Protesto percorreu o centro de São José
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Como parte de sua campanha para isolar o Pinheirinho, a PM obrigou que todos comerciantes do centro da cidade fechassem suas portasNa manhã de segunda, 23 de janeiro, cerca de 300 pessoas, entre sindicalistas e ativistas dos movimentos estudantil e popular, se reuniram na Praça Afonso Pena, no centro de S. José dos Campos, para manifestar sua solidariedade aos moradores do Pinheirinho e esclarecer a população da cidade sobre a real situação provocada pela criminosa e sanguinária intervenção policial comandada por Geraldo Alckmin, o prefeito Eduardo Cury e seus capachos nos tribunais de justiça.

A dimensão do ato, em parte, foi limitada pelo fato de que, no mesmo momento em que ele acontecia, centenas de outros ativistas estavam engajados em outras atividades de solidariedade, tanto na igreja em que cerca de mil moradores estão refugiados, quanto nas muitas reuniões e ações que estão sendo realizadas contra o despejo das 1.873 famílias do Pinheirinho.

Mesmo assim, a representatividade e combatividade do ato foram garantidas pelas muitas organizações que enviaram representantes para dialogar com a população.

Dentre as dezenas que se revezaram ao microfone no decorrer da caminhada, estavam militantes e dirigentes da CSP-Conlutas, Intersindical, Unidos pra lutar, Central dos Movimentos Populares (CMP), CUT, Federação dos Metroviários, Associação dos Aposentados, Sindicato dos Químicos, Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário (Sintrajud), Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Frente Nacional dos Trabalhadores do Correios, Movimento Quilombo Raça e Classe, Assembléia Nacional dos Estudantes-Livre (ANEL). Também falaram dirigentes e parlamentares do PSTU, PSOL, PCB e PT.

O principal objetivo do ato era percorrer o centro da cidade, em uma caminhada, esclarecendo a população e a convocando para se juntar à luta em defesa da vida e da moradia daqueles que foram brutalmente agredidos e desalojados pela polícia. Isto, contudo, foi extremamente cerceado por mais atitude da polícia que, como tudo mais que temos visto nesta história, fede a fascismo.

PM fechou o comércio de São José
De forma como nunca tinha sido vista na cidade, a Polícia Militar orientou seus homens a percorrer todas as ruas do centro intimando os comerciantes a fecharem as portas e manterem seus funcionários no interior das lojas e escritórios. A notícia, evidentemente, rapidamente se espalhou pela cidade, alimentando o clima de pânico que as tropas de “General” Alckmin têm imposto à cidade.

Desta forma, em plena manhã de segunda-feira, o número de pessoas nas ruas era muito menor do que o normal. Mesmo, assim, foram distribuídos milhares de panfletos, muita gente se aproximou para escutar os oradores que se revezavam ao microfone, no meio da caminhada. E, na medida em que a marcha avançava pelas ruas, além de ganhar adesão de gente que passava, portas foram se abrindo e, também de dentro das lojas, aplausos e declarações de apoio podiam ser ouvidas.

Não muitas, é verdade. Mas, também, sem uma única demonstração contrária aos moradores, o que deixou evidente que, apesar do terror imposto pela PM, das mentiras e da ocultação de informações por parte das autoridades e da mídia, a população da cidade era (e continua sendo) majoritariamente favorável a uma solução pacífica para a situação do Pinheirinho, o que significaria a desapropriação da área (posição defendida por mais de 70% que responderam a uma enquete do portal “O Vale”, no dia anterior à covarde invasão policial).

Que a verdade venha à tona!
O ato foi aberto por Atenágoras Lopes, dirigente da CSP-Conlutas, que lembrou que esta era apenas uma das muitas atividades que estavam ocorrendo em solidariedade ao Pinheirinho: “Neste exato momento, um ato semelhante a este está acontecendo em Belém. Logo mais, à tarde, irão ocorrer manifestações também no Rio, em Porto Alegre e Belo Horizonte. E no decorrer da semana, dezenas de outras cidades foram o mesmo. Além da manifestações de solidariedade que não param de chegar do mundo inteiro”.

