Two girls holding hands and a rainbow flag
Secretaria Nacional LGBT

Secretaria LGBT do PSTU-SP

Estamos às vésperas do 1º de maio, dia internacional de luta dos trabalhadores, que ocorrerá de uma forma atípica este ano devido às orientações de confinamento que, ao contrário do que afirma o presidente, são necessárias para a defesa de nossas vidas. Esse seguirá sendo, contudo, um dia importante de luta da nossa classe contra os governos e em defesa das nossas vidas, emprego e direitos.

Para isso, fazemos um chamado especial para as trabalhadoras LGBTs, um dos setores mais afetados com a pandemia e a crise atuais, para se unir ao 1º de maio classista e a campanha pelo Fora Bolsonaro-Mourão Já!

A LGBTfobia em tempos de pandemia

Em artigos anteriores, chamamos a atenção para a situação específica das lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais da classe trabalhadora. Diante da pandemia mundial, com quantidade de casos e mortes subnotificados, e ainda assim crescentes, no Brasil – com epicentro em São Paulo – a marginalização a qual somos submetidos nos coloca em uma situação de maior vulnerabilidade.

Precisamos garantir a quarentena, isso é, o isolamento social de todos que não trabalham em setores essenciais, para conter a disseminação do vírus. Nossas vidas devem vir acima da necessidade de “movimentar a economia” em nome do lucro de meia dúzia de banqueiros e empresários. Entretanto, isso só será possível se forem dadas as condições necessárias para os trabalhadores ficarem em casa – o que vai muito além de R$ 600, que boa parte das pessoas nem mesmo conseguiu ter acesso ainda.

Entre os milhões de desempregados que se encontram sem condições mínimas de sobrevivência hoje, muitos são LGBTs – que por conta da opressão se encontram excluídos do mercado de trabalho. Outras LGBTs fazem parte do trabalho informal, que, quando não simplesmente demite, não oferece o mínimo em termos de direitos trabalhistas, e muito menos em proteção de saúde, como equipamento de proteção pessoal. Mais grave ainda é a situação de travestis e transsexuais, cuja maioria se encontra em situação de prostituição.

A situação atual também traz riscos à nossas vidas na esfera doméstica – assim como casos de violência doméstica contra mulheres têm sido uma grande preocupação em um momento em que as vítimas estão confinadas com seus abusadores, entre a morte pelo corona ou pelo feminicídio – muitas LGBTs também passam por violência psicológica e física por parte de suas famílias. No país que mais mata LGBTs no mundo, não são raras as agressões que ocorrem dentro de casa ou pela mão de familiares e conhecidos.

O discurso opressor, tão disseminado por esse governo, e agora por fundamentalistas que chegam ao absurdo de contradizer toda a ciência e colocar a pandemia na conta da ira divina contra a homossexualidade (ler mais em: Covid-19 e as LGBTs | Fundamentalismo Religioso, LGBTfobia e Ataque à Ciência), contribui para um clima de maior violência contra os setores oprimidos.  Quando não morremos diretamente por ataques motivados por homofobia, muitas LGBTs, em especial as mais jovens, são levadas pelo sofrimento e preconceito cotidianos a tirar suas próprias vidas. Discutir a saúde mental e a prevenção ao suicídio neste momento não são menos importantes.

Também ressaltamos um setor da população que está completamente vulnerável à doença, sem ter abrigo onde implementar o isolamento social, sem acesso à produtos de necessidade básica. Entre a população de rua, que vêm crescido em grandes cidades como São Paulo, existe também um setor de pessoas que foram expulsas de casa e excluídas do mercado de trabalho por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Ainda assim, os governos seguem fechando os olhos para essa realidade.

Para ler mais sobre a situação atual das LGBTs, ler: A Pandemia de Covid-19 e as LGBTs

Por nossas vidas, é fora Bolsonaro, Mourão e Damares!

Bolsonaro, que foi desde início o maior inimigo das LGBTs e dos oprimidos, hoje é também o maior inimigo do combate ao coronavírus e das liberdades democráticas. O presidente continua zombando da letalidade da pandemia, se opondo às orientações dos profissionais da saúde.

Em plena pandemia de coronavírus, no dia 29 de abril, o presidente fez mais uma declaração atacando a Organização Mundial de Saúde. Para desqualificar a organização cujas orientações ele tanto despreza, Bolsonaro acusa a OMS de “incentivar a masturbação e a homossexualidade de crianças”. Essa é sua interpretação, distorcida pelo fundamentalismo e homofobia extremos, de um guia publicado em 2010 pelo Centro Federal de Educação em Saúde da Alemanha, que se direcionava aos pais para explicar, do ponto de vista da psicologia infantil, a relação das crianças de diferentes idades com seus corpos e a sexualidade. O guia não fazia mais do que incentivar os pais a serem tolerantes com seus filhos e os educarem. Aparentemente, a educação sexual é mais preocupante e assustadora para o presidente do que as milhares de mortes de trabalhadores adoecidos.

Para piorar, as declarações recentes de Bolsonaro evidenciam, mais uma vez, seu projeto de ditadura – e não temos dúvidas que para os setores oprimidos isso significa uma tentativa de calar completamente nossas vozes, à base de quanta violência for necessária.

(Brasília – DF, 20/03/2020) Presidente da República, Jair Bolsonaro e Ministros de Estado participam de videoconferência com representantes da Iniciativa Privada.Foto: Isac Nóbrega/PR

Nesse momento, alguns governadores, como João Dória em São Paulo, buscam se descolar do Governo Federal – finge que jamais foi bolsonarista, apostando em uma misteriosa perda de memória da população entre a eleição de 2018 e hoje. Contudo, vemos em seu governo tão pouca preocupação em garantir a sobrevivência dos mais pobres durante a pandemia quanto no Governo Federal. Ainda mais para a população LGBT, para quem ele nunca moveu um dedo – nenhuma tentativa de ampliar os abrigos para as LGBTs desempregadas, de atender às vítimas de LGBTfobia, de ampliar o emprego formal para nós.

