Em 2003, logo no início de seu primeiro mandato, Lula investiu contra os direitos dos servidores, aprovando a reforma da Previdência. O governo se aproveitou da enorme ilusão que as massas nutriam em seu mandato para desferir um ataque que desnorteou grande parte dos ativistas.

No entanto, a situação atual é bem diferente. O governo Lula apostava todas as suas fichas na aprovação da segunda reforma da Previdência em 2007. Porém o ano termina sem que os ataques tenham se concretizado. Além de toda a crise política que praticamente paralisou o governo neste ano, o avanço das mobilizações e da unidade entre diversas forças obrigou Lula a atrasar a reforma. A Conlutas foi a entidade que conseguiu unir em torno de uma jornada de lutas amplos setores que se colocavam contra as reformas, concretizando importantes ações em defesa dos direitos e ganhando a maior parte da opinião pública contra os ataques de Lula.

Encontro impulsiona jornada
Pode-se dizer que 2007 termina com duas grandes manifestações, inéditas no governo Lula, atacando as reformas e apontando a unidade da esquerda. Logo no início do ano, Conlutas, Intersindical, Pastorais de São Paulo, entre outras entidades, organizaram um grande encontro nacional contra as reformas.

O evento contou ainda com a participação de integrantes da direção do MST. Superando todas as expectativas, reuniram-se mais de cinco mil pessoas em São Paulo. A repercussão foi imediata. Até mesmo o ex-ministro José Dirceu atacou o encontro, demonstrando preocupação com o avanço da unidade em torno da luta contra as reformas.

O encontro armou os ativistas para a batalha contra os ataques, principalmente a reforma da Previdência. O Fórum Nacional da Previdência havia sido instalado dois meses antes e a intenção de Lula era enviar o projeto até agosto ao Congresso. Porém as entidades e movimentos lançaram uma agenda de luta cujo ponto alto foi o dia de luta em 23 de maio. Estimativas da Conlutas apontam que mais de 1,5 milhão de pessoas se manifestaram em todo o país contra as reformas e a política econômica do governo.

Plebiscito diz “não” à reforma
O ano de 2007 testemunhou ainda importantes lutas, como a greve do funcionalismo federal, que enfrentou a política de desmonte promovida pelo governo, e a paralisação dos operários da CSN. Já o segundo semestre foi marcado pelo plebiscito popular sobre a Vale do Rio Doce, realizado na semana da Independência, tendo à frente entidades como o Grito dos Excluídos, as Pastorais, a Conlutas e Intersindical.

Além da questão sobre a anulação da privatização da estatal do minério, rechaçada por mais de três milhões de pessoas, o plebiscito trazia outras três questões. Questionava as altas tarifas de energia, o pagamento da dívida pública e a reforma da Previdência. Desta forma, apesar do boicote sistemático da CUT, que se negou a organizar a votação com as quatro questões, o plebiscito foi uma gigantesca campanha de conscientização contra a política de Lula e a reforma da Previdência. Quase três milhões disseram “não” à retirada de direitos previdenciários.

Marcha a Brasília
O plebiscito popular culminou na marcha a Brasília, no dia 25 de outubro. Apesar da ausência de setores como o MST, que haviam participado da jornada de luta de maio, o ato reuniu cerca de 16 mil, sendo a maior manifestação contra o governo Lula no segundo mandato. A marcha protestou contra a reforma da Previdência e as reformas neoliberais.

Toda a jornada de luta construída pelo encontro nacional colaborou para o atraso do envio do projeto do governo. A reforma não foi implementada em 2007, mas o governo não desistiu do projeto e planeja enviá-la ao Congresso o mais rápido possível. Além disso, outros ataques como a reforma universitária e a reforma trabalhista são implementados a conta-gotas.

Tais ataques colocam na ordem do dia a necessidade do fortalecimento de um instrumento de mobilização, assim como o avanço na unidade dos setores combativos. Tarefa esta que terá como data crucial o I Congresso da Conlutas, em julho de 2008.

Post author
Publication Date