Conclamando a população a não se deixar intimidar, Atenágoras também chamou os trabalhadores e o povo de S. José a exigir que governo federal pare de fazer declarações de “boas intenções” e solucione o problema de uma vez por todas: “Se diz que está do lado dos trabalhadores, como está estampado na sigla do partido sob o qual se elegeu, Dilma tem que resolver este problema. Tem que garantir a função social daquela área e entregá-las aos moradores. Ela pode fazer isto. Infelizmente, na verdade, já poderia ter feito, antes que a tragédia começasse. E precisamos exigir que ela impeça que a desgraça seja ainda maior”.

Falando em nome do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Vivaldo ressaltou que parte importante desta luta é trazer a verdade à tona: “Estamos aqui também para que vocês saibam o que os meios de comunicação estão ocultando ou distorcendo. É lamentável que a grande imprensa esteja afinada com Alckmin, Cury e sua corja e esteja tentando desqualificar o povo, apresentando aqueles trabalhadores como se fossem bandidos, traficantes e criminosos. O fechamento do comércio, hoje, é parte desta campanha vergonhosa”.

Alckmin e Cury levaram o caos a S. José
Muitos foram os oradores que alertaram a população para o verdadeiro caos que o prefeito (que continua escondido) está provocando em toda S. José e as dramáticas conseqüências que podem resultar de 9 mil pessoas desabrigadas na cidade. Um caos detonado pela violência empregada pela polícia, que como lembrou Heitor, da Frente Nacional dos Trabalhadores dos Correios, “tem como objetivo ‘higienizar’ esta cidade, ou seja, reprimir, expulsar e, lamentavelmente, até mesmo matar o povo pobre, como está sendo feito no Rio de Janeiro, no centro de São Paulo e em tantos cantos deste país. Tudo isto para atender os interesses de corruptos como Naji Nahas”.

Como também foi lembrado, sabe-se que uma das propostas do prefeito Cury para impedir que 9 mil pessoas simplesmente vaguem pela cidade é do mesmo naipe da operação policial: assistentes sociais têm denunciado que estão sendo intimidadas a oferecer passagens para que as pessoas retornem para seus locais de origem.

Diante de medidas como estas, Clara Saraiva, da ANEL, lembrou que o papel da juventude na defesa do Pinheirinho é fundamental: “Assim como os jovens se levantaram contra os regimes autoritários no Egito e no norte da África, assim como milhões de estudantes tomaram o Chile, em defesa do direito à educação pública, assim como na Europa milhões de jovens saíram às ruas contra medidas atacam as condições de vida da população, os jovens, os estudantes de S. José, do Brasil e do mundo não irão se calar diante deste crime”.

Dilma deve resolver o problema
Clara também foi uma dos muitos oradores que lembrou o papel que o governo federal poderia ter cumprido para evitar o que ocorreu no domingo: “É lamentável ver que, enquanto senhoras e mulheres grávidas, jovens e até crianças tenham mostrado disposição de darem até mesmo suas próprias vidas em defesa de seus direitos, a primeira mulher a governar este país, não tenha coragem de enfrentar um único especulador, não tenha coragem sequer para fazer com que a constituição do pais que ela governa seja cumprida”.

Também fazendo referência às lutas que tem sido travadas ao redor do mundo, Herbert Claros, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de S. José, lembrou que, “assim como a juventude que ocupou as praças do mundo inteiro para defender que os 99% de pobres e explorados se levantem contra o 1% de ricos que parasitam o que produzimos, aqui em S. José precisamos defender os 9 mil trabalhadores que estão sendo despejados de suas casas em função dos interesses sujos de um único corrupto, protegido pelo governador do estado, o prefeito e esta juíza vendida”.

“É esta a verdadeira guerra que está acontecendo aqui. Uma guerra social. Uma guerra injusta que até o momento só resultou em dor e sofrimento para aqueles que nada têm. Dilma poderia ter evitado isto com uma canetada. Mas, não o fez. E nada indica que esteja realmente disposta a fazer. Por isto estamos aqui e iremos continuar nas ruas. Até a vitória! Somos todos Pinheirinho!, concluir Herbert, ao fechar o ato, convidando os participantes para a plenária que seria realizada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos organizar as demais atividades que estão sendo programadas.