Às vésperas do Dia de Ação pela Saúde das Mulheres, uma notícia deixa claras as políticas que o governo Lula tem para a classe trabalhadora e pobre e, neste caso, para as mulheres: “O Brasil vai a júri na ONU por morte de grávida em 2002”

“Em novembro de 2002, Alyne da Silva Pimentel tinha 28 anos e estava no sexto mês de gravidez quando procurou um centro de saúde do Rio com vômitos e dores abdominais. Ela não sabia, mas o feto que carregava já estava morto. Demoraram para descobrir, demoraram para operá-la. Houve falta de atendimento, muitas horas de espera e ela morreu cinco dias depois com hemorragia interna.

Por este caso, o Brasil será julgado, pela primeira vez, pelo Comitê das Nações Unidas pela Eliminação da Discriminação contra a Mulher (Cedaw).

O Brasil é responsável por um terço das mortes maternas na América Latina, 98% delas evitáveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O próprio organismo, em documento elaborado com o Unicef e o Banco Mundial, afirmou que o índice brasileiro, oficialmente de 72 mortes por mil mulheres, é maior do que de países menos desenvolvidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.”

A matéria acima foi retirada do Yahoo Notícias. Alyne é mais uma das vítimas da falta de investimentos na saúde pública do país. Segundo os próprios dados do Ministério da Saúde, a cada duas horas morre uma mulher por complicações na gravidez, parto e pós-parto. Mortes que poderiam ser evitadas se as mulheres tivessem acesso a um atendimento médico adequado, a pré-natal e se não precisassem peregrinar em busca de hospitais ou ficar horas esperando para serem atendidas.

O governo não dá as condições necessárias para que as mulheres que desejam ter filhos tenham todas as garantias. Também não descriminaliza e legaliza o aborto. Isso causa, a cada ano, cerca de 150 mil mortes de mulheres ou seqüelas graves. Ou, ainda, são condenadas. Este é o caso, por exemplo, de Campo Grande (MS), onde cerca de 10.000 mulheres estão sendo processadas por terem feito aborto clandestino.

Os profissionais de saúde não estão preparados nem mesmo para atender as necessidades das mulheres lésbicas. Já os ginecologistas não sabem como orientar uma mulher lésbica a se prevenir contra as doenças sexualmente transmissíveis. Da mesma forma, não estão preparados para levar em consideração as especificidades das mulheres negras sobre a anemia falciforme.

Dia 28: lutar pela saúde da mulher
Nesta quarta-feira, é dia de lutar pela saúde da mulher. Isso significa lutar por mais verbas para a saúde pública, construção de mais hospitais e postos de saúde, distribuição gratuita de todos os métodos contraceptivos, legalização do aborto, inclusão no prontuário médico de itens como orientação sexual e raça.

Os problemas de saúde da mulher não param. Elas são 42% do mercado de trabalho e estão expostas a jornadas extenuantes. Nos locais de trabalho, a falta de condições, como equipamentos adequados e de segurança, se somam ao assédio moral e sexual. As mulheres sofrem constantes humilhações pela chefia. São obrigadas a ouvir cantadas explícitas ou insinuações, em gestos, coação ou chantagem.

Doenças como distúrbios articulares – tenossinovite, varizes, infecções urinárias, problemas de coluna e distúrbios psicoemocionais, alergias respiratórias e dermatológicas, calos nas cordas vocais e distúrbios da voz – atingem em cheio as profissões em que a maioria das mulheres está localizada. São elas: professoras, bancárias, comerciarias, domésticas, enfermagem etc.

Diante do aumento brutal do ritmo de trabalho, dos baixos salários, do assédio moral e sexual, as mulheres precisam estar ao lado da Conlutas neste dia 28, lutando pela redução da jornada de trabalho para 36 horas, sem redução de direitos e salários e sem banco de horas.

“A sexualidade feminina é utilizada como mecanismo de controle social das trabalhadoras. Desta forma, os constrangimentos de controle da reprodução, como os testes de gravidez nos exames admissionais e periódicos, ou as famosas revistas íntimas nas saídas de fábricas. Várias ocupações femininas requerem o carregamento de pesos e grandes esforços físicos, como, por exemplo, na enfermagem, no setor rural e o próprio trabalho doméstico (apesar do mito do trabalho leve!). Sabe-se que, entre outros fatores prejudiciais à mulher grávida, o transporte de pesos, os esforços físicos dinâmicos e repetitivos e as vibrações podem causar partos prematuros e abortos. Há correlações entre distúrbios menstruais e a cadência elevada e vibrações. O ruído excessivo pode lesar o ouvido do feto. Além disso, uma série de agentes agressivos pode prejudicar o feto: o benzeno, o chumbo e o mercúrio são teratogênios. As radiações ionizantes podem, também, causar malformações em vários órgãos do corpo do feto e até a morte. Diversas substâncias químicas passam pelo leite materno e são ingeridas pelo neném.”

Referencial de análise para a estudo da relação trabalho, mulher e saúde (Citado no trabalho de Jussara Cruz de Brito (Pesquisadora Assistente do Cesteh/ Ensp/ Fiocruz); Vanda D´Acri (Pesquisadora Assistente do Cesteh/ Ensp/Fiocruz, cedida pelo Inamps)