Não fim da opressão racista sem o fim do capitalismo

Os 15 anos do PSTU são marcados pela luta contra toda forma de opressãoO PSTU nasceu e cresceu movido pela certeza de que – como dizem os princípios fundamentais do marxismo – são as condições concretas da realidade e os movimentos da luta de classes que influenciam, de forma determinante, todos os aspectos da vida humana. Sejam os mais imediatos, como as condições de vida e sobrevivência; sejam outros mais difíceis de serem detectados, como a arte, a cultura e o comportamento humano.

É dentro desta perspectiva que também abordamos uma das questões mais complexas de nossos dias: a opressão que afeta, cotidianamente, a vida de milhões de pessoas, devido ao fato de serem mulheres, pertencerem a uma raça ou etnia “diferente” ou terem uma orientação sexual distinta da majoritária.

Apesar de afetarem pessoas de todos os setores sociais, machismo, racismo e homofobia são, também, questões de “classe” e, conseqüentemente, só podem ser combatidas em aliança com a luta contra a exploração capitalista.

Afinal, são muitas as mulheres que vivem da exploração de outras, como as empresárias burguesas; como também, há muitos negros e negras que se aliam aos que oprimem e exploram, a exemplo do nefasto papel de gente como Condeleeza Rice; ou, ainda, são muitos os gays, lésbicas, transexuais e transgêneros (GLBT) que se “integram” à sociedade ou compram sua “aceitação”, através do poder da grana.
Contudo, a maioria das mulheres, negros e homossexuais está entre as camadas mais pobres e, geralmente, a opressão a estes setores é utilizada como forma de intensificar ainda mais a exploração.

É isso, por exemplo, que faz com que, aqui no Brasil, o salário de uma mulher negra seja, literalmente, um terço daquele recebido por um homem branco. E caso essa mulher ainda seja lésbica, ela é uma fortíssima candidata para a fila do desemprego.

Por isso, durante estes 15 anos de vida, não nos cansamos em repetir, em todos os fóruns dos movimentos sociais, passeatas, manifestações e greves, que a exploração capitalista e as opressões caminham lado a lado. E não há como combater o machismo, o racismo e a homofobia sem lutar contra o sistema que deles se beneficia.

Uma lição que vem de longe
Apesar de que, hoje há muitos que acreditam que é possível acabar com a discriminação e o preconceito sem tocar no sistema sócio-econômico, foram muitos os que, no passado, apontaram no sentido oposto.

Negros como Zumbi que, para lutar contra a escravidão, organizaram quilombos em aberta oposição ao sistema que existia então; ou como João Cândido, que para acabar com a “chibata”, voltou seus canhões contra o Palácio do Governo. Mulheres como Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo, que nunca separaram a luta pelo socialismo da luta contra o machismo. Ou os homossexuais que organizaram os primeiros movimentos GLBT e protagonizaram a Rebelião de Stonewall, há exatos 40 anos, na luta direta contra a sociedade que os oprimia.

Na nossa história, temos orgulho de fazer parte desta tradição. Não foi por acaso que, durante todo o processo de organização do PSTU e, particularmente, no seu congresso de fundação, mulheres, negros e negras, gays e lésbicas, se reuniram, produziram documentos e lutaram para convencer os demais companheiros sobre a necessidade da criação de Secretarias especialmente dedicadas ao combate à opressão, sob uma perspectiva classista, socialista e revolucionária. Algo que, inclusive, estampou uma matéria já em nosso primeiro jornal.

No interior do partido, esta tradição se devia particularmente aos companheiros e companheiras que vinham da Convergência Socialista (CS), que desde a década de 1970, organizava em seu interior “frações” de negros, mulheres e GLBT e cumpriu um papel importante na organização destes setores, ainda na época da ditadura.

Como militantes da Convergência, muitos de nós estivemos nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, em julho de 1978, quando foram dados os passos iniciais para a construção do Movimento Negro Unificado (que, hoje, infelizmente, se encontra majoritariamente alinhado com o governo) e nos envolvemos intensamente no processo de organização de negros e negras, como parte da luta pela democratização do país.

Foram também militantes da CS que levaram a perspectiva socialista para o interior do movimento GLBT, que estava se reorganizando no mesmo momento em que as greves do ABC Paulista começavam a nocautear a ditadura.

Como parte do “Somos”, o primeiro e mais importante grupo organizado naquele período, tivemos o orgulho (contrariando a orientação de um setor mais “moderado” e avesso à unidade da luta entre explorados e oprimidos) de levar, no 1° de Maio de 1980, para o interior do estádio da Vila Euclides, o “templo” da luta dos metalúrgicos do ABC, faixas com dizeres como “Contra a discriminação do(a) trabalhador(a) homossexual”, provocando uma inédita e emocionante solidariedade entre dezenas de milhares de trabalhadores e os 50 militantes GLBT que formavam uma coluna juntamente com a Convergência Socialista.

Como também, foi através da CS que lançamos, em 1980, um documento intitulado “Ousar é preciso” (produzido para a 1ª Conferência de Mulheres da organização), que até hoje nos serve como parâmetro para uma luta feminista, classista e revolucionária.

Não há liberdade possível sob o capitalismo
Nos últimos 15 anos, renovados e fortalecidos pela experiência trazida por outros agrupamentos que deram origem ao partido e pela militância constante nos movimentos contra a opressão, negros e negras, mulheres e GLBT’s militantes do PSTU aprofundaram seu programa para encarar os novos desafios da realidade, publicaram suas elaborações em livros e documentos e se envolveram nas principais mobilizações e campanhas contra a opressão.

Acima de tudo, temos o enorme orgulho de ter ajudado a construir a luta contra o machismo, o racismo e a homofobia naqueles cantos geralmente “esquecidos” pela maioria dos grupos e ONG’s que atuam nestes setores: as comunidades mais carentes, os sindicatos, o interior das escolas e todos os lugares onde a opressão caminha lado a lado com a exploração.

Foi essa mesma convicção que nos levou a defender, no interior da Conlutas, os Grupos de Trabalho (GT) de Mulheres, Negros e Negras e GLBT, como forma de organizar estes setores na luta pela sociedade que queremos e, certamente, iremos construir: uma sociedade completamente igualitária dos pontos de vista econômico e político, plenamente livre e diversa em relação à sexualidade, às raças e tudo mais que nos faz humanos.
Post author Wilson H. da Silva, da redação
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