Para falar sobre os rumos que a luta contra o golpe vem tomando, o Opinião entrevistou Tomás Andino, integrante da Frente de Resistência

Opinião – Como estão as mobilizações neste momento? A luta contra o golpe se restringe aos bairros? Há alguma perspectiva de greve geral ou ação centralizada nacionalmente?

Tomás Andino – Agora predominam as mobilizações do tipo marchas, tanto na capital, Tegucigalpa, como em vários departamentos do país, como Santa Barbara e Colón (onde ocorreram bloqueios em massa de estradas), Olancho, Comayagua, Atlantida e Intibuca (onde houve marchas e caravanas). As lutas dos bairros em Tegucigalpa não se estenderam em nível nacional e, com o decreto de estado de sítio, tiveram certo recuo, não por falta de combatividade, mas devido ao fato de a Frente [de Resistência Contra o Golpe] não ter dado orientações específicas para apoiar essas lutas locais, e porque o fechamento da rádio Globo e do canal 36 desmoralizou as bases.

No entanto, neste próximo domingo, 4 de outubro, será realizada uma grande assembleia de todos os comitês dos bairros da cidade para tentar marcar uma luta sincronizada para a próxima semana. A direção da Frente mostra-se a cada vez mais tímida, lenta e conservadora para chamar as mobilizações. Não organizou conscientemente a luta nos bairros, e também mostra indisposição em organizar bloqueios de estradas e mais ainda uma greve geral ou paralisação cívica.

Esta situação causa muito descontentamento na base, entre dirigentes intermediários e de cúpula. Há um descontentamento especialmente entre o magistério e nas regiões. Minha hipótese é que suas atuações têm estado condicionadas pelas orientações de Manuel Zelaya, transmitidas por meio dos representantes do Partido Liberal na Frente. Em razão do descontentamento, a base está se ausentando muito das mobilizações centrais e prefere fazer qualquer coisa em seus bairros.

Depois do estado de sítio e do fechamento de meios de comunicação, alguns integrantes e apoiadores do governo golpista falaram sobre “disposição em negociar”, inclusive Oscar Galeano, chefe da principal entidade patronal do país. O que você e os ativistas da Frente pensam sobre isso?

Tomás Andino – Os golpistas chamam o diálogo porque está acabando o tempo para as eleições [previstas para novembro]. Sabem que não podem ir às eleições se a crise continuar, em especial se a agitação nos bairros continuar sendo uma ameaça latente. Por isso, a política pró-diálogo de Zelaya lhes favorece. Mas, neste ponto, os golpistas têm tido sua mais importante divisão: alguns iniciaram o diálogo (os empresários, as igrejas, os políticos e as ONGs), enquanto os militares e a polícia, que influem decisivamente sobre Micheletti, reagiram endurecendo as medidas de exceção, como o estado de sítio. Ambos os setores se enfrentaram no Congresso Nacional e Micheletti saiu perdendo porque seu decreto foi recusado. Ainda assim, ele vacila em revogá-lo porque teme a luta popular.

A base da Frente não quer diálogo com os golpistas, ainda que alguns dirigentes, em especial os liberais e da UD [Unificação Democrática], que são políticos, desejariam que a Frente não só apoiasse, mas participasse do dito diálogo para chegar a um acordo e participar do processo eleitoral. Desafortunadamente, a condução da Frente está tornando-se cada vez mais burocrática e restringe a discussão deste ponto, devido à influência dos liberais. Mas essa situação não poderá se sustentar por muito tempo. A esquerda da Frente defende uma condução mais democrática para debater na base estes temas e aprofundar a mobilização e sua autodefesa. Este debate ainda não é dominante, porém, começa a se dar progressivamente.
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