Um ano após milhares de famílias serem expulsas de suas casas, o Opinião Socialista conversou com Antônio Donizete Ferreira, o Toninho, da direção do PSTU e advogado do Movimento de Ocupação do Pinheirinho. Toninho falou sobre a continuidade da luta por justiça e punição dos responsáveis pela violenta desocupação. O advogado reafirmou que o Pinheirinho continua vivo na luta por moradia.

Opinião Socialista: Após a desocupação do Pinheirinho, uma série de iniciativas jurídicas e políticas foram tomadas. Como andam estas ações depois de um ano?
Em primeiro lugar, a desocupação foi um festival de irregularidades. Em termos judiciais, inclusive, está absolutamente tudo errado. O processo não terminou. Não deixamos que ele fosse arquivado. Primeiro, porque a liminar que nós tínhamos na época impedia a desocupação. Além disso, nós entramos com mais de mil ações pedindo ressarcimento das perdas, por dano moral e material. Os moradores do Pinheirinho perderam tudo. Suas casas, seus móveis; tudo o que tinham nos seus lares se perdeu, ficou nos escombros. E, além do mais, perderam o seu baú de recordações, fotos antigas, discos, roupas, bichinho de pelúcia. Ainda foram submetidos a uma violência desumana quando, às cinco e meia da manhã, foram acordados com um batalhão da polícia na porta das suas casas, com gás lacrimogêneo sendo lançado dos helicópteros. Alguém precisa ressarcir, precisa compensar isso tudo. O Estado, a prefeitura ou a massa falida. Neste sentido, fizemos também uma representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que sejam apuradas as responsabilidades do juiz Ivan Sartori, presidente do Tribunal da Justiça de São Paulo; de Rodrigo Capez, assessor do presidente do TJ-SP, e da juíza Márcia Loureiro, de São José dos Campos. A representação ainda não foi decidida, mas vai, agora, para o pleno. Alguém precisa ser responsabilizado por toda a violência. Nós achamos que quem aperta o gatilho tem responsabilidade, mas quem manda apertar o gatilho também é culpado. Fizemos também uma representação na Organização dos Estados Americanos (OEA), assinada e enviada por renomados juristas brasileiros.

Como está a organização do movimento do Pinheirinho após a desocupação?
Continuamos realizando assembleias com os moradores de quinze em quinze dias no Campão, no Campo dos Alemães. Existem também reuniões por bairros onde eles estão morando. Nestas reuniões, é discutida a perspectiva da luta e como os moradores estão vivendo. O Pinheirinho não era apenas um terreno. Era muito mais que isso.

Pinheirinho é um povo, que possui toda uma particularidade. É um povo que aprendeu que precisa se defender, que precisa lutar. E essa luta segue. O dia 22 de janeiro foi uma data muito triste, mas não foi o final. A luta não terminou e seguirá até que estas pessoas tenham uma casa. E mesmo quando já estiverem morando nas novas casas, vamos continuar organizados para continuar lutando por tudo o que têm direito. Por exemplo, que as mulheres continuem organizadas na luta por creche, mais escolas e contra a violência doméstica. Pinheirinho é um exemplo que eles não conseguiram apagar. Tanto é que muitas ocupações que vieram depois, no Brasil inteiro, são chamadas de “Novo Pinheirinho”.

Enquanto tiver uma família sem teto, temos que continuar nossa luta. E os moradores do Pinheirinho sabem disso.

Post author Luciana Candido e Raíza Rocha, enviadas a São José dos Campos (SP)
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