Os trabalhadores de todo o país deveriam prestar atenção aos fatos ocorridos na recente greve bancária. O circo das eleições gira ao redor da farsa da grande batalha entre o candidato dos pobres (Lula) e o candidato das elites (Alckmin).

Nada melhor do que os fatos de uma greve desta dimensão para mostrar as verdades por trás de máscaras e disfarces. Na greve, como na vida real ignorada pelas eleições, os trabalhadores bancários enfrentaram-se com os patrões banqueiros. Tanto estes trabalhadores como estes patrões têm enorme importância social e política.

Os banqueiros são a maior expressão do capital, o setor mais importante da classe dominante, que detém mais lucros e poder no sistema capitalista. No caso brasileiro, os banqueiros conseguiram os maiores lucros da história nos últimos anos, a partir das maiores taxas de juros do planeta.

Os bancários têm uma grande tradição sindical e política. Seus sindicatos estiveram entre os mais importantes na formação da CUT e do PT. Na montagem do governo Lula, nomes como Luiz Gushiken e Ricardo Berzoini saíram da presidência do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

A greve ocorreu em pleno processo eleitoral, começando ainda no primeiro turno e invadindo perigosamente o segundo. Seria de se esperar, caso a farsa eleitoral fosse verdadeira, que a “luta” entre a candidatura dos pobres e a das elites se expressasse, com o governo do PT e a CUT apoiando a greve contra os banqueiros, defendidos por Alckmin.

O que aconteceu foi bem diferente. A patronal estava representada pela Fenaban (que reúne os banqueiros privados, uma parte dos quais apóia Lula, e outra sustenta Alckmin) e pela direção de bancos estatais como BB e CEF (indicada por Lula). Durante a greve, a entidade patronal (com uma parte majoritária pró-Lula) manteve-se unida e intransigente. Mesmo com lucros recordes, persistiram com uma proposta miserável de 3,5% de reajuste salarial.

A direção da Contraf – a burocracia cutista e petista dos bancários – realizou ações que lembraram os pelegos dos velhos tempos, tirando os bancários de São Paulo (estado onde se concentra o maior número de bancários do país) da greve para favorecer os banqueiros e não incomodar a eleição de Lula.

A ideologia do “candidato dos pobres” se desfaz. Lula tem o apoio majoritário da patronal bancária e o tempo todo esteve ao lado dos banqueiros. Seu braço no movimento sindical, a CUT, traiu a greve para ajudar os banqueiros e não prejudicar a reeleição do presidente com uma greve incômoda.

Perante a vida real, como ficariam os argumentos de quem defende o “apoio crítico” a Lula para evitar a volta da direita? Refletindo sobre a greve bancária, podemos concluir: a direita, socialmente representada pelos banqueiros, tem uma posição eleitoral dividida entre Lula e Alckmin, majoritariamente pró-Lula.

Outra conclusão é que, no interior do movimento sindical, quem cumpriu claramente o papel mais importante da direita e dos pelegos clássicos foi a CUT, com muito mais peso que a Força Sindical na categoria.

Por último, o governo Lula manteve-se o tempo todo apoiando os banqueiros, contra os bancários.

No exemplo simples dos bancários, fica claro que não é possível evitar a volta da direita elegendo Lula, porque este faz um governo de direita, que atua como na greve. Um segundo mandato pode ter ainda mais serventia para o grande capital, por ter peso entre os trabalhadores, para tentar convencê-los da necessidade de reformas como a da Previdência e a trabalhista.

Os trabalhadores bancários foram colocados perante a necessidade de construir uma alternativa diferente, em nível sindical, político e eleitoral. Em termos sindicais, a Conlutas esteve todo o tempo apoiando a greve e lutando contra a direção traidora da CUT.

É preciso construir uma nova alternativa de direção nacional para as lutas dos bancários. As discussões já começaram entre os setores que estiveram comprometidos com a greve, pertencentes ou não à Conlutas.

Nas eleições, os bancários não devem apoiar Alckmin, comprometido com os banqueiros. Tampouco Lula, também apoiado pelos banqueiros e pela direção da CUT, que traiu a greve. Nós defendemos que os bancários votem nulo, contra Lula e Alckmin.

Nem mesmo a rejeição às privatizações pode justificar o apoio a Lula. É certo que PSDB e PFL fizeram uma grande maracutaia com a privatização corrupta e fraudulenta das estatais, como a Vale do Rio Doce e a Telebrás. Mas isso não terminou com FHC. Lula continuou a privatização parcial da Petrobras, dos Correios e do Banco do Brasil.

O voto de protesto nestas eleições é o voto nulo. É preciso ampliá-lo, para enfraquecer qualquer futuro governo que tente implementar mais reformas neoliberais.
Nem Lula nem Alckmin!
Vote nulo contra as reformas trabalhista e da Previdência.

Post author Editorial do Opinião Socialista 278
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