Os gastos com a realização da Copa do Mundo é um dos principais alvos das manifestações pelo Brasil. A frase “tem dinheiro pra Copa, mas não pra saúde e educação” é repetida por milhões. Também não faltaram cartazes pedindo hospitais, escolas e universidades com “padrão Fifa”. Ou ainda, faixas que dizem: “se seu filho ficar doente, leve a um estádio”. 
Os gastos da Copa são revoltantes. No Brasil, já foram gastos mais de R$ 27 bilhões em obras de infraestrutura, estádios e reformas de aeroportos. Dos R$ 27 bilhões, cerca de 20 bilhões vêm dos cofres públicos. A Copa no Brasil já custa bem mais da realizada, em 2010, na África do Sul, que consumiu R$ 17,2 bilhões. O valor é maior, também, do que a edição alemã (2006), que custou R$ 12,9 bilhões. 
Em seu pronunciamento na TV, Dilma negou que haja recursos públicos nas obras dos estádios, mas apenas “financiamentos que serão devidamente pagos pelos que estão explorando esses estádios”. Segundo o site Contas Abertas, em sete anos já foram destinados mais de R$ 7 bilhões do orçamento público para obras, não só de estádios, mas campos e centros esportivos. Só o Maracanã recebeu R$ 1,4 bilhão em dos cofres públicos antes de ser entregue nas mãos do empresário Eike Batista.
O governo custeia, além disso, estudos e consultorias para a Copa. Ainda segundo o Contas Abertas, só em 2013 foi autorizado o repasse de R$ 270 milhões ao programa de “Apoio à realização da Copa do Mundo FIFA 2014” que prevê, entre outras medidas, consultorias às empresas que atuarão aqui.
Todo o financiamento é realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), que dá dinheiro público as empreiteiras. O que Dilma tenta esconder é que o “empréstimo” é realizado com generosos juros de 5% ao ano e um prazo a perder de vista, de 15 anos. Só pra efeito de comparação, os juros especiais, que sufocam milhares de trabalhadores, são de 150% ao ano. 
No fim das contas, o governo brasileiro acaba bancando as obras para que a FIFA, as grandes empresas patrocinadoras e as emissoras de TV saiam lucrando. Além disso, o país acabou cedendo sua soberania quando aprovou a chamada “Lei da Copa”, um conjunto de leis de exceção que passa por cima das leis nacionais para proporcionar o máximo de lucro para a FIFA e seus patrocinadores. Uma das expressões disto é a supressão do direito à meia-entrada dos estudantes. Como se não bastasse, os estádios serão privatizados, como é o caso do Maracanã. Por isso, tem razão a população que vai para rua com cartazes: “É preciso chutar o traseiro da FIFA”. 
 
Cadê saúde e educação?
O pior de tudo é que o valor investido na Copa é 71% de todo o orçamento destinado a educação neste ano. O valor total destinado à educação é de R$ 38 bilhões.  O valor gasto com a Copa também poderia construir 570 mil habitações do programa “Minha casa, Minha vida”, cujo custo médio, para cada habitação, é de R$ 40 mil.  
A educação brasileira vive um verdadeiro apartheid. Hoje, temos no Brasil 14 milhões de analfabetos, segundo o IBGE. E 30 milhões de analfabetos funcionais. O Brasil ainda tem 41,5 milhões de crianças e jovens entre 0 e 24 anos fora da escola. Pouco mais da metade dos jovens não tem acesso à educação no Brasil, negando todas as leis constitucionais que determinam. desde 1988, a garantia de uma educação pública, gratuita e universal.
Já a saúde pública agoniza. Os governos desprezam a população trabalhadora que precisa do Sistema Único de Saúde (SUS), enfrenta atendimento precário, longa espera por atendimento, falta de leitos e pacientes jogados em enfermarias improvisadas em corredores. Muitas mortes que poderiam ser evitadas. Isto é assim porque o SUS se transformou em um sistema para atender “pobres” que não podem pagar planos privados de saúde. O SUS foi sucateado para favorecer a saúde privada, que dominou todo o sistema. Dos 431 mil leitos contabilizados em 2009, 279 mil (65%) estão na rede hospitalar privada e 152 mil (35%) na rede pública, aponta o IBGE. O Brasil perdeu 11,2 mil leitos hospitalares entre 2005 e 2009, segundo o mesmo instituto.
 
Contrarreforma urbana 
Outra coisa que vem revoltando a população são as  remoções de moradores em função das obras da Copa.  Está prevista a remoção de 250 mil pessoas das suas casas, entre removidos e ameaçados de remoção, segundo o Comitê Popular da Copa – 2014. 
Por trás de toda a monumentalidade das obras, travestida como uma “celebração do esporte” se esconde grandes interesses econômicos e uma contrarreforma urbana a favor da especulação imobiliária. Vale lembrar que, assim como na saúde e educação e todo o resto, este processo atinge de forma ainda mais violenta a população negra e moradora das periferias.
 
Repressão e Estado de Sítio 
Umas das consquencias mais nefastas da Copa, já antecipada na Copa das Federações, é a absurda repressão contra qualquer contestação aos eventos. Os governos estaduais, a presidente Dilma e a FIFA mobilizam a topa de choque e a Força Nacional de Segurança para impor um verdadeiro Estado de Sitio nas áreas contíguas aos estádios. Como vimos em muitas capitais que abrigaram jogos da seleção, como em Salvador e Belo Horizonte, a repressão foi indiscriminada atingindo até idosos e crianças. 
Se os governos pretendiam fazer da Copa das Confederações uma celebração popular, o tiro saiu pela culatra. Agora o povo vai para a rua lutar contra a maracutaia da Copa, exigir mais saúde e educação e celebrar as vitórias que conquistam com sua mobilização. 
 

Post author Da Redação
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