São Paulo SP 26 03 2020 Na UBS Max Perlman próxima ao Ibirapuera profissionais da saúde aplicam vacina contra gripe em idosos no modelo drive thru, trabalhadores da CET organizam as longas filas de carros foto Guilherne Gandolfi
Redação

Idalgo Moura dos Santos, 45 anos, trabalhava no Hospital Municipal Carmino Caricchio, em São Paulo. Ele é um dos 13 profissionais de saúde do município que já morreram por causa do novo coronavírus. A prefeitura informou, no último sábado (25/04), que já são 3.106 servidores afastados na capital paulista, sendo 713 com casos confirmados e 2.354 com sintomas de gripe.

Hoje, 28 de abril, é o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, que em meio à pandemia da Covid-19, tem que ser marcado pela luta por justiça e em defesa dos direitos e da saúde da classe trabalhadora. Bem como, deve ser um dia de homenagem às trabalhadoras e trabalhadores que adoeceram ou perderam a vida, por estar na linha de frente do combate ao coronavírus, a exemplo do enfermeiro Idalgo Moura.

De acordo com os pesquisadores da Coppe/UFRJ – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Brasil, cerca de 2,6 milhões de profissionais da área de Saúde apresentam risco de contágio acima de 50% pela covid-19.

Vítimas mundiais

De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado no início de abril, pelo menos 22.073 profissionais da saúde, em mais de 50 países, foram contaminados pelo novo coronavírus.

Na Espanha, os profissionais de saúde chegaram a representar mais de 13% dos casos registrados no país até o fim de março, segundo o jornal inglês The Guardian. Além disso, relatos indicam que, na Itália, 45% da força de trabalho foi contaminada logo no início da pandemia. Na Espanha, os profissionais de saúde chegaram a representar mais de 13% dos casos registrados no país, até fim de março, segundo o Guardian. Além disso, relatos indicam que, na Itália, 45% da força de trabalho foi contaminada logo no início da pandemia.

Vítimas brasileiras

No Brasil, pelo menos 4.602 profissionais de Enfermagem foram afastados por suspeita de Covid-19. É o que aponta a fiscalizações in loco e o levantamento situacional realizados pelos Conselhos Regionais de Enfermagem em 5.780 instituições de Saúde, divulgados nesse dia 27 de abril. O alto índice de contágio na categoria está associado à escassez de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs).

De acordo com Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), só nos serviços de enfermagem, 53 pessoas já morreram por causa da doença em todo o país. Entre as queixas dos profissionais da saúde está a falta de estrutura. Mas o medo, as longas jornadas de trabalho e a grande pressão também atingem em cheio quem está na linha de frente do combate à Covid-19.

O Cofen aponta que há um déficit de 13.790 profissionais na área de enfermagem para atuar nos setores com atendimento à Covid-19. O adoecimento da equipe, posta em quarentena, agrava o déficit no quantitativo para atendimento à população. Isso leva também a uma sobrecarga de trabalho, o que potencializa a exposição para contrair a doença.

Outro fato que o Cofen destaca é o medo que os enfermeiros estão do contágio pela Covid-19. Isso vem contribuindo para um aumento dos distúrbios profissionais relacionados ao estresse e ansiedade entre os profissionais de Enfermagem. Canal criado pelo Cofen para oferecer ajuda emocional a profissionais durante a pandemia realiza, em média, 130 atendimentos por dia.

Sem segurança

A contaminação dos profissionais da saúde poderia ser evitada, se fossem garantidos os equipamentos de proteção necessários para não contaminação e aos testes para a Covid-19.

Em São Paulo – Estado que lidera os casos de coronavírus em profissionais da saúde, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais –, em pesquisa realizada pelo Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) e divulgada no último dia 15, revelou que 62% dos trabalhadores da saúde não tem acesso à máscara do tipo N95, e ainda enfrentam a falta de máscaras cirúrgicas (52%). Além disso, não há álcool para 70% dos profissionais e avental para 30%.

No último sábado, 25, servidores municipais de São Paulo realizaram uma manifestação em homenagem aos profissionais da saúde que morreram por causa do coronavírus. O ato, que ocorreu em frente Hospital Tide Setúbal, na Zona Leste, também cobrou estrutura de trabalho (equipamentos de proteção e insumos) e valorização dos profissionais da saúde que enfrentam a pandemia. O Sindsep afirma que o Tide Setúbal não tem equipamento de proteção suficiente para os trabalhadores.

Em Belém (PA), no dia 15 de abril, os trabalhadores do maior Pronto Socorro Municipal paralisaram os serviços e protestaram na rua em defesa de itens básicos de segurança como máscaras e álcool em gel. No dia seguinte, foram os trabalhadores da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro da Sacramenta que paralisaram pelos mesmos motivos.

Outras categorias

Mas não são somente os profissionais do setor da saúde que correm risco com a Covid-19. Fora da área de saúde, os pesquisadores alertam que vendedores varejistas, operadores de caixas, entre outros profissionais do comércio que, juntos, somam cerca de 5 milhões de trabalhadores no país, apresentam, em média, 53% de risco de serem infectados pelo coronavírus.

Além das equipes atuando nos hospitais, estão em risco considerável trabalhadores como motoristas de ônibus, cozinheiros, vendedores, comissários de bordo e agentes funerários.

Dados do Ministério da Economia e da O*NEt, base internacional de ocupações, apontam o novo coronavírus representa ameaça a 18 milhões de trabalhadores brasileiros, mais suscetíveis a contrair a doença por conta das características de sua ocupação.

Vale ressaltar que várias fábricas e serviços não essenciais seguem funcionando no Brasil, colocando em risco a vida dos trabalhadores, expostos sem a devida proteção. Pois no capitalismo, o lucro vale mais que a vida.

Lutar em defesa dos direitos

A CSP-Conlutas lançou um manifesto que convoca os trabalhadores a lutar em defesa da vida, do emprego e dos direitos neste dia 28 de abril. A central sindical e popular ressalta a necessidade da criação de Comitês de Organização de Base nos locais de trabalho.

Boa parte da patronal também não respeita o isolamento social, nas indústrias, nos setores metalúrgicos e na construção civil, mineração e vários outros. Precisamos impedir o trabalho sem a menor segurança, exigir equipamentos de segurança e condições de trabalho. Não vamos aceitar assédio moral de chefias, e vamos avançar na solidariedade entre os trabalhadores”, defende Jordano Carvalho dos Santos, militante do PSTU e integrante do Setorial de Saúde das Trabalhadoras e Trabalhadores da CSP-Conlutas.

No manifesto, a CSP-Conlutas defende:

– Isolamento Social, com licenças remuneradas, para os trabalhadores dos serviços não essenciais, e estabilidade no emprego;

– Investimentos urgentes para o setor da saúde pública com valorização dos profissionais;

– Equipamentos de segurança para todos os profissionais dos serviços essenciais, principalmente para os profissionais da saúde;

– Contratações de mais profissionais da saúde;

– Redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários, para os trabalhadores dos serviços essenciais;

– Testes para todas as pessoas com sintomas do Covid-19;

– Atendimento gratuito e de qualidade em todo serviço de saúde privado.

– Fora Bolsonaro e Mourão e toda essa corja!