Foto Agência Brasil

É demolidor o número de pais e mães de famílias que foram demitidos na indústria da construção durante o ano de 2015. Foram 514 mil, segundo pesquisa da FGV. O que é pior é que, desses, milhares não tem conseguido sequer receber suas verbas rescisórias. Ainda se somam a esse desastre milhares de trabalhadores que iniciaram 2016 tendo de fazer lutas e greves pra receber décimo terceiro e salários atrasados.  Esse cenário é, humanamente, mais destruidor tendo em vista que daí se esparrama privações, mais pobreza e até miséria para a vida das famílias operárias da indústria da construção.

Para os donos das empresas de construção, a “queda livre do emprego é o resultado mais eloquente da falta de confiança mínima” no setor, como afirmou o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP (o sindicato patronal da construção), Eduardo Zaidan.  Esses empresários tentam, inclusive, apontar as causas e as saídas dessa crise: “Somente um esforço do Executivo e do Legislativo, com sinais inequívocos de seriedade fiscal e comprometimento com reformas, poderia começar a reverter este cenário, junto com medidas que estimulem o capital privado a investir na ampliação da infraestrutura“.

É preciso, no entanto, decifrar quem, segundo eles, é esse “setor” que está com falta de confiança. O que seria esse “esforço” do Executivo e do Legislativo? O que estão defendendo quando falam em “seriedade fiscal e comprometimento com reformas”?

O fato é que, para além de alguma aparência, essas análises e propostas das construtoras não partem da preocupação com os aspectos humanos dos mais de 500 mil demitidos e seus familiares, ou seja, de nós, os trabalhadores e trabalhadoras. Por que dizemos isso? Bem, vamos tentar responder as perguntas que nós mesmos sugerimos.

Para eles, quem é o “setor”? O “setor”, ainda que como palavra passe uma imagem geral da cadeia produtiva, nada mais é do que eles mesmos, os próprios empresários que perderam a “confiança”. Em que eles precisam voltar a confiar? Precisam ter certeza de que vai ter mais dinheiro público e isenções fiscais (que também é dinheiro) dos governos para eles, como sempre fez o PSDB e como segue fazendo o PT. A partir disso exigem “esforço” dos governantes e também dos deputados, senadores e vereadores. Depois sugerem “seriedade fiscal”. O que isso significa? Significa mais dinheiro público (nosso) para eles, diretamente, bem como para todo o “setor”, no Brasil e no mundo.

Assim estão defendendo total liberdade para a remessa de lucros para o exterior e a manutenção do pagamento da dívida pública aos bancos (que todo ano leva 45% de tudo que o governo federal arrecada). Por quê? Porque, ao final, são esses bancos os donos da maioria dessas empreiteiras e construtoras.

O que os empresários estão propondo quando acrescentam a exigência de “comprometimento com reformas”? Estão defendendo a retirada de direitos trabalhistas. Pois bem, Dilma já anunciou que vai atender a pauta dos empresários. O governo já está “trabalhando” para aumentar a idade mínima da aposentadoria e já falou, através do Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que “precisamos de uma nova reforma trabalhista”. Em sua “nova obra”, a Presidenta, agora vai liberar R$ 10 bilhões de nosso dinheiro para o “setor”, leia-se para os empresários da construção.

Depois de ter passado o ano todo dando dinheiro a empreiteiras corruptas, o governo do PT produz meio milhão de demitidos no setor e agora vai fazer a mesma coisa: atender a pauta dos empresários. Não podemos aceitar isso!

Nós, os operários e familiares da construção devemos ter a nossa pauta, buscar construir a mais ampla unidade e organizar uma ação nacional para exigir que o governo pare de jogar as conseqüências da crise nas nossas costas. Que fazer diante de um governo desses? Como construir a unidade pra lutar? Qual a ação que devemos propor? Que pauta nós temos de apresentar e exigir? É, principalmente, a essas perguntas que nós necessitamos responder.

Diante de um governo que só nos ataca, e uma dita oposição que, no final das contas, concorda com as medidas que só favorecem os empresários, e desse mar de corrupção nas empresas e no Congresso, nós temos de tentar nos unir pra botar pra fora todos eles, exigir eleições gerais e, nas lutas, irmos construindo uma alternativa de nossa classe, sem patrões. Um governo onde nenhum deputado ganhe mais que um operário qualificado, onde quem elegeu também possa botar pra fora a qualquer hora e onde as decisões sobre o que fazer com o país, os estados e os municípios, sejam tomadas em grandes assembleias, dando a quem trabalha o poder de decidir e onde e como aplicar o dinheiro público.

As nossas famílias estão sofrendo demais com o desemprego na indústria da construção, mas é muito importante sabermos que a previsão é que, agora em 2016, o número de pessoas sem emprego chegue a 9 milhões. Se a gente multiplica isso pelos familiares que, como os nossos, serão atingidos, isso é um desastre, uma injustiça. Não fomos nós que geramos essa crise, não fomos nós que roubamos a Petrobrás. Temos de juntar todo mundo e parar o Brasil numa grande greve geral. As direções dos movimentos, dos sindicatos, até o movimento popular, têm de parar de ficar defendendo um governo que só nos arrebenta. Têm de romper com ele e vir às lutas. Se os dirigentes não fazem isso, a tarefa é organizar por baixo, unificar todo mundo e construir novas ferramentas para as nossas lutas.

Nossas propostas objetivas devem se espalhar pelo país, começando pela exigência de estabilidade no emprego para todos, a redução da jornada de trabalho para 36 horas sem a redução dos salários para que todos trabalhem. Passando ainda pela exigência de um grande plano nacional de obras públicas, de saneamento à moradia, para construção de habitação popular, escolas, creches e hospitais. Para executar esse plano vamos exigir a criação de uma empresa nacional e pública de obras e infraestrutura. Vamos acabar com a farra e a corrupção entre governantes e empreiteiras e botar os corruptos na cadeia.

Temos de exigir também a redução e o congelamento do preço dos alimentos e tarifas públicas; passe-livre no transporte público para nossos filhos estudarem, assim como para os desempregados. É preciso ainda exigir um acordo coletivo nacional que garanta salário, jornada e diretos iguais para todos, em todas as obras do país.

Os governos, a grande mídia, os economistas e todo o “setor” que defende as empresas e os bancos em detrimento da piora nas nossas condições de vidas vão nos provocar, como sempre fazem, com a seguinte pergunta: De onde vem o dinheiro pra fazer tudo isso? Nós os responderemos, em primeiro lugar, denunciando e rechaçando a hipocrisia e a mentira com que tentam nos enganar a vida inteira e, em segundo lugar, vamos demonstrar, mais uma vez, que só o dinheiro desviado na corrupção daria pra alavancar parte dessas iniciativas, mas, vamos também defender que se suspenda imediatamente o pagamento da dívida externa e interna.

Como dissemos, em 2015 o governo destinou o equivalente a 45% do orçamento para o pagamento das dívidas interna e externa. Isso dá algo como R$ 1,3 trilhão! Nossa defesa é, portanto, a defesa do setor da nossa classe, a classe trabalhadora. Isso, óbvio, eles não vão ter acordo, pois só defendem a eles mesmos e aos seus lucros. Nós produzimos toda a riqueza, nós é que temos de usufruir de uma vida digna a partir divisão igualitária dos produtos de nosso trabalho. Os ricos é que devem pagar pela crise!

*Atnágoras é operário da construção civil