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Depois da exploração por 350 anos do trabalho escravo no Brasil, um dos últimos países a abolir a escravidão no mundo, o 13 de Maio ficou conhecido como o dia que libertou negros e negras da escravidão. A data foi oficializada pela assinatura da Lei Áurea em 1888, pela herdeira do trono, princesa Izabel, entrando para história do Brasil como redentora e heroína da libertação do povo negro. Esta é a versão pura e simples que os livros didáticos querem impor nestes 131 anos em escolas brasileiras.

Historicamente entidades do movimento negro brasileiro lutam para garantir o dia 20 de Novembro como data referência de Resistência e Luta do povo Negro em homenagem a Zumbi, Dandara, e tantos outros lutadores negros, assim como dar visibilidade à verdadeira história e seus legítimos heróis. O 13 de Maio é o dia de denunciar a farsa da abolição, à medida que ela foi assinada num momento em que a população escrava já era mínima, as rebeliões de escravos eram constantes e a organização de negros e negras em quilombos, como Palmares (um dos maiores e mais conhecidos), cresciam a cada dia.

Negros e negras, indígenas e brancos revoltados com o sistema se “aquilombavam”, ou seja, organizavam-se, para o pavor dos fazendeiros e do sistema de governo da época. Aliado a isso, houve também a pressão internacional de países em processo de industrialização e pelo sistema econômico da época para que o Brasil seguisse o mesmo exemplo, já que seria mais rentável economicamente para o país aderir ao trabalho “assalariado livre”. Essa movimentação foi usada também como oportunidade de “embranquecer” a população do Brasil – já que negros e negras eram massivamente a maioria da população -, abrindo as portas para a imigração e contratação de mão de obra européia, cujos trabalhadores tiveram privilégios, mas sofreram com a exploração do capital.

A abolição da escravidão negra no Brasil ocorreu sem nenhuma política de integrar negros e negras à sociedade, sem nenhuma garantia de reparação pelos 350 anos de opressão e exploração escravocrata.

Simplesmente, a negrada ganhou a rua para andar ou morrer, alguns poucos permaneceram nas fazendas. A grande maioria foi largada à própria sorte e relegada à margem da sociedade; assim foram se reinventando e resistindo como sujeitos numa sociedade que não os queria, que os negava, que os excluía, que os discriminava, que os perseguia, que os criminalizava.

Todas estas violências dentro do sistema capitalista só foram se apoiando no racismo para melhor oprimir, explorar e dividir a classe trabalhadora negra. Essa parcela da sociedade ainda hoje se encontra, em sua grande maioria, à margem da sociedade, nas favelas, nas periferias, nos bolsões de miséria, nos piores extratos do mundo do trabalho, nos serviços mais precarizados, nas terceirizações, na informalidade ou compõem a maioria dos desempregados.

Mantendo as mulheres negras e homens negros ainda na base da pirâmide social, comprovando toda a desigualdade social existente, mas, também, que esta desigualdade tem cor, tem raça, tem gênero e tem endereço. E, hoje, diante de um governo de ultradireita como o de Bolsonaro, que mesmo antes de eleito já expressava todo o seu racismo, o seu machismo, a sua LGBTfobia, a sua violência contra os setores mais oprimidos e explorados da classe.

Após a eleição, os ataques, de forma veloz, vêm se materializando na proposta dele de reforma da Previdência que atinge aos trabalhadores, mas com mais perversidade aos negros, pobres e a juventude periférica.  Na forma como os policiais vêm assassinando a população negra nas favelas e periferias, nos cortes de orçamento para a Educação e saúde publica, principalmente, setores que são fundamentalmente importantes para a população negra e pobre, nos direitos a terra e costumes dos povos originários, como os quilombolas e indígenas.

Isso nos coloca a real necessidade, enquanto movimento negro de luta, classista e socialista, de nos manter firmes na denúncia contra o racismo, o machismo, a LGBTfobia, e contra todas as formas de opressão e exploração à classe e ao povo negro e pobre. Exigimos reparação, cotas e ações afirmativas ao povo negro, já. Chamamos a responsabilidade e unidade para lutar de todas as organizações e movimentos que querem de fato um modelo de sociedade justo e igualitário, sem conciliação com governos, patrões e traidores da classe e do povo.

Com informações do Setorial de Negras e Negros da CSP-Conlutas