LIT-QI

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional

A LIT-QI foi fundada em janeiro de 1982 com o objetivo central de lutar para superar a crise de direção do movimento operário mundial e reconstruir a Quarta com influência de massas.Sua fundação e o esforço militante para construir e fortalecê-la nestes 30 anos de existência se devem à convicção a um princípio que consideramos plenamente vigente: só a mobilização permanente dos trabalhadores e explorados contra o imperialismo e a burguesia poderá culminar com a vitória da revolução socialista internacional.
Não acreditamos que exista outro caminho possível para superar os profundos males a que o capitalismo imperialista submete a humanidade. E acreditamos que este movimento necessita de uma direção revolucionária internacional para levar essa tarefa à frente.

Embora a LIT-QI, enquanto organização, tenha apenas 30 anos de existência, é impossível falar de sua história sem recuperar a tradição da IV Internacional e da corrente morenistas, fundada na Argentina em 1944 por Nahuel Moreno. Isto porque reivindicamos a continuidade das elaborações realizadas por estas duas organizações.

IV Internacional
A ascensão do stalinismo na União Soviética levou à degeneração da Internacional. A “teoria” do socialismo em um só país negava o caráter mundial da revolução, afirmando que o socialismo poderia ser construído isolado na URSS. Assim, a III Internacional (Internacional Comunista) tornou-se um aparato contra-revolucionário a serviço da burocracia stalinista e da coexistência pacífica com a burguesia e o imperialismo.

Essa política levou à derrota do proletariado alemão e à ascensão de Hitler ao poder. Trotsky concluiu, então, que a III Internacional estava morta. Era preciso construir uma nova internacional.

Porém, a Quarta nasceu débil, agrupando apenas alguns milhares de militantes, devido à situação contra-revolucionária que existia, logo após os triunfos do nazifascismo e do stalinismo, antes da Segunda Guerra Mundial. Neste marco Trotsky fez um prognóstico: a Segunda Guerra provocaria uma onda de revoluções e, neste processo, a IV Internacional ganharia peso de massas. Trotsky, porém, foi assassinado pelo stalinismo em 1940 no México, e com isso a IV Internacional perdeu seu principal dirigente.

Mas a previsão estava certa. Após a guerra, uma onda revolucionária se espalhou por todo o mundo. Novos Estados operários surgiram no Leste da Europa e na Ásia, como China e Vietnã.

Por outro lado, a derrota do nazifascismo pelas mãos da URSS acabou fortalecendo o stalinismo, que acabou dirigindo a maior parte deste processo.
O pequeno núcleo de quadros e militantes trotskistas organizados na IV se viu submetido a essas duras pressões. A maioria da nova direção não passou pela prova da história. As direções majoritárias da Quarta (dirigidas por Pablo-Mandel) terminaram por capitular às políticas das correntes pequeno-burguesas e burocráticas que dirigiram grandes mobilizações e revoluções, como o Maoísmo, o Castrismo, o Guevarismo,  Sandinismo etc. Essa foi a razão principal para a dispersão da IV na década de 50.

O papel de Nahuel Moreno
Foi contra esses desvios que se construiu a corrente trotskista ortodoxa fundada por Nahuel Moreno na Argentina, nos anos 1940.

Desde seu nascedouro essa corrente teve uma postura internacionalista que a levou a luta pela reconstrução da IV. Moreno considerava que o programa do trotskismo é a continuidade do marxismo revolucionário e deveria conter: o internacionalismo proletário, a democracia operária e a mobilização permanente.

Um partido revolucionário só pode se construir se é embasado nestes três pilares fundamentais. Foi essa obsessão que levou Moreno, junto com o primeiro grupo de jovens trotskistas argentino, a romper com a pequena burguesia intelectual para passar a se construir como um partido operário e de ação. “Uma organização trotskista que não esteja repleta de militantes operários vive em crise permanente, por mais que seja formada por companheiros inteligentes e capazes” dizia Moreno.

