Em 13 de junho de 1980, há 29 anos, um ato público inaugurava o movimento homossexual brasileiro. Centenas de homossexuais junto a integrantes de organizações de esquerda e dos movimentos negro e feminista reuniram-se em protesto nas escadarias do Teatro Municipal também contra a repressão policial.

Uma batida ocorrida um mês antes, no centro de São Paulo, havia levado à prisão mais de 1.500 pessoas. Essa batida era parte de uma “operação de limpeza da cidade”, promovida pelo então delegado Richetti, que perseguia gays, lésbicas, travestis e prostitutas.

Partindo das escadarias do Municipal, em passeata pelo centro da cidade, entoavam “abaixo a repressão, mais amor e mais tesão”. Eles exigiam liberdade e o fim da discriminação racial e sexual, do desemprego e da violência policial. Foi assim instituído o Dia Nacional de Luta Homossexual. Veja, a seguir, texto do manifesto divulgado no ato.

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO
Hoje estamos dando uma resposta concreta a essa onda de violência desencadeada pelos responsáveis da ‘segurança pública´: Um secretário de Segurança, um diretor do Depto. de polícia e um delegado vêem aterrorizando prostitutas, homossexuais, travestis, negros e desempregados com prisões arbitrárias, espancando e até assassinando-os.

Maria Marciana da Silva e Olivaldo de Oliveira foram as primeiras vítimas fatais da nova onda de repressão. Maria uma jovem de 33 foi encontrada morta na estrada de Perus, com o crânio esmagado. O crime que ela cometeu: estar à noite na Praça Júlio Mesquita. Quanto à Olivando pesa o fato de ser negro. Deram-lhe um tiro na nuca. Uma outra jovem, num ato de desespero tenta o suicídio.

Por isso estamos aqui protestando contra a repressão policial e exigimos a imediata destituição do Sr. José Wilson Richetti, o responsável direto pela barbárie. Exigimos também a abertura de uma sindicância para apurar as responsabilidades.
Conclamamos toda a população a se juntar a nós e acabar de uma vez por todas com o terrorismo oficial.

A desculpa que esse delegado apresenta é que está limpando a cidade dos ‘marginais´ e que tem o respaldo dos comerciantes e moradores. No entanto de 1500 pessoas detidas na primeira semana, apenas 12 (0,8%) foram indiciadas. Nos parece que para acabar com os assaltos o delegado acha melhor prender todas as vítimas. Numa cidade em que existe mais de 1 milhão de desempregados é, no mínimo, absurdo prender pessoas que não possuem carteira de trabalho assinada.

CONTRA A VIOLÊNCIA POLICIAL
CONTRA O DESEMPREGO
CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E SEXUAL
PELO DIREITO DE IR E VIR

GRUPOS: SOMOS, Movimento Negro Unificado, Ação Lésbica-Feminista, Núcleo de Defesa à Prostituta, Associação de Mulheres, Grupo Feminino 8 de Março, Convergência Socialista, Grupo de Mulheres do Jornal ‘O Trabalho´, Departamento Feminino da USP – DCE Livre, Eros, Libertos, Ação Homossexualista e Nós Mulheres.