Anna Carolina Gonçalves da Silva

O Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, que ocorre em 25 de julho, começou a fazer parte do calendário de lutas em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro, Latino-americanas e Caribenhas, na República Dominicana. No Brasil, a data também busca homenagear Tereza de Benguela, mulher negra símbolo de resistência, que liderou o Quilombo de Quariterê após a morte de seu companheiro, José Piolho.

Neste 25 de Julho, não podemos deixar de lembrar da comerciante negra, de 51 anos, moradora de Parelheiros, distrito localizado na Zona Sul da cidade de São Paulo, que foi covardemente agredida por policiais militares. Assim como George Floyd, assassinado pela polícia norte-americana, após implorar que o policial parasse de sufocá-lo com sua perna, a comerciante também teve seu pescoço pressionado contra o chão pela botina de um policial. Felizmente, a comerciante não teve o mesmo destino de Floyd e de tantas outras negras e negros, mortos pela polícia a mando do Estado.

Segundo os dados do Atlas da Violência (2019), produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), enquanto a taxa de homicídio de mulheres não negras apresentou um crescimento de 4,5% entre 2007 e 2017, a de mulheres negras cresceu 29,9% no mesmo período, como podemos ver no gráfico abaixo:

Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica e MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM

O relatório conclui ainda que, entre as mulheres vítimas de violência letal em 2017, 66% eram negras. O documento também aponta que, entre os anos de 2016 e 2017, houve um aumento de 127% nos homicídios contra LGBTs. Mulheres, negros, negras e LGBTs são os alvos da violência no nosso país.

Além da violência que atinge pretas e pretos, o desemprego atinge hoje mais da metade das pessoas em idade para trabalhar. Ou seja, atualmente, entre as pessoas que poderiam estar empregadas, mais da metade encontra-se sem trabalho. Estes são dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), pesquisa que teve início em 2012, e nunca havia apresentado dados tão desmotivantes. Cerca de 2 milhões de pessoas tornaram-se desempregadas entre a primeira semana de maio e a segunda semana de junho de 2020. Se em 2019 já havia desemprego, agora, com a pandemia, isso vem piorando. Prova disto é a declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que afirmou que o desemprego no Brasil ainda deve aumentar nos próximos meses.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, 42,7% dos brasileiros se declararam como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas. Sendo assim, 56,2% da população brasileira em 2019 era negra.

Segundo o núcleo de Pesquisas de Economia e Gênero, da Faculdades de Campinas (Facamp), a participação das mulheres e homens na População em Idade Ativa (PIA) no segundo trimestre de 2019 foi de 52,5% e 47,5%, respectivamente. Tais porcentagens condizem com às da estrutura populacional brasileira por sexo. No entanto, as mulheres são minoria no contingente de pessoas ocupadas e no conjunto da população que conforma a força de trabalho brasileira. As mulheres representam a maioria de desempregados e em situação precária no mercado de trabalho: pessoas subocupadas (54,4%), desocupadas (52,8%).

De acordo com os dados da Pnad Contínua, em 2018, o nível de desemprego era maior para quem se declarava preto ou pardo. No 4º trimestre de 2018, o desemprego atingia 12,2 milhões de pessoas, sendo 51,7% destas pardas e 12,9%, pretas. Ou seja, 64,6% dos desempregados eram negros em 2018. Enquanto que, em 2012, havia 48,9% de pessoas pardas desempregadas e 10,2% de negros na mesma situação, contabilizando um total de 59,1% negros sem emprego. Portanto, houve um aumento de 5,5% na taxa de desemprego de pessoas negras. Entre os anos de 2012 e 2018, os brancos tiveram uma redução nesta mesma taxa, passando de 40,2% para 34,6%.

As disparidades não param aí: em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrou que os homens tiveram um rendimento médio mensal real de R$2.555, enquanto as mulheres receberam, em média, R$1.985. No que se refere a cor e raça, o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos das pessoas brancas era maior que o rendimento das pessoas pardas e pretas: R$2.999 contra R$1.719 e R$1.673, respectivamente.

Mulheres negras chefiam 63% das casas mais pobres, segundo o IBGE, e estão mais vulneráveis ao desemprego, de acordo com os dados do Ipea.

Todos os dados apresentados anteriormente nos mostram que as mulheres negras, LGBTs ou não, são extremamente oprimidas e exploradas, recebendo os menores salários. Atualmente, sofremos não somente com a crise econômica, que se abriu em 2008, nos EUA, mas também com a crise na saúde. A pandemia da Covid-19 já matou mais de 80 mil pessoas no Brasil, e o governo de Jair Bolsonaro deixou mais que evidente que esta não é uma preocupação sua, ao afirmar que ele “não é coveiro”.

Antes, as mulheres negras já tinham seus filhos, companheiros e familiares arrancados de suas vidas quando a guerra contra os pobres, negros e moradores de comunidades, disfarçada de guerra ao tráfico, batia à sua porta. Agora, soma-se a isso o perigo da pandemia. Muitas famílias, em sua maioria negras e pobres, que dependem do trabalho informal, não podem realizar o isolamento social tão necessário no momento. Tais famílias são obrigadas a se arriscar nas ruas, na tentativa de garantir alguma renda para a sua sobrevivência. O governo não garante nem sequer a renda mínima necessária para que tais pessoas permaneçam em casa, seguindo as recomendações que mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez.

Contra a opressão desse sistema capitalista, que se vale do racismo para superexplorar negras e negros, é necessário que nos organizemos não só como pretos e pretas, mas também como trabalhadores. Por melhores condições de vida, por acesso à saúde gratuita e de qualidade, é imprescindível que mulheres, homens e LGBTs, trabalhadores, se unam enquanto classe para a derrubada do capitalismo. É somente em uma sociedade socialista, igualitária, sem oprimidos e explorados, que viveremos plenamente.

#NósPorNósTrabalhadores

#VidasNegrasImportam