O internacionalismo
Outra obsessão, assim como Trotsky afirmava, é a do internacionalismo revolucionário, o convencimento de que não existe saída para a classe trabalhadora e para a revolução no âmbito nacional; de que não pode haver organização revolucionária nacional se não se constrói como parte de uma organização internacional. Por isso, Moreno dedicou praticamente toda a sua vida militante à construção da IV Internacional, em diversas instâncias e organizações.

Como parte deste processo, surgiram diversos partidos, organizações e importantes iniciativas. No Brasil, por exemplo, um pequeno grupo de jovens brasileiros exilados no Chile, se ligou à corrente morenista e voltou a seu país para construir uma organização com 800 militantes (a Convergência Socialista, corrente que daria origem ao PSTU).

Na Argentina, com um importante núcleo de quadros muito fortalecidos pela luta contra a ditadura, Moreno deu inicio à construção do MAS. Em poucos anos a organização se converteu no principal partido de esquerda do país e no maior partido trotskista do mundo.

A partir do PST colombiano, em 1979, a corrente morenista, impulsiona a formação da Brigada Simón Bolívar para intervir na revolução nicaraguense, contra a ditadura Somoza.

A Fração Bolchevique
Nos anos 1970, logo após seu período guerrilheirista e ultra-esquerdista, a maioria da direção do chamado Secretariado Unificado (SU) da IV Internacional (direção reconstruída da organização depois da crise pós-guerra) abandonava de modo crescente a perspectiva de construção de uma direção revolucionária mundial. Dessa forma, girava seus posicionamentos cada vez mais a posições capituladoras.

No marco da batalha contra essas posições, a maioria das organizações latino-americanas e quadros da Espanha, Portugal e Itália formaram uma tendência interna para enfretar as posições dominantes no SU, originando a Fração Bolchevique (FB).
A ruptura definitiva com o SU aconteceu em 1979, quando sua direção se negou a defender os membros da Brigada Simon Bolívar, expulsos da Nicarágua pelo governo sandinista e logo depois entregues à polícia do Panamá, que os reprimiu e torturou.

Nasce a LIT-QI
Em 1982, a LIT-QI foi fundada. Mas a organização recém criada não teve descanso: nasceu em uma etapa de grande ascenso das lutas operárias. Teve que responder à Guerra das Malvinas, aos desafios na Argentina, ao movimento de “Eleições Diretas Já!”, ao fim da ditadura no Brasil e a muitos outros acontecimentos. Havia grandes mudanças no mundo capitalista e imperialista e, também, grandes transformações no espectro da esquerda mundial, sobretudo, pela crise do aparato stalinista mundial e dos Partidos Comunistas. Respondendo a cada processo, a LIT se transformou na organização internacional trotskista mais dinâmica.

Porém, a morte de Nahuel Moreno, em 1987, foi um grande golpe sofrido no meio de todo este processo. Sua ausência provocou um enfraquecimento qualitativo na direção internacional e teve uma incidência muito grande no desenvolvimento e no desfecho da crise que levaria a LIT à beira de sua destruição em outro momento delicado da história: a restauração do capitalismo na  URSS e no Leste Europeu.

O vendaval oportunista
Entre 1989 e 1991, ocorreram grandes processos revolucionários que acabaram com os regimes totalitários da URSS e do Leste Europeu. Contudo, estes processos, apesar de poderosos, não conseguiram reverter a restauração capitalista imposta, poucos anos antes, pelas mãos das próprias burocracias governantes. A ausência de uma alternativa de direção revolucionária possibilitou que estas revoluções fossem dirigidas por setores da própria burocracia.

Por um lado, a destruição do aparato central do stalinismo significou uma grande vitória, pois significou o fim de aparelho internacional que foi a principal trava da revolução mundial no século XX. Este fato marca a abertura de uma nova etapa da luta de classes mundial, muito progressiva em busca da liberação do aparato internacional do stalinismo. Por outro lado, amplos setores da vanguarda mundial vêem a restauração como fruto da luta das massas, o que provocou grande confusão na esquerda mundial. O imperialismo aproveitou o momento para lançar uma grande campanha ideológica dizendo que o “socialismo morreu” e afirmando “a supremacia do capitalismo”.

