Zona Sul de São Paulo

O dia 11 de julho de 2013 já entrou para a História com uma das maiores e mais importante mobilizações já vistas neste país. Marcado pela entrada da classe operária, com suas bandeiras e métodos de luta, nas mobilizações contra as políticas econômicas e demais descaminhos do governo do PT, o “11 de julho” também foi marcado pela unidade dos movimentos sociais, inclusive os que lutam contra o racismo, o machismo e a homofobia.

Do Norte ao Sul do país, os manifestantes exigiram o “Fora Feliciano”, repudiaram a violência contra as mulheres e o “estatuto do nascituro” (ou a “bolsa-estupro”, que é o seu verdadeiro significado) e protestaram contra a discriminação racial e genocídio da juventude negra levado a cabo pela forças de repressão do Estado.

No interior das colunas organizadas pela CSP-Conlutas, movimentos como o Quilombo Raça e Classe, Mulheres em Luta e o Setorial LGBT da entidade, levantaram estas bandeiras, com orgulho, lado a lado das bandeiras dos movimentos sindical, estudantil e popular, com a certeza de que a única forma de lutar consequentemente contra a opressão é em estreita unidade com os trabalhadores e a juventude, e no combate direto ao sistema que oprime para explorar ainda mais.

Mulheres trabalhadoras em luta
Um exemplo particularmente significativo da combinação da luta contra a opressão e a exploração foi dado na metalúrgica Chris Cintos, na Zona Sul de S. Paulo, onde o Movimento Mulheres em Luta (MML) saudou milhares de trabalhadoras que paralisaram a fábrica e se juntaram ao arrastão que tomou as ruas dos “corredores” de fábricas da região e seguiu até o Largo Treze, no centro do bairro.

A empresa, que se apresenta como a maior fabricante de cintos de segurança do país, conquistou este título às custas da extrema exploração de cerca de 1800 trabalhadores, a sua grande maioria mulheres (dentre delas, muitas negras). Uma exploração fortemente alimentada pelo machismo.

Enquanto se organizavam para a assembleia, as trabalhadoras davam exemplos e mais exemplos do que passam no interior da fábrica. Uma regra absurda faz com que, quando têm que levar seus filhos ao médico, as operárias sejam descontadas no dia da consulta e no domingo; o assédio sexual é constante e o assédio moral acompanha o absurdo ritmo de trabalho que é imposto por chefetes que atuam de forma ditatorial e patriarcal no interior da fábrica.  

Também foi contra tudo isto que as operárias aclamaram a proposta do sindicato de parar a fábrica logo após terem entrado para o turno da manhã. E também foi por sentirem, no dia a dia, a opressão machista que as trabalhadoras saudaram com grande entusiasmo a fala da professora Janaina Rodrigues, da oposição da Apeoesp, dirigente do MML e da Secretaria de Mulheres do PSTU, logo após a votação da adesão à greve.

“Hoje, os brasileiros estão fazendo História, promovendo um forte e combativo dia de paralisação nacional. E vocês, aqui e agora, estão construindo um lindo capítulo desta história. Especialmente vocês, mulheres, são motivo de orgulho para todos nós. Estão demonstrando que são guerreiras e dando um importante passo para quebrar as amarras do machismo e da exploração que as oprimem e impõem precárias condições de vida. Um passo ainda mais certeiro, porque dado ao lado de milhões de outros trabalhadores, num dia de enfrentamento não só contra os patrões da fábrica, mas também contra Dilma, Alckmin, Haddad e todos aqueles que mantém esta situação inaceitável ”, disse Janaína.

Nossa luta é todo dia! Contra o machismo, o racismo e a homofobia!
Enquanto o ato avançava pelas ruas e avenidas da Zona Sul, Janaína destacou a importância da paralisação da Chris Cintos: “Para nós, do MML, o que vimos hoje, aqui, justifica nossa própria razão de existir. Dentre todas as fábricas paralisadas na Zona Sul, esta é a que tinha o maior número de mulheres e o exemplo que elas deram tem uma importância histórica para o tipo de movimento que queremos construir. Por um lado, aqui estão concentrados, de forma gritante, todos os horrores que são enfrentados pelas mulheres da classe trabalhadora, todos os dias. Por outro, ao aderirem ao movimento, estas mulheres deram uma demonstração de sua garra e de que a luta contra o machismo é, também, uma luta contra o sistema que dele se beneficia”.

Assim como muitos outros que paralisaram as fábricas pela manhã, várias trabalhadoras se juntaram ao ato na Paulista, no meio da tarde. E, lá, também puderam ouvir a fala de Ana Luiza Figueiredo. Ana Luiza falou em nome do PSTU e também destacou a importância da luta contra a opressão e a exploração.

“Estamos aqui para lutar pelos nossos direitos e por melhores condições de vida mas, também, não podemos esquecer que exigimos o fim de toda e qualquer forma de opressão e da absurda exploração que é imposta a milhões daqueles que são historicamente marginalizados. Também estamos aqui para dizer em alto e bom som ‘Fora Feliciano’, ‘Não ao estatuto do nascituro’, ‘Chega de genocídio da juventude negra e pobre nas periferias’, lembrou a dirigente do PSTU.