O jornalista Zuenir Ventura escreveu um livro chamado 1968: o ano que não terminou. Não terminou porque muitos dos problemas levantados na época não foram solucionados. Nesse sentido, 1964 também é um ano que permanece em aberto. E Lula colabora para isso, dando continuidade à política do silêncio imposta por FHC para não romper o pacto de governabilidade com os militares.

Mas as cenas de horror insistem em escapar pelas brechas. No mês passado os jornais estamparam fotos de um homem nu (esperando para ser torturado?) que supostamente seriam do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 pelos militares. Agora o próprio Exército lança em livro sua História Oral. São 12 volumes para “comemorar” os 40 anos do golpe.

É um desfilar de horrores. Mesmo quem já sabia das torturas, fica de cabelo em pé. Numa das partes do livro, reproduzida pela revista CartaCapital (17/11/04), o coronel Dynalmo Domingues de Souza relata com detalhes a violência sofrida em um quartel do Recife por Gregório Bezerra, um dos dirigentes do Partido Comunista, preso em 1964. Bezerra foi obrigado a tirar os sapatos e a pisar em uma solução ácida, que lhe queimou a sola dos pés. Depois, foi despido, ficando com apenas um calção, com uma corda no pescoço, comprida e em cada extremidade havia um militar, um sargento ou um cabo. Dessa forma, Bezerra foi arrastado pelas ruas do Recife, recebendo pancadas nos testículos, na virilha e ameaças de que enfiariam o bastão de comando em seu ânus. As torturas só cessaram quando “Gregório já não agüentava mais, estava caído no chão, todo ensangüentado, no meio da rua”.

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