Trabalhadores ocupam palanque do ato, em 1968

Enquanto as centrais sindicais como CUT e Força Sindical realizam festas milionárias para comemorar o Dia do Trabalho, financiadas pelo governo e por empresários, em São Paulo o 1º de Maio classista e de luta, impulsionado pela Conlutas, Intersindical, pastorais sociais, entre outras entidades, relembra a data histórica em 1968.

No Dia do Trabalho de quarenta anos atrás, os pelegos da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em plena ditadura militar, levaram o governador biônico do estado, Abreu Sodré, para as comemorações na Praça da Sé. O Movimento de Oposição Metalúrgica (Momsp) e demais trabalhadores presentes no ato vaiaram massivamente o governador e os pelegos, atirando paus e pedras e expulsando-os do palanque.

Aprendendo com a história
O 1º de maio de 1968 mostrou a importância decisiva das oposições sindicais na luta contra o peleguismo, o governo e o arrocho.

Waldemar Rossi, atual coordenador da Pastoral Operária e dirigente da Oposição Metalúrgica em 68, relembra que a Oposição foi resultado de um movimento de base durante anos, com o objetivo de derrotar a estrutura de direção fascista vigente até então. “Montamos duas oposições, uma em São Paulo e outra em Osasco. A de Osasco foi vitoriosa porque ela já vinha com base nas comissões de Fábricas da Cobrasma, que nasceu em 63, além de outros movimentos. Em São Paulo, perdemos por inexperiência, fomos roubados, mas a idéia avançou e a oposição se formou”, conta.

Quarenta anos após esse evento, no entanto, pouco é lembrado. “O 68 ocorreu porque nós, Osasco e outras oposições vínhamos denunciando o arrocho, que era instituído através dos decretos-leis da ditadura. Formamos então o MIA, Movimento Intersindical Anti-arrocho, mas que aí juntava pelegos, sindicato e oposições. Fizemos o 1º de maio em função disso. Mas os pelegos fizeram a besteira de levar o governador Abreu Sodré para o palanque. A massa vaiou, expulsou ele do palanque e, revoltada com a situação, derrubaram o palanque e atearam fogo. Os pelegos saíram de gatinho e, junto com o Sodré, fugiram para o Sindicato dos Metalúrgicos e aquela imensa massa saiu em passeata por São Paulo protestando contra o arrocho salarial”, conta emocionado Rossi.

Apesar da brutal repressão, as oposições não morreram e tiveram fundamental importância uma década depois, com o ascenso operário. “O movimento se expandiu como brasa, foi ganhando espaço, mesmo com a repressão que fez calar temporariamente, e o movimento foi penetrando em tudo o que é lugar onde há combustível e criando a chama que viria a explodir em 1978”.

E qual o papel colocado para as novas gerações da classe operária, num momento em que, assim como em 68, os principais sindicatos estão tomados pelos pelegos? Waldemar indica o caminho: “trabalhar com todas as forças que se opõem visando a ter um conjunto de atividades em comum, que dever ser, para o movimento sindical, de resgate o trabalho de base, um amplo processo de formação de uma consciência crítica, mas a partir do processo de organização e lutas locais, que vão criando as condições para luta maior”.

1º de Maio de luta
“Pensar na organização de um 1º de maio classista é um exercício de resistência aos desafios políticos e ideológicos que vêm sendo praticado pelas centrais tradicionais. Essas centrais infelizmente passaram para o outro lado, o lado do capital, que quer neutralizar a consciência de luta da classe trabalhadora”, opina Waldemar Rossi.

“Precisamos fazer um 1º de maio que resgate a tradição de luta da classe trabalhadora, esse dia nunca pode perder o seu caráter: independente, classista e internacionalista, e é isso que o 1º de maio da Sé pretende ser”, concorda Paulo Pedrini, também da coordenação da Pastoral Operária em São Paulo e da coordenação do 1º de Maio da Sé.