Diante da crise nas universidades, a greve geral na Educação é uma necessidade urgente

Na ‘Pátria Educadora’ de Dilma, a Educação foi um dos principais setores atingido pelo ajuste fiscal, com um corte de nada menos que R$ 9,4 bilhões. Situação que aprofunda a precarização das universidades federais, a tal ponto que chega a faltar papel higiênico nos banheiros, os terceirizados não são pagos, o que prejudica serviços como limpeza e segurança, os estudantes sofrem com os cortes nas bolsas e os docentes com os salários defasados.

Professores, funcionários e estudantes, porém, estão se levantando contra isso e partindo para a luta, rumo a uma greve geral da educação. A greve dos docentes já atinge 19 universidades, enquanto que em 36 os técnico-administrativos já estão de braços cruzados. Na UFRJ, por exemplo, os estudantes aprovaram greve exigindo o pagamento dos salários dos terceirizados.

Em meio a assembleias lotadas e um enorme clima de luta, porém, alguns se incomodam com a greve e a questionam. Outros afirmam que greve nas universidades não é legítima. Alguns afirmam que este meio de luta é ineficaz e que é apena uma “mimetização dos métodos do movimento operário”. Alguns em dúvida pensam se este seria o melhor momento para a greve. Queremos aprofundar esta discussão.

A greve é uma necessidade
Os trabalhadores e estudantes universitários não só podem fazer greve como hoje a greve é uma necessidade urgente. Afinal, vivemos um momento crucial no país. O governo do PT e o Congresso Nacional, apoiados pela grande imprensa, querem jogar nas costas dos trabalhadores e jovens a conta da crise dos ricos e poderosos. Todo o ajuste fiscal e ataques aos direitos trabalhistas têm por finalidade aumentar a taxa de lucro dos grandes empresários. Os cortes de verbas vão servir para ampliar o montante de dinheiro público que vai para os banqueiros através da injusta e desleal dívida pública.

As consequências do ajuste fiscal já são sentidas pelas universidades: redução do orçamento, congelamento de salário e o não pagamento dos terceirizados, planos de carreira defasados, diminuição da assistência estudantil, infraestrutura péssima e horripilantes condições de trabalho e estudo.

Depois da imensa luta pela aprovação das cotas raciais, são os estudantes pobres e negros hoje que estão tendo que abandonar sua graduação devida a falta de condições para permanecer na universidade. São os trabalhadores terceirizados que cumprem funções fundamentais nas universidades que estão sem receber salário e com contratos precários de trabalho. Ou seja, o ajuste fiscal reforça o projeto de uma universidade elitista e racista destinada a poucos e que vira as costas a seus trabalhadores. Portanto, a greve não só é uma necessidade como é justa e está mais do que na hora.

Quem afirma que no momento atual devemos ficar sentados esperando a história passar, quando se der de conta, terá todos seus direitos dilapidados. A única saída para responder aos poderosos é a luta unificada dos trabalhadores. A greve nas universidades se coloca na perspectiva da construção da greve geral no país. Aqui se trata de responder um retrocesso ao nível de vida geral que o governo e o Congresso Nacional querem nos impor. Todos os direitos que usufruímos foram duras conquistas da mobilização dos trabalhadores. A história não acabou e estamos em um momento decisivo que definirá as próximas décadas.

Greve nas universidades é ineficaz?
O historiador e professor da Universidade Federal Fluminense, Daniel Aarão Reis, em recente artigo publicado na imprensa erra duplamente quando diz que a greve na universidade é ineficaz sendo uma simples “mimetização do movimento operário”. Primeiro porque não é uma mimetização (pode ser traduzido para imitação). Segundo porque se existe mimetização de algo é em seu texto: mimetização dos argumentos burgueses contra as greves.

A greve, que nasceu com o movimento operário, se demonstrou ao longo dos séculos um dos principais métodos de luta do conjunto da classe trabalhadora. É verdade que a greve no funcionalismo público não tem o poder de parar a produção. Mas é errado dizer que por isto o funcionalismo público ou os estudantes não podem fazer greve. Afinal, mesmo a greve nos setores operários tem como um dos seus objetivos parar a produção, mas tão importante quanto isso, o que enfurece ainda mais os patrões, é que nestes períodos se coloca em xeque quem manda realmente nas fábricas: os patrões ou os trabalhadores. Depois de deflagrada as greves, não só os patrões amargam prejuízos, mas também os trabalhadores dão uma pequena amostra de quem na prática detém o poder na fábrica. Se for uma greve geral, os trabalhadores demonstram isso na escala de toda sociedade e mostram o tamanho do poder da classe trabalhadora.

Na universidade não é diferente. Ao pararmos os serviços relacionados à universidade damos um recado aos “patrões”, ao governo e aos tubarões do ensino privado que a universidade pública resiste e luta. Demonstramos na prática que quem manda nos rumos da universidade são seus estudantes e trabalhadores mobilizados e não o governo ou as empresas. Pressionamos o governo a atender nossas pautas e mobilizamos a comunidade universitária. É um dos poucos momentos onde a universidade sai de seus muros e vai ao encontro de toda a sociedade. Ao longo da história são inúmeros exemplos de greves de docentes, técnico-admnistrativos e estudantes que obtiveram vitórias históricas e que ajudaram no desenvolvimento de momentos importantes da luta de classes.

Além disso, temos que reforçar a importância da universidade estar casada com as lutas do movimento operário. Hoje vivemos um momento de debate sobre a construção de uma Greve Geral no país. Várias categorias operárias estão em luta. As greves nas universidades não estão dissociadas disto.

A ideia de que a greve apenas atrapalha a formação dos estudantes não é real. Afinal, a realidade da Educação hoje é que quem está atrapalhando a formação dos estudantes são os projetos do governo que precarizam a educação, impedem estudantes de permanecerem na universidade e deixam em xeque o futuro destes. A greve é a ferramenta mais adequada neste momento para lutarmos em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade para todos. E os próprios estudantes estão cada dia mais cientes disto, basta ver as lutas estudantis em todo o país. Os estudantes podem perder algumas semanas ou meses de aula, mas estão lutando pelo direito de se formar, ter um emprego decente e uma vida digna.

Os que utilizam estes argumentos para deslegitimar as greves na universidade na verdade são contra todo tipo de greve. É aí que Daniel Aarão capitula aos argumentos burgueses. Afinal, os capitalistas dizem que as greves dos trabalhadores são ruins para toda a sociedade, pois interrompe o funcionamento normal da economia e, de acordo com eles, a economia serve para produzir bens para a população. Nada mais falso, afinal, o atual modelo econômico está a serviço dos grandes empresários, banqueiros e latifundiários. Daniel apenas repete o raciocínio destes economistas burgueses adaptado para as greves das universidades. Mas a verdade é que as greves, sejam operárias ou nas universidades, são uma ferramenta importantíssima de luta dos trabalhadores contra os ricos e poderosos que dominam a sociedade economicamente, socialmente e politicamente, através da exploração, opressão e sofrimento da nossa classe.

Este debate também reforça a importância da compreensão da divisão da sociedade em classes sociais antagônicas, que lutam desesperadamente pelos seus interesses, a importância da luta dos trabalhadores e o protagonismo do setor operário na luta contra o capitalismo. Fatos que vários intelectuais, dentre estes renomados ex-marxistas, gostam tanto de dizer serem coisa do passado. Mais uma vez, os fatos destroem as ideologias e ilusões das teorias pós-modernas.