Marina Cintra e Debbie Leite, de São Paulo (SP)

Dia 29 de agosto é dia da visibilidade lésbica e bissexual. Essa data surgiu em 1996, no 1º Seminário Nacional de Mulheres Lésbicas, que aconteceu no Rio de Janeiro. Essa é uma data muito importante, pois lutar contra invisibilidade é lutar contra a fetichização da nossa sexualidade e também contra a violência e vulnerabilidade cotidiana que a LGBTfobia, o machismo e o capitalismo nos impõem cotidianamente, sobre os quais poucas informações são divulgadas.

A difícil realidade sob o capitalismo
A situação das mulheres lésbicas e bis trabalhadoras no capitalismo não é nada fácil, e vem ficando cada vez mais difícil. Aqui no Brasil, conseguimos, com muita luta, a conquista de alguns direitos básicos às LGBT’s, como a adoção e a legalização do casamento homoafetivo, porém o Brasil segue um dos países que mais mata LGBT’s em todo o mundo. De acordo com dados da Transgender Europe, entre 2008 e 2016, o país foi um dos que mais matou transexuais.

Além disso, pelo menos 72 países ainda criminalizam a homossexualidade. O caso mais recente que teve repercussão internacional foi o do campo de concentração na Chechênia, uma política do governo de exterminar as LGBT’s de seu Estado.

Às mulheres lésbicas e bis, ainda se soma o peso do machismo e do racismo. De acordo com dados do “Disque 100”, em 2016 mais da metade dos casos de denúncia são de violência contra LGBT’s que aconteceram na rua ou na casa da própria vitima. Nessas denúncias, muitas ainda são relatos de tentativa ou de casos de estupro corretivo, cujo objetivo é corrigir a orientação sexual da mulher.

Além disso, muitas vezes também somos expulsas de casas quando descobrem nossa sexualidade, temos poucos espaços de lazer em que possamos nos sentir seguras e que sejam acessíveis (muitos “rolês” para o público LGBT são caros e acabam se restringindo às LGBT’s que tem dinheiro). Nas escolas públicas não é feito nenhum debate sobre a questão LGBT, a tentativa de incluir uma discussão de gênero nos planos nacionais e municipais de educação foram barradas com o apoio dos governos do PT, e ainda somos totalmente invisibilizadas em relação à saúde pública. Muitas vezes os atendimentos são negligenciados, os médicos nos fazem passar por constrangimento e não sabemos como nos prevenir de doenças sexualmente transmissíveis, deixando-nos em uma situação ainda maior de vulnerabilidade.

Mesmo com todas essas questões alarmantes, ainda temos poucos dados que mostram se as vítimas de agressões, estupros ou homicídios são lésbicas, bis, transexuais, o que aumenta mais a invisibilidade. A homofobia hoje não é considerada crime e, por isso, os dados sobre as denúncias e boletins de ocorrência ocultam a motivação opressora dos agressores.

Nenhum governo teve política para as LGBT’s, justamente ao contrário. O governo Dilma deu garantias à bancada evangélica com a “Carta ao povo de Deus” e o veto do kit anti-homofobia nas escolas. Em seguida, no governo Temer, vemos cada vez mais o aumento no número de assassinatos de LGBT’s, bem como a aprovação da reforma trabalhista e da PEC 55, que vai atingir diretamente as mulheres lésbicas e bis trabalhadoras, que já estão nos postos de trabalho mais precarizados, como na terceirização do telemarketing.

A nossa luta tem que ser contra o capitalismo
Atualmente, os grandes empresários tentam mostrar para nós LGBT’s que somos aceitos na sociedade. Vemos em muitas novelas ou em propagandas casais LGBT’s felizes que conseguem viver plenamente dentro do capitalismo. Vemos também muitos espaços para as LGBT’s se sentirem mais à vontade e poderem “se libertar”. Essa é uma resposta do capitalismo à nossa luta, buscando cooptar o movimento, criar uma ilusão de aceitação dentro do capitalismo e assim desmobilizar as LGBT’s.

Parte disso é o que chamamos de “Pink Money”, um mercado que se aproveita da opressão para lucrar, criando espaços caros de lazer e campanhas publicitárias que apelem ao consumidor LGBT, dando uma aparência “agradável” à empresa e a burguesia.

Um exemplo dessa política de cooptação do imperialismo ao movimento é a “Parada Gay”. O evento que no Brasil atrai grandes multidões, principalmente em São Paulo, move milhões de reais e dá grandes lucros às empresas. O mais trágico é o fato de que a Parada de Orgulho LGBT tem uma origem de muita luta, surgindo depois da revolta de Stonewall, um marco do movimento nos Estados Unidos e mundialmente, mas que hoje foi privatizada, comprada por diversas empresas e é utilizada para mover principalmente o mercado do turismo, perdendo seu caráter combativo.

O capitalismo vem colocando as LGBT’s nas propagandas, novelas e organizando eventos justamente para lucrar em cima das nossas demandas, para vender produtos e estilos de vida. Contraditoriamente, os capitalistas não têm nenhum problema em explorar cada vez mais as trabalhadoras e trabalhadores LGBT’s de uma empresa e os governos burgueses tratam com total descaso a violência cotidiana que vivemos. Além disso, toda essa realidade das propagandas só é apenas acessível às LGBT’s ricos e não às LGBT’s trabalhadoras e moradoras da periferia, cuja realidade é aquela mostrada acima através dos dados alarmantes.

Nós, mulheres lésbicas e bissexuais, não podemos ter nenhuma ilusão que dentro desse sistema que oprime e explora todos os dias, teremos a solução das nossas demandas ou conseguiremos ser livres. Para a burguesia, nossa opressão é lucrativa. Assim, devemos lutar lado a lado com o conjunto da classe trabalhadora para derrubar esse sistema injusto e construir uma sociedade nova, em que possamos viver livres. Esse é o ensinamento da Revolução Russa que, em 2017, completa 100 anos, quando os operários tomaram o poder, construíram um governo com base aos sovietes e possibilitaram grandes avanços na vida dos setores oprimidos antes da contrarrevolução stalinista.