Felizmente, 2010 terminou mais cedo do que de costume, mais precisamente em 18 de dezembro. No dia seguinte, ocorreu na Tunísia, a primeira grande manifestação contra o desemprego e o aumento do custo de vida no país. O desenrolar dos acontecimentos instalou uma nova fase da crise, transformando-a em crise política.

No norte da África surgiram as primeiras grandes vitórias dos trabalhadores desde o início da crise econômica, com a derrubada de três governos aliados do imperialismo.

Em várias cidades do mundo surgiram praças Tahir e uma explosão de lutas sociais de todos os tipos varreu o mundo ocidental, aumentando a resistência da classe trabalhadora frente aos planos neoliberais. A Grécia viveu seguidas greves gerais, que se estenderam para Espanha, Portugal e Inglaterra. O movimento dos indignados expressou a radicalização da juventude, de largas camadas da classe média e do proletariado sem perspectivas de manter seu nível de vida. “Ocupe Wall Street” marcou o início de mobiliações populares nos EUA e se transformou em “Ocupe os EUA”.

A reação dos trabalhadores e da juventude nublou ainda mais o panorama econômico. A necessidade de impor os planos econômicos de austeridade se transformou em crise política. E isso terminou por agravar a crise econômica: o ensaio de recuperação econômica foi substituído por sinais claros de uma nova recessão, a recuperação do mercado financeiro, pela retomada da instabilidade e a administração da dívida pública europeia não tem conseguido afastar a possibilidade de calotes.

Quais são as alternativas
Quando as grandes crises econômicas do Capital também se tornam grandes crises políticas dos governos e dos regimes burgueses, o confronto entre Capital e trabalho resulta em quatro tipos de saídas históricas: contra-revolução, reformas sociais, contra-reformas ou revoluções.

A contra-revolução foi largamente utilizada, quer pelo nazi-fascismo na Europa a partir dos anos 1920, quer pelas ditaduras militares na América Latina durante quase todo o século 20. Ao invés de uma demonstração de força do poder burguês, ela denota a sua fraqueza, pois expressa a incapacidade de manter a dominação burguesa sem o recurso da repressão direta e sistemática às reivindicações dos trabalhadores e às suas organizações.

A implementação e expansão de reformas sociais foi a alternativa do Capital para sair da crise de 1929 nos EUA e conter a ameaça da revolução social no fim da Segunda Guerra Mundial. O período foi marcado pela hegemonia do capital industrial e pela criação do Estado de bem-estar social. Esta via de acumulação entrou em crise nos 1970 e as contra-reformas neoliberais se constituíram como sua alternativa que, por sua vez, também entraram em crise, na década passada.

Mudar as estações
Com a crise da dívida pública na Europa e a guerra social em curso, mais uma vez estamos diante de crises históricas. A sua solução não cabe mais nos salões estreitos das reuniões do G20, o seu desfecho será nas praças europeias.

O projeto da burguesia já está desenhado: completar a privatização do Estado iniciada em 1980, aprofundando as contra-reformas neoliberais. Para salvar a Zona do Euro, o capital optou por sacrificar a sua periferia. É preciso atacar o Estado do bem-estar no conjunto da Europa, e não deixar qualquer resquício dele em países como Espanha, Grécia, Portugal e Irlanda. Existe a tendência de que esses países também tenham seu status imperialista rebaixado para semicolonial. Ao mesmo tempo, eles poderão se tornar um cinturão de exército de reserva que irá pressionar a classe trabalhadora dos países centrais a também aceitarem os pacotes de ajustes.

Mesmo que consiga aprovar os planos de austeridade, novos planos serão necessários. O ataque do Capital está apenas se iniciando, e não há garantia nenhuma na sua efetivação. A queda recente de vários governos é um termômetro do aumento da crise de dominação burguesa. Mesmo medidas simples da democracia burguesa que até ontem eram largamente utilizadas, como os plebiscitos, hoje têm o poder de colocar em risco a União Europeia. O próximo período pode levar a situações e crises revolucionárias em países imperialistas, o que não ocorria desde a revolução portuguesa de 1975. É a luta de classes que vai decidir o curso da crise econômica.

Como os revolucionários bem sabem, o que está em jogo é uma mudança histórica que será decidida nos próximos anos. Como a queda dos Estados do Leste Europeu colocou em cheque o socialismo, essa crise pode colocar de novo o embate capitalismo-socialismo na ordem do dia.

O inverno dos europeus está chegando e promete ser rigoroso, mas as primaveras árabes decidiram ficar por mais um tempo. Como o mundo está realmente muito mudado, vamos ver que tem força para alterar as estações.

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