Protestos, levantes e mobilizações populares contra a dominação imperialista continuaram ocupando o centro do cenário político da América Latina em 2006. Esses fenômenos mostraram uma extraordinária reação das massas contra os planos neoliberais exigidos pelo imperialismo e criaram um novo cenário político para o continente.

Ao longo de toda a década passada, os governos submissos a Washington aplicaram no continente todo o receituário ditado pelo FMI, que consistia no pagamento da dívida externa, privatizações, dolarização da economia e adequação das leis aos ditames do capital transnacional.

Essa política de recolonização gerou uma nova situação de dominação, aprofundando o desemprego e a miséria. Mas gerou, também, uma forte reação e o ascenso das lutas do movimento de massas latino-americano, que transformou o continente em um palco de grandes mudanças e revoluções.

Esse giro das massas à esquerda segue um ritmo desigual em cada país, e teve como seus maiores picos as revoluções que ocorreram na Bolívia (2003 e 2005), no Equador (2000) e na Argentina (2001).

Não há dúvidas de que a luta dos povos contra a recolonização imperialista ampliou-se em 2006, atingindo praticamente todo o continente, inclusive países que viviam uma relativa estabilidade política, como o México e o Chile.

No entanto, em alguns países,a população se expressou em grandes mobilizações e, em outros, através das eleições de diversos governos de Frente Popular, como o de Lula, Evo Morales (Bolívia) e de Tabaré Vazques (Uruguai) e nacionalistas populistas, como Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador).

Entre os quatro países com maior peso econômico do continente, um vive um governo de frente popular (Brasil), dois possuem governos populistas nacionalistas (Venezuela e Argentina) e outro só não tem um governo populista por uma fraude escandalosa (México).

Esse fenômeno político, sem paralelos na história recente, evidencia uma ampla rejeição aos governos de direita, que implantaram planos neoliberais no passado também se insere no marco de uma profunda crise pela qual passa o imperialismo ianque, com o atoleiro na guerra no Iraque, expresso na derrota de Bush nas eleições legislativas dos EUA. Pode-se dizer que os EUA não controlam como antes o atual processo latino-americano. Quase todos os candidatos da direita tradicional, apoiados pelo imperialismo, foram sendo sistematicamente derrotados por candidatos que assumiram um discurso “nacionalista” ou “antiimperialista”, rometendo “governar para os menos favorecidos”.
 
Crise da democracia burguesa
A combinação de anos de neoliberalismo e o desgaste que sofrem os governos que aplicaram docilmente este projeto levaram a uma crise permanente dos regimes democráticos burgueses em toda América Latina. O desgaste e a desconfiança em instituições, como Congresso, governo e partidos, diminuem a credibilidade das eleições como um fator de mudança.

A saída dos governos de frente popular tornou-se um recurso cada vez mais utilizado para frear a mobilização revolucionária das massas. Mas serve também como um recurso de fortalecimento temporário dos regimes democrático-burgueses, por gerar expectativas nas massas. Com a frustração das expectativas se amplia novamente a crise destes regimes.

A incorporação de ex-dirigentes operários e camponeses nesses governos acalenta uma enorme ilusão entre os trabalhadores que acham que estes governos “são seus” e suas reivindicações serão atendidas. Essa combinação de governos populistas e de frente popular com a democracia burguesa é a principal base de desvio dos processos revolucionários no continente.
 
Governos de esquerda?
No entanto, depois de eleitos, eles não atuam no sentido de acabar com neoliberalismo. Ao contrário, continuam aplicando os mesmos planos pró-imperialistas de antes, mantêm o predomínio das grandes empresas multinacionais, seguem pagando a dívida externa, e “combatem as desigualdades” com políticas sociais compensatórias, “recomendadas” pelo Banco Mundial e pelo FMI. Procuram, dessa forma, evitar que o ascenso das massas desemboque em uma via revolucionária.

Pesa também a combinação desses governos com o crescimento econômico, sustentado, sobretudo, pela economia dos EUA. Tal crescimento gera ilusões entres as massas, que atribuem a esses governos as pequenas concessões que recebem, como as políticas sociais compensatórias. As previsões econômicas para os próximos anos, entretanto, apontam para a desaceleração e uma nova crise cíclica do capitalismo, que levará a economia dos países latino-americanos para o fundo do poço, o que terá reflexos políticos. O crescimento do número desses governos de Frente Popular e populistas ainda se dá no marco de um crescimento econômico. Com a crise cíclica da economia que se avizinha, é bem provável que tenhamos uma maior polarização da luta de classes, que atingirá também esstes governos.

Certamente, há grandes diferenças entre esses governos, em função da luta de classes e da economia de cada um dos países. Todavia, existe algo em comum entre eles. Uma vez que não apontam para nenhuma ruptura e não avançam para as mudanças sociais e econômicas exigidas pelo povo, esses governos asseguram os lucros das multinacionais imperialistas, desviam ou congelam o ascenso da luta revolucionária das massas, buscando a derrota dos trabalhadores e a reestabilização dos regimes.

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