A esquerda, em geral, se colocou em um profundo estado de inércia e desmoralização. Inclusive, muitas das organizações trotskistas foram alcançadas por um verdadeiro “vendaval oportunista”. Algumas chegaram à conclusão de que não era mais possível fazer a revolução socialista, outras passaram a defender que o socialismo já não era mais necessário e o programa revolucionário foi sendo abandonado de modo crescente. A estratégia de luta pelo poder foi substituída pela estratégia eleitoral no marco da democracia burguesa e muitas organizações passaram a depender materialmente do parlamento burguês, de subsídios estatais e dos aparatos sindicais.

A jovem LIT-QI também sofreu este processo corrosivo e devastador, agora sem Moreno. Os golpes foram duros e a LIT quase se viu destruída. Vários de seus quadros, inclusive, se tornaram assessores de governos burgueses, como o de Chávez, Evo Morales, Lula etc.

A recuperação
Superar esta crise foi um grande desafio. Com um grande esforço dos setores que não capitularam, a LIT começou a se recuperar a partir de seu V Congresso, em 1997. Buscou-se restituir o estudo sistemático da teoria revolucionária como única forma de garantir uma prática revolucionária. Isto permitiu avançar nas elaborações fundamentais para a luta de classes, como a compreensão dos processos de restauração do capitalismo nos países do Leste Europeu, China e Cuba.

Hoje, a LIT tem seus partidos mais importantes em países chaves da América Latina e Europa, além de grupos menores com inserção no movimento operário.

Em 2011, foi realizado seu X Congresso que mostrou que a LIT-QI já é um pequeno pólo de referência. Também foi visto no congresso a incorporação de novos quadros e jovens militantes.

O programa da IV passou na prova da história
A história comprovou que a revolução necessita desenvolver-se em uma dimensão mundial porque, caso contrário, estará condenada à derrota. Foi o que demonstrou categoricamente o fracasso da política de “socialismo em um só país”, propagada por Stalin.

A negação do caráter internacional da revolução foi o elemento determinante que levou à deterioração dos Partidos Comunistas no mundo inteiro, antes grandes organizadores do proletariado mundial.

Mas isso não significa que o esforço para edificar um novo partido revolucionário que defenda a continuidade do marxismo, seja fácil. A dura batalha pela construção dos partidos revolucionários e pela reconstrução da IV continua porque é necessário superar a crise de direção revolucionária, principal obstáculo para o avanço da revolução socialista mundial.

Neste momento, em que as massas lutam na Europa e no Oriente Médio,
a convicção do caráter internacional da revolução é mais atual do que nunca.

Por outro lado, é preciso partir de uma conclusão central: o programa da IV Internacional passou pela prova da história. A afirmação do programa foi correta quando dizia que um Estado Operário dirigido pela burocracia, sem uma revolução política vitoriosa dos trabalhadores que derrubasse essa burocracia, mais cedo ou mais tarde entraria em colapso e se restauraria o capitalismo.

Também continua correta a afirmação de que “a crise atual da civilização humana é a crise de direção do proletariado”, algo que foi dramaticamente confirmado pelas revoluções ocorridas no século XX e nas mais recentes revoluções do século XXI.
O X Congresso da LIT, em 2011, mostrou também que defender a LIT como motor de reconstrução da IV Internacional foi um acerto histórico, porque significou a reafirmação do programa trotskista, do método e da moral revolucionária.

A tarefa de reconstruir a IV Internacional deve ser tomada como uma continuidade da metodologia empregada por Trotsky na fundação da Quarta. Sem nenhum sentido de autoproclamação, mas buscando agrupar os revolucionários ao redor de um programa e uma clara concepção clara de partido. Essa é a tarefa proposta pela LIT a todas as organizações revolucionárias que estejam de acordo com esta perspectiva.