sindicato dos Metalúrgicos lançou dois materiais para auxiliar os trabalhadores neste processo de organização local de trabalho: a Cartilha e o Manual do Cipeiro.

A Cartilha da CIPA, é um material que expressa a importância da CIPA. A idéia desta cartilha é expor aos metalúrgicos que estão no chão de fábrica a importância da CIPA e como deve ser a atuação do cipeiro.

O Manual do Cipeiro, mais denso que a cartilha (tem cerca de 70 páginas) tem como objetivo orientar a atuação dos cipeiros classistas, informar sobre seus direitos e deveres, tirar suas principais dúvidas a respeito das normas de saúde e segurança que devem ser seguidas pelas empresas e explicar pontos importantes da legislação, que estejam relacionados ao trabalho de CIPA. São esses os principais objetivos deste manual elaborado pela Secretaria de Organização de Base e o Departamento de Saúde da entidade.

O objetivo destes materiais é auxiliar não só atuação das CIPA´s da base metalúrgica de São José dos Campos como também as CIPA´s espalhadas pelo país, é parte da concepção de atuação sindical verdadeiramente democrática e classista que a nova central, sindical e popular CSP-Conlutas tem orgulho de carregar em suas bandeiras.

A CIPA é mais uma das ferramentas da nossa classe para combater a exploração capitalista e elevar a consciência dos trabalhadores no local de trabalho da necessidade de se organizar nos sindicatos e também nos partidos verdadeiramente operários.

* Herbert Claros (Vice-presidente) e Patrícia Penna (Coordenadora da Secretária de Organização e Trabalho de Base) do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região