Das 138 obras de saneamento, 89 estão paradas ou nem começaram

Enquanto governo gasta bilhões com obras da Copa, população sofre com falta de saneamento básico

O Instituto Trata Brasil divulgou estudo onde revela que 89 das 138 obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão atrasadas, paralisadas ou não tinham iniciados os trabalhos até dezembro do ano passado.

Fortaleza, Natal e João Pessoa são as capitais campeãs dos atrasos no Nordeste. Na capital cearense, apenas uma obra foi concluída, quatro estão paralisadas com execução entre 40% e 60% e, três nem sequer começaram. “Quem sofre com esse descaso é a população, principalmente, os mais pobres. Hoje, 52% da população de Fortaleza não tem serviço de esgoto”, denuncia Gonzaga, da direção do PSTU em Fortaleza.

De acordo com o Trata Brasil, Fortaleza aparece na 41ª colocação entre as 100 maiores cidades do país em serviços de saneamento básico. “Essa é uma realidade que atinge todo o Nordeste. Aqui em Aracaju a situação é ainda pior, pois 65% da cidade não tem rede de esgoto. Isso significa que de uma população de 544.039 habitantes, 356.600 mil pessoas não tem acesso mínimo à rede de esgoto”, ressaltou Vera Lúcia, presidente estadual do PSTU em Sergipe.

Esses dados revelam que o Governo Federal não tem como prioridade resolver os problemas mais sentidos pela população pobre de nosso país. Foram gastos bilhões para construção de estádios para a Copa do Mundo em ritmo acelerado e enquanto isso, as obras de saneamento básico orçadas em R$ 6 bilhões arrastam-se há pelo menos cinco anos”, afirmou o geógrafo Guthierre Ferreira, mestrando pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Segundo Guthierre Ferreira, a lentidão é tão grande que apenas 14% das obras foram concluídas. “Analisando as 112 obras do PAC 1, somente 19 delas foram finalizadas. Nenhuma das 26 obras do PAC 2 foi concluída. Somando todas as obras, constata-se que apenas 14% do total foram concluídas, o restante estão em completo abandono, com obras lentas, paralisadas ou nem se quer iniciadas. Um verdadeiro desrespeito e descaso com o povo pobre”, explica.

As 138 obras do PAC direcionadas ao saneamento básico estão distribuídas em 18 estados, nas 28 maiores cidades brasileiras, com população acima de 500 mil habitantes, conforme aponta o relatório da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades (SNSA). O Sudeste e o Nordeste concentram a maioria das obras, 51 cada região; seguido pela região Sul com 20, Centro-oeste com 13 e o Norte com apenas três obras.

Brasil: um país sem saneamento básico

O Atlas de Saneamento Básico – 2011 elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela dados alarmantes. No país do futebol, menos de 50% dos municípios tem acesso à rede de esgoto. “Esses dados são piores nas regiões mais pobres do país. No Norte, apenas 3,5% das casas contam com serviço de esgoto. No Atlas do IBGE destacam-se negativamente os Estados da Bahia, Maranhão, Piauí e Pará. Todos localizados nas regiões Norte e Nordeste”, ressaltou o geógrafo Guthierre Ferreira.

Quanto à coleta de esgoto sanitário, 45% dos municípios brasileiros simplesmente não a realizam. Quanto ao lixo domiciliar, 6,4% dos municípios não prestam esse serviço à população. Quanto à coleta seletiva do lixo (recolhimento dos materiais que são possíveis de serem reciclados) 90% das cidades do Norte, Nordeste e Centro-oeste não contam com esse tipo de serviço.

A população que não tem saneamento é uma população doente. Sofre com a contaminação das águas e do solo, deslizamentos e inundações. Hoje, 20% a 30% das habitações no Brasil constituem assentamentos urbanos precários, situação acompanhada de problemas de saneamento como falta de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, da coleta de lixo domiciliar e drenagem das águas. Isso ocasiona uma série de doenças tipo cólera, hepatite, diarreia e dengue. Doenças que matam milhares anualmente em nosso país. Enquanto o governo Dilma, os governos estaduais e municipais seguir tratando essa situação com desprezo e descaso, nada mudará. Os que mais sofrem com a falta de saneamento são os mesmos que tem outros direitos usurpados, os trabalhadores e o povo pobre”, concluiu Guthierre Ferreira.