Está prevista, para o dia 30 de setembro, a capitalização da Petrobras. O barril do petróleo que será usado para isso vai custar, em média, US$ 8,51. O valor foi comunicado dia 2 de setembro pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A capitalização será feita por meio de uma “cessão onerosa”. O governo vai ceder cinco bilhões de barris de petróleo custando US$ 42,533 bilhões.

Segundo Mantega, sete campos de reserva serão entregues à Petrobras para exploração: Tupi Sul, Florim, Peroba, Tupi Nordeste, Guará, Iara e Franco. O campo de Peroba, no entanto, só será acionado se a extração nas demais reservas não alcançar o volume de cinco bilhões de barris.

Desde outubro de 2009, o barril de petróleo bruto é vendido no mercado internacional a um preço médio de US$ 80 – cinco bilhões de barris de petróleo valem US$ 400 bilhões. O governo Lula entrega à Petrobras uma riqueza que vale US$ 400 bilhões por apenas US$ 42,533 bilhões.

Se a empresa fosse totalmente estatal, seria compreensível. Porém, atualmente, a União detém somente 29% das ações preferenciais da Petrobras. Assim, 71% serão entregue aos acionistas privados. Destes, cerca 50% são acionistas da bolsa de Nova Iorque. São mais de US$ 357 bilhões para os especuladores internacionais.

O absurdo é tanto que o petróleo extraído do campo de Iara será “cedido” ao valor de US$ 5,82 o barril. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, lembrou que a escolha da área de Franco para fazer a maior capitalização reflete o melhor conhecimento exploratório que existe no momento. “Não teremos nenhum risco em relação ao volume [de petróleo]”.

Especialistas governistas ou diretores da Federação Única dos Petroleiros (FUP) dizem que esse cálculo é exagerado, pois há o custo de produção. Acontece que o custo médio mundial de extração e refino de um barril de petróleo bruto é US$ 9,28 dólares.

Some-se, então, os US$ 9,28 da extração e refino e os US$ 8,51 pagos a União e chegaremos a um custo total de US$ 17,79, faltando ainda US$ 62,21 para chegar aos US$ 80. Ou seja, os 70% de acionistas privados da Petrobras ganharão com essa negociata da “cessão onerosa”, só em lucro líquido, US$ 311 bilhões.

E o mais impressionante é que, desde que foi anunciada a “cessão onerosa” dos cinco bilhões de barris de petróleo bruto para a Petrobras, suas ações ordinárias e preferenciais caíram na bolsa de valores. No primeiro semestre de 2010, a queda foi de 24% no valor das ações da empresa.

Como se explica que uma empresa, que ganhará um “bônus” de mais de US$ 300 bilhões de dólares, tenha suas ações em queda? Só há uma explicação: pura e absoluta especulação financeira.

Os especuladores internacionais estão derrubando as ações para depois comprá-las na capitalização a um preço mais barato. Só George Soros, testa-de-ferro de especuladores internacionais, acaba de repassar US$ 9,1 milhões em ações ordinárias e US$ 5,8 milhões em ações preferenciais da Petrobras para outros especuladores. Ações que, rapidamente, chegarão a valer mais de US$ 400 milhões de dólares.

Assim vai ser com todo petróleo do pré-sal. Dados da Petrobras informam que a reserva total do Pré-Sal pode estar entre 50 e 100 bboe (bilhões de barris de óleo equivalente). Reservas provadas acima de 100 bboe só existem na Arábia Saudita, Irã e Iraque. Isso significa que o valor da riqueza do Pré-Sal pode chegar a US$ 8 trilhões.

O Pré-Sal foi fatiado pelo governo Lula e distribuído às empresas petrolíferas – Big Oil, petroleiras independentes e Petrobras. As Big Oil, grandes multinacionais petroleiras, ficam com quase metade do bolo do Pré-Sal, US$ 3,52 trilhões. Do restante, 37% foram leiloados, 44% estão reservados para as empresas estrangeiras e apenas cerca de 20% serão controlados pela Petrobras. Já a União só detém, hoje ,um terço das ações preferenciais da Petrobras.

O prejuízo para o povo brasileiro
De um barril de petróleo bruto, quando destilado, são retirados 14 litros de gás de cozinha, que custa US$ 9,58, cobrindo por completo o custo de sua extração e refino.

No Brasil, o preço de um botijão de gás de 13 quilos (31,5 litros) é R$ 35 (US$ 19,95). Significa que metade de um botijão de gás de cozinha (US$ 9,98) cobre os custos de extração e refino das empresas petrolíferas.

De um barril de petróleo bruto, são retirados 74 litros de gasolina e 34 litros de diesel, além de 37 litros de outros produtos, incluindo os derivados nobres do setor petroquímico. O preço da gasolina e do diesel de um barril de petróleo bruto totaliza, na bomba, hoje R$ 260 reais (US$ 148), 1.495% acima do custo de extração e refino.

O povo brasileiro está sendo roubado descaradamente. Vai perder o Pré e o Pós-Sal para os as grandes multinacionais e os especuladores financeiros e terá de continuar pagando caro pelo gás de cozinha, pela gasolina e pelo diesel.

É urgente a reestatização da Petrobras e a retomada de todos os blocos exploratórios e campos de produção de petróleo bruto, sem indenizações e a nacionalização de todas as empresas petrolíferas que operam no Brasil. Com o monopólio estatal da exploração e do refino do petróleo, poderemos ter gasolina muito mais barata.

O preço dos alimentos também caíram, pois o transporte de carga seria mais barato. O preço das absurdas passagens de ônibus e do transporte coletivo vão cair vertiginosamente, e o gás poderá ser dado de graça para a população mais carente.

O petróleo tem que ser nosso, de todo o povo brasileiro!

*Dalton Santos é geólogo da Petrobras e diretor do Sindipetro-AL/SE
**Américo Gomes é advogado com especialização em política e relações internacionais, assessor do Sindipetro-AL/SE