A colombina Rosa Cecília Lemus é militante da Corriente Sindical Unidad. Em meio às atividades do Congresso da Conlutas, ela falou sobre os assassinatos de dirigentes sindicais pelos paramilitares e também sobre a libertação de Ingrid BetancourtComo e quais são as denúncias sobre as repressões a sindicalistas realizadas pelo governo colombiano?
A repressão ao movimento sindical existe a muito tempo. Os dois últimos governos e agora o de Álvaro Uribe produziram cifras escandalosas. Os mesmos paramilitares que amparavam os governo começaram a fazer denúncias depois que recorreram a um programa do governo, chamado “Justiça e paz”. Assim começaram as estimativas do número de vítimas da violência. O procurador nacional da Colômbia diz que o número de mortes causadas pelos paramilitares é por volta de 11 mil. Mas o Movimento Contra os Crimes de Estado, que reúne um setor das famílias das vítimas, estima uma cifra superior, de 15 mil. Entre estes mortos estão dirigentes camponeses, indígenas e sindicalistas. Só neste ano foram assassinados 40 sindicalistas.

O governo diz que os bandos para-militares se desmobilizaram, mas isso não é certo. Os paramilitares seguem sendo dirigidos das prisões. Também mudaram de nome, como “Agulhas Negras”. Porém continuam sendo as mesmas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), a maior organização de paramilitares do país.

Fale um pouco da colaboração do imperialismo ao governo Uribe.
A colaboração do governo dos EUA é total. Assim como a colaboração de Uribe ao governo norte-americano também é total. Na América Latina, Uribe é campeão da política de “combate ao terrorismo”, nos termos expostos por Bush, ou seja, de guerra contras as Farc. Mas os paramilitares não são chamados de terroristas. Por isso há incursões militares, bombardeios contra povoados, fumigação contra plantações de coca etc. Há também uma forte ajuda econômica para o Plano Colômbia. Uma parte do dinheiro é usada para fortalecer o aparato militar. Outra é comprar informantes, pagar recompensas pelas cabeças dos dirigentes das Farc. Algo que foi visto com a recompensa ao assassino de Ríos, do secretariado das Farc que foi assassinado pelo seu próprio segurança.

A libertação de Ingrid Betancourt fortaleceu Uribe e sua tentativa de obter um terceiro mandato?
O terceiro mandato de Uribe está sendo impulsionado há muito tempo. Seus apoiadores, inclusive, estão recolhendo assinaturas para um abaixo-assinado para sua reeleição. Mas, no meio disso, eclodiu uma crise muito forte entre as instituições depois que começou ficar claro que os crimes dos paramilitares transformaram a Colômbia num cemitério, com os milhares de pessoas assassinadas. Além disso, o Congresso do país tem por volta de uns 35% dos parlamentares comprados pelos paramilitares. Recentemente foi descoberto que muitos foram comprados para votar pela reeleição de Uribe.

Não estava na Colômbia quando Ingrid foi libertada. Mas, pelo que sei das notícias, parece que houve um resgate militar. Isso fortalece muito o governo Uribe, ainda mais num momento que as Farc sofreram golpes terríveis. A política de Uribe é de derrotar militarmente as Farc. O resgate mostra um exército fortalecido, enquanto a guerrilha está em retrocesso e cada vez mais encurralada.

Para os trabalhadores isso significa o fortalecimento de um governo anti-operário. O resgate de Ingrid foi uma cortina de fumaça para esconder toda a crise institucional que o país vivia.

Recentemente, Chávez disse para as Farc iniciarem um processo de paz com o governo colombiano. Como você avalia isso?
Setores da burguesia e governos latino-americanos defendem como saída uma negociação humanitária do conflito armado. Foi isso que Chávez vinha impulsionando. Se for certa a informação de que Ingrid foi libertada por um resgate militar, isso fortalece a política de Uribe e enfraquece as tentativas de acordo humanitário. Mas não há nenhuma condição de fazer um acordo humanitário sob o governo Uribe.

Eu sou professora. Entre o magistério existe muito rechaço aos métodos das Farc. Não só pela campanha feita pela direita e pelo governo. Mas também porque os métodos da guerrilhas são completamente alheios ao movimento de massas e ao movimento operário. O governo se aproveita dos seqüestros para dizer que a guerrilha mata gente, comete crimes contra a população. Isso marca a consciência da população.

Assim, a guerrilha acaba não ajudando a organização de um movimento operário independente. Nós defendemos essa saída, ou seja, que os trabalhadores construam uma saída independente do governo.

Por outro lado, o Pólo Democrático, que acaba aparecendo como uma opção de esquerda, é, na verde, uma Frente Popular, onde existem setores liberais burgueses com distintas correntes de esquerda. É um Partido policlassista que defende a saída negociada do conflito armado. Na última crise o Pólo se omitiu. Não chamou nenhuma mobilizações contra o governo. Eles não defendem a derrubada do governo.

No ano passado, paralisações dos professores levantaram a bandeira do Fora Uribe. A paralisação foi muito forte e durou um mês. Ma a direção do PD não a levanta essa bandeira. Eles querem as eleições em 2010, ou seja, uma saída institucional.