O 8 de março é celebrado como o Dia Internacional da Mulher. Nele, é comum recebermos flores e parabéns. Muitos patrões até presenteiam suas empregadas e os governos e a mídia fazem propaganda exaltando as conquistas, os espaços obtidos pelas mulheres e como se preocupam com o seu bem estar.

Porém, o que governos e patrões não querem é que este dia seja tomado como um dia de luta. Querem movimentar o comércio e que as mulheres não sejam mais do que homenageadas. Querem apagar nossa história de lutas.

O imperialismo também se apropria da data. A ONU (Organizações das Nações Unidas) decretou o ano de 1975 como o “ano da Mulher”, e nele consagrou o “8 de março” destacando a importância da igualdade e do desenvolvimento das mulheres, a oportunidade para avaliarem o quanto avançaram, e até onde foram suas conquistas, apontando a necessidade de “reconhecer a contribuição das mulheres para o reforço da segurança e da paz mundial”.

A burguesia localiza mulheres em postos políticos chaves e aposta em políticas assistencialistas com foco nas mulheres pobres para cooptá-las e amenizar a possibilidade de conflitos sociais. Nestes tempos de crise, e em que as mulheres estão indo à luta em várias partes do mundo, é mais que preciso resgatar o caráter socialista do dia 8 de março!
                             
Mais do que um dia, uma história de lutas!
Uma das versões mais difundidas sobre o 8 de março é a de que a data foi estabelecida em homenagem às operárias têxteis mortas por um incêndio provocado pelo patrão em represália à greve que realizavam, no 8 de março de 1857, nos EUA. Pesquisas recentes questionam a existência de tal greve, e atribuem as origens ao contexto do início do século 20 e da Primeira Guerra Mundial, nos quais se destacaram as lutas das operárias por salários dignos, redução da jornada e melhores condições de trabalho, e pelo direito das mulheres ao voto e à igualdade. Se referem a uma passeata de 15 mil mulheres nos EUA, em 1908, e a um grande protesto pelo direito ao voto, em 1909.

Neste período, as lutas das mulheres já atingiam um patamar internacional, com relativa integração nos Estados Unidos e na Europa. A partir daí, foi ganhando corpo a ideia de um Dia Internacional da Mulher. Em 1910, a data foi estabelecida na Conferência Internacional de Mulheres, coordenada pela Segunda Internacional, e celebrada nos anos seguintes, mas as datas variavam em cada país.

No dia 8 de março de 1917, (23 de fevereiro, pelo calendário russo), as operárias têxteis, revoltadas pela fome e pela guerra, foram o motor das greves que desencadearam a Revolução de Fevereiro e o fim do czarismo. O evento foi o estopim do desenvolvimento da Revolução Russa, naquele ano.

Assim, o dia “8” foi estabelecido oficialmente a partir da Conferência Internacional de Mulheres Comunistas, em 1921, em homenagem às mulheres russas, e desde então é comemorado em todo o mundo. É essa história de lutas que o dia “8” resgata. Essa é nossa tradição. Viva as mulheres trabalhadoras!

Mulheres guerreiras
Um pouco da história de algumas das lutadoras que dedicaram suas vidas à luta pelo fim da opressão

Clara Zetkin
Ativista alemã e figura histórica do movimento feminista socialista do final do século 19 e início do século 20. Foi da ala esquerda do Partido Social-Democrata da Alemanha. Depois se filiou à Liga Spartacus, que deu origem ao Partido Comunista da Alemanha, pelo qual foi deputada. Foi a primeira proponente de uma data para se comemorar o Dia Internacional da Mulher.

Rosa Luxemburgo
Militante socialista polonesa mundialmente conhecida pela militância revolucionária. Foi do Partido Social-Democrata da Alemanha e participou da fundação da Liga Spartacus. Foi uma das maiores teóricas do movimento socialista e teve atuação intensa no que se refere à luta pela libertação das mulheres. Em 15 de janeiro de 1919, Rosa e seu camarada de partido, Karl Liebknecht, foram sequestrados e assassinados por tropas da extrema direita. No congresso de fundação da Terceira Internacional Comunista, Lênin prestou homenagem a “Rosa Vermelha”.

Dandara
Foi uma guerreira negra do período colonial do Brasil. Companheira de Zumbi dos Palmares e mãe de seus três filhos. Foi uma das lideranças do Quilombo que ousou desafiar os senhores de escravos da época. Suicidou-se depois de presa pelas tropas que esmagaram Palmares, em 6 de fevereiro de 1694. Preferia a morte a voltar à condição de escrava.

Alexandra Kollontai
Alexandra Kollontai renunciou à sua origem de classe e tornou-se uma importante dirigente revolucionária na Rússia. Foi a primeira mulher eleita para a direção do Soviete de Petrogrado. Após a Revolução Russa, como Comissária do Povo para o Bem-Estar Social, teve participação decisiva na legislação em defesa dos direitos das mulheres, como o direito ao voto, ao aborto e ao divórcio. Apesar de sua capitulação ao estalinismo, tornou-se referência teórica, com obras como ‘A nova mulher e a moral sexual’.

Rosa Sundermann
Ativista sindical e funcionária da Universidade Federal de São Carlos, Rosa foi uma das fundadoras do PSTU, em junho de 1994. No congresso de fundação foi eleita para sua direção nacional. Uma semana depois, foi assassinada com seu companheiro, José Luis, em casa. O crime interessava aos ricos e poderosos desta região. Advogados do Instituto José Luis e Rosa Sundermann e do PSTU entraram com uma denúncia por negligência governamental diante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA. Em 2010, a comissão aceitou a denúncia.