Foi desta forma que o escritor mexicano Carlos Fuentes comentou a morte do ditador chileno Augusto Pinochet. Tão logo foi anunciado o fim do general carniceiro, cerca de cinco mil pessoas foram às ruas estourar champanhe e comemorar.

A alegria teve uma razão bastante concreta. Pinochet liderou uma das mais brutais ditaduras da América Latina. Nomeado Comandante em Chefe do Exército chileno pelo governo de frente popular de Salvador Allende, Pinochet liderou um golpe contra o presidente em 1973, colocando um fim à política da “via pacifica” ao socialismo, defendida por Allende.

No poder, Pinochet fechou o parlamento, perseguiu opositores, reprimiu os sindicatos e pôs os partidos políticos na ilegalidade. Nos anos em que esteve no poder, entre 1973 e 1990, estima-se que 3.197 pessoas tenham sido assassinadas por seu regime. Cerca de um milhão de chilenos deixaram o país.

Tamanha repressão não foi por menos. Pinochet, apoiado por EUA e Grã-Bretanha, fez com que o Chile se tornasse o primeiro país a implementar o neoliberalismo que ditaria as regras no mundo anos depois. Privatização, abertura econômica, reforma da Previdência e desmonte do Estado encheram os bolsos dos ricos do país e dos investidores estrangeiros.

Em um tremendo show de hipocrisia, a grande imprensa noticia a morte do ditador, criticando o seu despotismo, mas, ao mesmo tempo, reivindicando o seu “legado econômico neoliberal”. No entanto, a “experiência neoliberal” chilena só foi possível com o esmagamento do movimento operário e social.
Através de sucessivas manobras políticas, Pinochet se segurou no poder até 1990, quando deixou a presidência, mas continuou comandante do Exército.
Em seu país, o general enfrentou cerca de 300 processos por violação dos direitos humanos. Mas se safou deles alegando problemas de saúde. Em 2004, descobriu-se que o ditador mantinha uma conta secreta com US$ 27 milhões, dinheiro roubado durante seus anos no poder.

Pinochet morreu e isso só pode ser motivo de alegria. Mas sua morte passa impune, e o ditador vai para a tumba sem nunca ter pagado por seus crimes. Mais do que isso. Embora tenha desaparecido, o neoliberalismo implementado pelo general continua mais do que vivo no Chile, agora ironicamente sob a égide da presidente Michele Bachelet, ex-ativista política torturada por seu regime.

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