Adaptação de peça de Bertolt Brecht está no Teatro X, em São Paulo, até 31 de maioO Teatro X é um espaço na Bela Vista, que apresenta até 31 de maio “Foices, Facões, Fuzis” produzida pela Companhia Trabalhadores da Arte. A peça é uma adaptação do clássico “Os fuzis da senhora Carrar”, do teatrólogo alemão Bertold Brecht.

Ambientada no interior de São Paulo, a peça trata do drama de uma família maltratada pela miséria e mortalmente ferida na luta pela terra. Antônia, a mãe, de todas as formas tenta proteger o filho João do incerto futuro que a luta pela reforma agrária pode trazer. Luta que já lhe tirou o marido, assassinado numa ocupação no Pontal do Paranapanema.

Diferentemente de Antônia, pensa Nina, sua filha, que vê no movimento pela reforma agrária uma luz de esperança para a pobreza que tanto as faz sofrer.

O drama da mãe é perceber a impossibilidade de futuro fora da luta política e engajada. De um lado ela tem a fome, o trabalho duro e o dinheiro pouco. Do outro, a luta por um pedaço de terra e a possibilidade da morte.

Esse dilema é colocado em debate com a chegada do irmão de Antônia, Pedro, que participa da luta contra o latifúndio e foi buscar os fuzis deixados pelo cunhado assassinado. Pedro é um sujeito racional e por ter (ou achar que tem) uma visão política esclarecida, fica insensível às dores e aflições da irmã.

Embora o drama seja familiar, a peça mostra como diferentes forças que compõem a sociedade influenciam e, até certa medida, determinam as ações políticas dos menos favorecidos. No espetáculo, os latifundiários da região usam o rádio para convencer os agricultores a não se engajar na luta. Papel semelhante cumpre o padre, que também visita Antônia.

Após perder o marido, Antônia se entrega à igreja, que passa a influenciar sua inércia política. Contudo, essa influência não é determinante.

A peça é bastante inteligente ao mostrar que mesmo Antônia e o Padre, sem estar no movimento, ajudam da maneira como podem, cuidando dos feridos ou das crianças, enquanto os pais vão às marchas. Porém esse apoio silencioso não é suficiente. A luta e a vida sempre exigem mais. Essa é a lição que Antônia, a duras penas, vai aprender.

Outras personagens tentam convencer Antônia para que ela apóie o ingresso de João no movimento. Porém, como um objeto irremovível, rebate a todos os argumentos. Mas a vida, com as reviravoltas de suas forças incontroláveis, faz Antônia perceber o quão barulhento pode ser o seu silêncio e o quanto pode ser doloroso não se engajar.

Os personagens são fortes, os atores são bons, a ambientação é legal, a atualidade do tema é enorme, o preço é acessível, enfim, entre todos os motivos que justificariam assistir a peça, finalizamos com um: o espaço da escolha de quem não tem escolha, na luta pela sobrevivência. Você pode não sair mais politizado da peça, talvez nem deva, mas com certeza sairá mais sensível à luta social.

SERVIÇO:
Teatro X
Rua Rui Barbosa, 399, Bela Vista, São Paulo
Fone: (11) 3283 2780
De 18 de abril a 31 de maio
Sábados às 21h
Domingos às 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

  • Para maiores informações, acesse http://trabalhadoresdaarte.blogspot.com

  • Para os sindicatos, escolas, universidades e movimentos que quiserem contratar o espetáculo, basta entrar em contato pelo e-mail [email protected]

    FICHA TÉCNICA:
    Elenco: Cléo Moraes, Natália Sanches, Denis Snoldo, Eduardo Mancini, Bárbara Kanashiro, Marla O´Hara e Rozanna Lazzaro
    Dramaturgia e direção: Maria Cecília Garcia
    Assistência de direção: Lúcia Capuani
    Preparação corporal: José Carlos Freyria
    Cenário e Fotografia: Carlos Sagra
    Luz: Rozanna Lazzaro e Bárbara Kanashiro
    Trilha Sonora: Ed Lacosta
    Voz off: Tin Urbinatti.
    Material gráfico: Elaine dos Santos
    Operação de som e luz: Rozanna Lazzaro e Bárbara Kanashiro