Babi Borges

Há quase meio século atrás, em 1969, os atos homossexuais eram considerados crime em quase todo os Estados Unidos. Os homossexuais, bissexuais e pessoas trans eram proibidas de assumir cargos no serviço público. Não tinham acesso à saúde e à educação pública. Eram considerados doentes e pervertidos. As jovens LGBT’s eram expulsas de suas casas. Sofriam internações, torturas, lobotomias e castração. Eram perseguidas em todos os ambientes e a violência policial as vitimava. A vida social das LGBT’s resistia somente nos bares gays e nos guetos e mesmo ali a polícia as humilhava e extorquia. Não havia paz. Mas naquele ano, as coisas iriam começar a mudar.

A revolta
No dia 28 de junho, diante de uma rotineira batida no bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, as LGBT’s resolveram reagir e dizer basta! Elas se enfrentaram com a polícia numa verdadeira batalha campal que durou seis dias e envolveu milhares de pessoas. O episódio ficou conhecido como a Revolta de Stonewall e se tornou o estopim do movimento LGBT moderno. A partir desses acontecimentos, as LGBT’s inspiradas nas lutas dos negros, das mulheres e dos trabalhadores organizados contra a Guerra do Vietnã, organizaram-se politicamente. No primeiro aniversário da Revolta, 10 mil LGBT’s realizaram uma marcha. Era um ato importante no qual os LGBT’s botaram a cara no sol e mostraram que não eram pervertidos e doentes. Não queriam mais viver escondidas e que tinham orgulho de ser como eram, exigindo direitos e denunciando a situação. Foi a primeira Parada do Orgulho LGBT.

Essa é a origem das Paradas que hoje acontecem pelo mundo todo. Hoje, elas se apresentam como iniciativa dos governos, das Secretarias de Turismo, das ONGs e do mercado pink e se unem para lucrar e celebrar uma liberdade que não se vê nos demais 364 dias do ano. E são estes mesmos governos e patrões patrocinam as desigualdades. A Parada é um tipo de manifestação que surgiu contra o governo, suas instituições e forças repressivas.

Opressão que mata
No Brasil a cada 25 horas morre um LGBT

Queremos resgatar as lições que essa história nos ensina. Décadas depois, a realidade das LGBT’s, apesar daquilo que foi conquistado com muita luta, continua muito difícil. No Brasil, a cada 25 horas uma pessoa morre vítima da lgbtfobia, que até hoje não foi criminalizada neste país. As pessoas trans ainda são tratadas como doentes e 95% delas precisa prostituir-se para sobreviver. Não há discussão de gênero nas escolas e há uma enorme evasão escolar entre as LGBT’s. Homossexuais ocupam os trabalhos mais precários, como nos salões de beleza ou nas empresas terceirizadas de telemarketing e, além de sofrerem mais assédio e exploração, convivem o tempo todo com a ameaça do desemprego.

Agora o Congresso corrupto e Temer querem dar continuidade às políticas tomadas pelos governos do PT, aprovando reformas que retiram os direitos dos trabalhadores, como a trabalhista, e a previdenciária. Sabemos que as LGBT’s, que ocupam os postos mais precários e, por isso, serão as mais afetadas.

Parada LGBT em Curitiba
Marcha do Orgulho LGBT em SP

As lições de Stonewall nos apontam o caminho da luta, assim como a mobilização dos trabalhadores e da juventude, que realizou uma poderosa Greve Geral e ocupou Brasília enfrentando uma dura repressão. Assim como diziam as LGBTT’s que se revoltaram em Stonewall e puseram a polícia para correr, nós somos aqueles e aquelas que não tem nada a perder. Portanto nosso papel é colorir a Greve Geral do dia 30 de junho e, ao lado da juventude e da classe trabalhadora, vamos derrotar as reformas que nos atacam.

Vamos lutar por uma verdadeira revolução que coloque os operários e o povo no poder e acabe com toda a opressão.

Publicado originalmente no Opinião Socialista 537