Cleuton Araújo, de Fortaleza (CE)

Há 122 anos, no dia 16 de maio de 1898, nascia em Tóquio o cineasta e roteirista Kenji Mizoguchi. De família pobre, Mizoguchi começou a trabalhar ainda muito jovem. Antes de se tornar um renomado diretor de cinema, trabalhou em uma farmácia, em uma estamparia, em um jornal como ilustrador e como ator.

Devido às dificuldades financeiras, o pai de Mizoguchi vendeu a filha mais velha para se tornar gueixa. Tal fato abalou profundamente o jovem Mizoguchi e muito de sua obra reflete a preocupação com a opressão da mulher.

Centralmente, seus filmes retratam setores marginalizados e pauperizados da sociedade, como gueixas, prostitutas e simples trabalhadores. Suas dificuldades, anseios e modo de vida.

A estética da obra de Mizoguchi é fortemente influenciada pela pintura e literatura, tanto japonesa como ocidental.

François Truffaut o considerava “o maior dos cineastas japoneses, sem dúvida um dos maiores cineastas“. Para Godard, “se a poesia surge a cada instante em todos os planos filmados por Mizoguchi, trata-se como em Murnau, do reflexo instintivo da nobreza inventiva do autor. Assim como o diretor de Aurora, o de Contos da lua vaga sabe descrever uma aventura que é, ao mesmo tempo, uma cosmogonia“. O diretor franco-suíço tecia comentários elogiosos, ao comparar a obra de Mizoguchi a de Murnau, grande expoente do expressionismo alemão.

Kenji Mizoguchi merece lugar de destaque na história da sétima arte. Não fica atrás de grandes cineastas, como Bergman, Kurosawa, Fellini e Ozu. A seu modo, combateu a opressão machista tão arraigada na sociedade japonesa, expondo a situação da mulher. Seus filmes refletem uma obra marcada pela sensibilidade e beleza poética.

Faleceu em 1956 vencido pela leucemia, na cidade de Kyoto. Dono de uma obra extensa, gravou mais de 80 filmes. Infelizmente, boa parte perdeu-se no tempo.

Oito filmes para mergulhar na obra do diretor japonês Kenji Mizoguchi

As irmãs de Gion (1936)
Retrata o modo de vida de duas irmãs gueixas que moram no bairro de Gion, em Kyoto. Mostra formas distintas das duas lhe darem com situações da realidade.

Crisântemos tardios (1939)
Mostra a vida de um ator de teatro, nascido em uma família tradicional, que busca ser reconhecido pela sua arte.

Oharu: vida de uma cortesã (1952)
A obra retrata a vida de Oharu, desde a Corte do Imperador até a prostituição. Recebeu Leão de Prata em Veneza.

Contos da lua vaga (1953)
No Japão do século XVI, dois irmãos viajam à capital em busca de vender objetos de cerâmica. Tomam caminhos distintos e um deles embarca e uma viagem surreal com a misteriosa Lady Wakasa. Agraciado com o Leão de Prata em Veneza.

 

Os músicos de Gion (1953)
Mostra a relação entre a gueixa Miyoharu e uma adolescente que vira sua aprendiz.

Os amantes crucificados (1954)
Um drama trágico que envolve a relação amorosa entre a esposa de um comerciante e um dos empregados de seu esposo.

Intendente Sansho (1954)
No Japão do século XI, a família de Taira é separada pelas lideranças feudais. Seus dois filhos são enviados para um campo de trabalho escravo e sua esposa é forçada a se prostituir. Foi premiado com o Leão de Prata em Veneza.

Rua da Vergonha (1956)
Retrata o cotidiano de prostitutas em um bordel na Tóquio do pós-guerra. As histórias e vivências de cada uma delas.