A prioridade dos governos – mesmo aqueles que, cinicamente, fingem ser mais sensatos que o Bolsonaro – é “reabrir a economia”. Não em nome dos trabalhadores, desempregados ou pequenos proprietários de negócios, mas em nome dos grandes empresários e banqueiros – aqueles que estão longe do risco, encastelados em suas mansões e com acesso a hospitais privados caríssimos, querem encher os bolsos ao nos colocar pra trabalhar o quanto antes, sem o mínimo de proteção. Pior ainda, se aproveitam da pandemia para avançar em demissões e reduções salariais!

A única resposta que recebemos do governo enquanto LGBTs trabalhadoras nesse período foi uma cartilha produzida pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos – presidido pela fundamentalista, e declaradamente homofóbica, Damares Alves. A cartilha de combate ao coronavírus para a população LGBT se limita a conselhos como “ficar em casa”, enfatizando o “trabalho virtual” como alternativa para as travestis e transsexuais que se encontram em situação de prostituição. Para além disso, reforça estereótipos quanto ao nosso modo de vida, e fere o Estado laico.

Para ler nossa resposta completa à cartilha de Damares, acesse “Covid 19 e as LGBTs| A Cartilha de Damares: Hipocrisia a Toda Prova

Está cada vez mais visível que esse governo não só é incapaz de garantir as nossas vidas, é um obstáculo para isso.  Precisamos derrotá-lo, e para isso não dá para esperar até as próximas eleições, ou por deliberações de um Congresso tão corrupto e despreocupado com as trabalhadoras LGBTs quanto o presidente. É Fora Bolsonaro-Mourão Já! Fora Damares!

Não queremos morrer nem de Covid-19, nem de fome, nem de violência LGBTfóbica!

Construir um 1º de Maio classista e o panelaço!

O 1º de Maio, dia tradicional de luta da classe trabalhadora, e seus setores oprimidos, pode ser um dia essencial na luta para derrubar esse governo e defender as nossas vidas. E, para isso, defendemos que era necessário construir um ato não-presencial unitário entre todas as centrais sindicais. Mesmo distantes fisicamente, deveríamos estar unidos pela prioridade em lutar contra Bolsonaro e seu projeto de morte e ditadura.

Algumas das maiores centrais sindicais, entretanto, tornaram essa unidade impossível – pois preferiram abrir espaço em seus palanques virtuais para figuras como Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre (DEM), e o presidente do STF, Dias Toffoli. Os mesmos que seguem aprovando as piores medidas contra os direitos dos trabalhadores, que seguem defendendo a prioridade do lucro acima do investimento na saúde e no combate à pandemia. Que nunca demonstraram incômodo ver o país liderando mundialmente as mortes de pessoas LGBTs.

Ao lado deles discursarão Lula – que segue orientando seu partido a não tomar medidas para a derrubada de Bolsonaro – além de Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes e Flávio Dino – o último sendo responsável recentemente pela expulsão violenta de diversas famílias quilombolas de seus territórios.

Nós discordamos dessas alianças – o momento é de juntar aqueles que estão embaixo, trabalhadores e trabalhadoras, oprimidos e explorados, sem dar a mão a nenhum governo ou patrão. Somente assim podemos garantir a quarentena, o investimento à saúde, o emprego e o salário e as demais medidas emergenciais que podem garantir as nossas vidas. Por isso, reforçamos o chamado ao 1º de Maio Classista que está sendo convocado para 11h pela CSP-Conlutas e Intersindical, e convidamos as LGBTs da nossa classe a se somar a esse ato independente e combativo.

A live vai ocorrer às 11h, e terá como principais bandeiras o Fora Bolsonaro, a defesa dos direitos, salário, emprego e renda, além da defesa da quarentena e da vida acima do lucro.

Já de noite, nos somaremos desde nossas casas, em cada bairro do país, ao panelaço em defesa da vida e pelo Fora Bolsonaro!

É preciso se organizar!

A epidemia do novo coronavírus demonstra não somente que o governo atual não é capaz de garantir as nossas vidas – mas que todo o sistema capitalista nos leva em direção à barbárie.

O mesmo sistema que se aproveita da LGBTfobia para superexplorar um setor dos trabalhadores, e para dividir a nossa classe – ao mesmo tempo que se pinta de aliado das LGBTs como jogada de marketing só para aumentar seus lucros – que nunca foi capaz de reverter as milhares de mortes anuais mundialmente somente pelo ódio contra nossa sexualidade e identidade de gênero. Hoje, é o sistema em que profissionais da saúde e trabalhadores informais se colocam em risco por não terem acesso a equipamentos básicos de proteção – onde todos os governos da América Latina seguem pagando a dívida pública, ao invés de construir leitos de hospitais.

A única garantia de sobrevivência hoje vem das experiências de auto-organização da classe trabalhadora nos bairros e locais de trabalho. E é daí que virá o único caminho que pode evitar a barbárie.

A auto-organização da classe trabalhadora e seus setores oprimidos, para derrubar o capitalismo e construir uma sociedade onde tudo seja produzido e distribuído de acordo com a necessidade do povo – isso é, uma sociedade socialista, onde possamos, enfim, superar a exploração e a opressão.

É por isso que nós construímos um partido internacional que se dedica à revolução socialista mundial – a Liga Internacional dos Trabalhadores. Convidamos, por fim, as LGBTs trabalhadoras a se somarem também ao ato que será realizado no 1º de Maio pela LIT, às 14h.