O Opinião Socialista entrevistou Yury Orozco (teóloga colombiana) e Dulce Vasconcelos (socióloga), integrantes da ONG Católicas pelo Direito de Decidir. Na entrevistas elas falam sobre a necessidade do direito ao aborto e sobre a visita de Bento 16. Leia a versão integral no Portal do PSTU. No dia 10 de maio elas realizam ações paralelas à visita do Papa em 14 estados do país.

Opinião Socialista – O que são as Católicas pelo Direito de Decidir?

Yury – É uma organização feminista fundada em 1993, que tem como principal objetivo lutar pelos direitos das mulheres, especialmente os relacionados aos direitos sexuais, reprodutivos e toda essa problemática articulada com a religião. (…)

Como vocês lidam com questão do direito ao aborto, tão conflitiva dentro da Igreja?

Dulce – Trabalhamos com a idéia de autonomia das mulheres, que é a questão do direito de decidir, ou seja, do reconhecimento da sociedade sobre a decisão que a mulher deve ter sobre o seu próprio corpo e a garantia que Estado deve dar para viabilizar esse direito através de políticas públicas. Nesse sentido, trabalhamos com a questão do aborto com a produção de materiais, argumentos para que sirvam para uma sensibilização da população, porque precisamos ampliar a base de apoio na sociedade para a discriminação do aborto. (…) O nosso trabalho é sempre de provocar esse debate em lideranças dos movimentos sociais, considerando a questão da Saúde pública, o direito das mulheres, da redução de mortes maternas e de ter uma política de prevenção com planejamento familiar.

O que vocês opinam sobre a visita do Papa ao Brasil?

Yury – Existe uma continuidade do Papa atual, com toda uma proposta e um projeto político religioso do Papa João Paulo II. Bento 16 está articulado totalmente com a política do Papa anterior. Por outro lado, se aprofundam algumas coisas que João Paulo II não teve tempo de fazer. Existe toda uma opinião de que o surgimento da Teologia da Libertação tem a ver com a falta de estruturação da Igreja Católica. Então a proposta deles é reestruturar a Igreja internamente, o que chamamos de processo de “romanização”. Todas as decisões estariam assim centralizadas em Roma (…).

Outra proposta, enquanto doutrina, é precisamente a volta de toda tradição da ética moral tradicional, como o casamento, o celibato dos padres, a negação da ordenação das mulheres. (…)

A visita na América Latina é muito significativa, principalmente, pelo papel estratégico do Brasil dentro do catolicismo. A partir daqui, o Papa vem fazer toda uma proposta que vai assentar as bases do que ele vai querer do catolicismo.
Existe um investimento em formar seminaristas conservadores em Roma, fornecendo bolsas. Existe também um forte financiamento de grupos conservadores, como, por exemplo, os carismáticos, a Opus Dei, um grupo que quase ninguém sabia o que era e, agora, está ganhando uma força pública, porque é esse justamente o objetivo (…).
As pastorais sociais são relegadas ao segundo plano. Mas eles mantêm um foco nas Pastorais da criança, onde colocam toda essa discussão sobre direitos sexuais e reprodutivos. Também tem a pastoral da família que é o centro neste momento da Igreja, onde atuam com a bandeira da defesa da família como núcleo central da sociedade e do catolicismo. A outra (bandeira) é a “defesa da vida”, da posição contra o aborto, das pesquisas com células tronco e dos direitos do movimento GLBT. (…)

Dulce – Acho importante ressaltar que a Igreja Católica está perdendo fiéis em vários lugares do mundo. Aqui no Brasil também vemos a saída de católicos em busca de outras religiões. Essa é uma das grandes preocupações do Vaticano, fortalecer essa estrutura interna para reter esse processo.

Esse reforço do discurso conservador talvez seja uma tentativa de fortalecer a estrutura interna da Igreja. (…) É uma reação dos movimentos sociais, em termos de conquistas de direitos individuais. Em 2004, o Papa fez um documento explicitamente contra o feminismo, dizendo que os princípios do movimento feminista eram a causa da desestrutura das famílias.

Post author Por Ana Minutti e Carol Rodrigues, da Secretaria Nacional de Mulheres
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